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Anabela Mota Ribeiro

São Paulo

17.12.13

Sampa

Transformada em canção de São Paulo, Sampa, de Caetano Veloso, diz quase tudo o que é preciso saber da cidade. Fala dela como grande metrópole, contraditória, lugar frágil, de betão. “Quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi, da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas (…) És o avesso do avesso do avesso do avesso”. Estão disponíveis no youtube incontáveis versões. Além do original de Caetano, ouça a de João Gilberto. Minimal, urbana, exacta. Aprenda a cantar “Alguma coisa acontece no meu coração…”.

 

Fasano

É o mais cosmopolita dos hotéis brasileiros. O Fasano é o tipo de hotel onde se pode encontrar Maria Sharapova no lobby a dar uma entrevista, homens de negócios de diferentes proveniências, estrangeiros dos quatro cantos do mundo (endinheirado), mulheres que chegam com um vestido Valentino para jantar.

A fachada é discreta, de tijolo inglês, e o número de quartos é escasso. A sala de pequeno-almoço parece exígua, se pensarmos no tamanho habitual das salas de pequeno-almoço dos hotéis. Tudo é refinado, de bom gosto. Nada é possidónio.

Os lençóis são do melhor algodão egípcio. Os chinelos de quarto são do criador Osklen. A casa de banho é de mármore, espaçosa, com uma janela imensa – como deviam ser todas as casas de banho. Os móveis são de época e evocam os anos 30. Das suites dos últimos andares obtém-se uma bela vista sobre a cidade. (Espaço médio das suites: 115 m2).

A localização não podia ser melhor: no coração dos Jardins, a dois passos da Bvlgari e da Louis Vuitton. O bar tem uma óptima cantora de jazz americana.

Madonna ficou no Fasano do Rio no último Carnaval.

www.fasano.com.br

 

Lina Bo Bardi

A arquitecta Lina Bo Bardi nasceu em Itália em 1914 e morreu em São Paulo em 1992. Refugiou-se no Brasil do rasto de destruição deixado pela Segunda Guerra Mundial (durante a qual participou na Resistência e militou no Partido Comunista).

Fez do diálogo entre o moderno e o popular uma trave mestra do seu trabalho. Considerava que a “a arquitectura é o espelho da personalidade. Quando você entra na casa de alguém, percebe logo a qual categoria pertence, independente, está claro, de ser rico ou de ser pobre”. A sua casa era de vidro.

A Casa de Vidro, construída em 1951, é um objecto arquitectónico surreal que espreita por entre a mata atlântica. As paredes são de vidro, assentes sobre colunas de betão, e a estrutura parece periclitante. Nela funciona hoje o centro de estudos Lina Bo Bardi. É visitável, se não estiver fechada para obras (o que acontece desde 2006).

Se a Casa de Vidro é a obra singular, quase auto-biográfica, o MASP - Museu de Arte de São Paulo é considerado a sua obra-prima. Em plena Avenida Paulista é uma ode ao modernismo. Data de 1947 e não envelheceu um dia.

www.institutobardi.com.br

  

 

Jardins

Os Jardins é um conjunto de ruas, de arrumação geométrica, onde se concentram algumas das grandes fortunas da América do Sul. Corre a lenda que nos Jardins há mais heliportos do que paragens de autocarro (o que faz sentido, olhando à volta).

As ruas parecem revestidas a passadeira vermelha, as mulheres deslizam sobre Louboutins para tomar um suco detox na loja da esquina. Têm uma sofisticação que está muito para lá da das nova-iorquinas; talvez só em Beverly Hills as mulheres possam vestir assim. As paulistas têm um charme diferente das cariocas. Estão sempre irrepreensíveis. A concentração de malas Louis Vuitton, Chanel, Hermès e de jóias impressiona. Por uma vez, o novo-riquismo assume uma distinção que não tem em mais lado nenhum. As lojas são exclusivíssimas. Há seguranças de fato preto a “patrulharem” as ruas.

Sendo o bairro mais bonito de S. Paulo, nada tem que ver com São Paulo. É um mundo próprio.

 

Céu

Cantora e compositora, é uma certa encarnação de S. Paulo, na sua urbanidade, cosmopolitismo e relação com as raízes. Um exemplo: tem como influências Nina Simone ou Dorival Caymmi, cruza o samba com o hip hop ou o jazz, está entre Sampa e NY. Tudo nela é síntese, e não perde nessa mistura os elementos originais. Considera que o rótulo MPB é insuficiente para resumir o que faz. Fora do Brasil, é considerada uma cantora de jazz. Aos 18 anos estava nos Estados Unidos a arrumar casacos e a servir à mesa. Foi lá que encontrou o produtor do seu primeiro disco, Beto Villares. O disco de estreia, “CéU”, foi um sucesso. O segundo disco, “Vagarosa”, começou por ser lançado nos EUA. Em 2009, a revista Veja considerou-a um dos 100 brasileiros mais influentes. 

www.ceumusic.com

 

 

DASLU

Mais do que uma loja, a Daslu pretende ser (e vender) um “way of life”. Sobre ela, escreveu o jornal francês Figaro: “Vendo de fora, ninguém imagina que se trata da maior boutique sul-americana. Mas o ballet incessante de limusinas e as fileiras de seguranças plantados na entrada lembram ao visitante que ele está chegando ao paraíso”.

É um templo onde é possível comprar uma ilha, um Ferrari, uma viagem à volta do mundo (faz parte do mito…). Também uma mala Chanel, um perfume italiano, o melhor de cada colecção e de cada criador. Ou seja, a Daslu é um sítio onde é possível comprar tudo e ter à mão uma amostra do mundo. Haja dinheiro.

A Daslu transformou-se numa instituição, e nem a prisão da dona (por contrafacção, entre outras irregularidades) diminuiu a sua aura de espaço obrigatório em São Paulo (e no mundo).

www.daslu.com.br

 

 

 

 O que é que São Paulo tem? 10 Coisas que deve fazer

 

- Experimentar os vestidos de noite do criador paulista Carlos Miele. Beyoncé e Eva Longoria são fãs. (www.carlosmiele.com.br)

 

- Conhecer a obra do artista plástico Vik Muniz (nascido em Sampa, vive em NY). A capa do disco dos Tribalistas, feita a chocolate, é dele. A imagem de Monica Vitti delineada por centenas de pequenos diamantes, também. (www.vikmuniz.net)

 

- Frequentar a Livraria Cultura, um espaço imenso, onde pode encontrar literalmente tudo, a dois passos da Avenida Paulista.

 

- Ouvir a revelação da música brasileira, nascida em São Paulo, Maria Gadú. Tem 22 anos, é cantora e compositora, e inseparável do violão. (www.mariagadu.com.br)

 

- Visitar o Museu da Língua Portuguesa. Fica na Estação da Luz, um espaço atravessado diariamente por milhares de pessoas. O seu acervo é o idioma. A partir dele, fazem-se exposições que propõem viagens ao universo de autores de língua portuguesa, como Clarice Lispector ou Machado de Assis. (www.museulinguaportuguesa.org.br)

 

- Ficar “antenado” na S. Paulo Fashion Week. Ninguém falta (Gisele, Isabeli Fontana, Adriana Lima). Sobretudo, é uma amostra do fulgor da moda brasileira. Alguns nomes a reter: Isabella Capeto, Glória Coelho, Maria Bonita, Osklen.

 

- Comer no Figueira, apontado como um dos melhores restaurantes de São Paulo. Deve o seu nome a uma árvore imensa em torno da qual estão dispostas as mesas e cadeiras, na zona exterior do restaurante. Tem uma cobertura de vidro que é removível em dias de bom tempo. A comida tem inspiração mediterrânica. (www.rubaiyat.com.br)

 

- O que é nacional é bom. Vista os jeans de Tufi Duek (www.forum.com.br) e de Ellus (www.ellus.com.br)

 

- Não perca o Museu de Arte Moderna de Oscar Niemeyer. Qualquer exposição que lá esteja será sempre menos interessante do que a obra arquitectónica em si. Que é um modo excessivo de dizer que é uma das obras maiores do arquitecto brasileiro.

 

- Raspar cartão e fazer window shopping no Iguatemi e no Ibirapuera. São centros comerciais onde encontra lojas como Gucci, Louboutin, Santa Maria Novella. Só em São Paulo se imaginam espaços assim. Conte com preços exorbitantes para tudo o que é importação. Se a sua bolsa é menos abonada, espreite a Farm, o Cantão e tudo aquilo que é brasileiro. (www.iguatemisaopaulo.com.br e www.ibirapuera.com.br)

 

 

Publicado originalmente na revista Máxima em 2010