Londres
Fortnum and Mason
Tem a fama de ser o melhor armazém de comida do mundo. Tem 300 anos de história que o comprovam. Que comida? Geleia de pétalas de rosa. Sopa de tartaruga. Caviar Beluga. Cogumelos raros. Manteiga de cognac para acompanhar o Christmas Pudding. Trufas de champanhe. Queijos franceses e italianos.
O Fortnum and Mason é um armazém vitoriano a dois passos da frenética estação de metro de Piccadilly. Os empregados abrem-nos a porta, as passadeiras são vermelhas, o ambiente é selecto. A variedade é imensa. No piso de entrada encontram-se chás e cafés, chocolates e compotas, biscoitos e bolos. No andar de baixo estão a fruta, vinhos de todo o mundo, os chutneys, os peixes fumados, as mostardas. Em cima, serve-se o five o-clock tea com requinte: começa-se por uma flute de champanhe, escolhe-se o chá, e faz-se a degustação de diferentes sandwiches, tarteletes e bombons. O piano acompanha, discreto, ao fundo. Custa, em média, 40 libras, mas é uma experiência inesquecível!
Stella MacCartney toma chá no Fortnum Mason, mas prefere o restaurante St. James (fica uns degraus acima da zona das comidas). A relação dos londrinos com o armazém é antiga e fiel. Churchill comprava aqui o champanhe, Dickens gostava de empadas e carnes frias, Eduardo VIII preferia as compotas. Qual é a nossa preferida? O mais difícil é escolher…
Jo Malone
Um perfume pode não ser, apenas, um perfume. Os Jo Malone funcionam como uma peça de roupa essencial, um sofá preferido no canto da sala – algo de que não se prescinde no dia a dia. “Trata-se de envolver o corpo ou a casa com uma fragrância que acompanha os humores, as fantasias, a individualidade de quem a habita. Há um cheiro que nos acompanha e que persiste. Nas memórias, nas gavetas, nos recantos da casa. As velas potenciam essa singularidade. Funcionam como a música que se ouve ao fundo de um jantar. A sua presença não se impõe, mas o ambiente não seria o mesmo sem ela” – pode ler-se nos prospectos da marca.
As embalagens são sóbrias. As fragrâncias são intensas. As combinações improváveis. A inspiração pode ser um vestido de seda vermelho e o carácter intrigante da romã! – que resultou no Pomegranate Noir.
Mas o mais surpreendente em Jo Malone é a sugestão de combinar dois perfumes, ou duas velas, em permanência. Pretende-se ir ao encontro da personalidade do cliente, do seu cheiro corporal, do seu ritmo diário, do seu gosto. É uma adaptação que cada pessoa pode fazer, com a ajuda das funcionárias da loja, além das sugestões-base. Por exemplo: para um resultado mais fresco, para o dia, a sugestão é misturar o Pomegranate Noir com o Orange Blossom; para um efeito mais quente, de noite, propõe-se uma mistura com Blue Agava & Cacao.
A casa-mãe fica em Mayfair. Vende-se em todos os grandes armazéns.
Borough market
Onde é que o londrino faz as compras da semana? No Borough Market. Um mercado que é, na verdade, uma amostra de mundo. Secular, democrático, cosmopolita. O dia forte é o sábado.
Fica junto à London Bridge, na zona este, mas há quem atravesse a cidade para aí comprar os legumes mais frescos, carne de avestruz, queijos holandeses, sal francês, presunto e carnes espanholas, ameixas de Elvas, mel de todo o lado, raclette, cidra da Normandia, cafés de certa parte de África, massa fresca italiana, pães com azeitonas, alperces, sementes, de diferentes cereais, sabões artesanais, bolos de chocolate como a nossa avó inglesa – se a tivéssemos – faria.
É possível provar quase tudo, porque oferecem pequenos cubos disto e daquilo. Há pequenos restaurantes, há pequenos bares, há filas para hambúrgueres, há smothies deliciosos. Muita gente aproveita para tomar o pequeno-almoço ou almoçar.
Há quem atravesse a cidade simplesmente para ver o espectáculo. Famílias inteiras que vêm ao mercado, casais adeptos da comida biológica, mulheres que parecem tias solteironas; mas, sobretudo, londrinos. Orientais, africanos bem sucedidos, europeus com diferentes cores de cabelo. Ou seja, gente do mundo todo que vive na mais fervilhante capital europeia e exibe o orgulho de fazer parte desta urbe. São os londoners. Não vão a Portobello Road: este mercado fica para os turistas! O Borough continua a ser pertença de quem vive na cidade.
Tate Modern
É um monumento à modernidade. É um dos sítios mais estimulantes do planeta. Porque nos interpela. Porque nos mostra o menos óbvio, e o melhor. Está para Londres como o Pompidou está para Paris e o MoMA está para Nova Iorque.
A Tate Modern não é só a extensão da Tate Britain (uma instituição no panorama museológico inglês) para a arte moderna e contemporânea. É um espaço com identidade própria e uma intensa agenda cultural. O edifício começou por ser uma central eléctrica nas margens do Tamisa; os arquitectos suíços Herzog e de Meuron reconverteram-no em museu em 2000.
A colecção permanente está subdividida em quatro núcleos temáticos e a entrada é gratuita; é possível ver obras de Picasso, Rothko, Louise Bourgeois ou Francis Bacon. As exposições temporárias são dedicadas a artistas consagrados como Hopper ou Frida kahlo ou a artistas menos conhecidos do grande público – como o brasileiro Oiticica ou o espanhol Juan Muñoz; as entradas são pagas, neste caso.
O espaço central, a Turbine Hall, é ocupada por uma instalação mais ou menos inter-activa. Uma das intervenções mais famosas foi um escorrega gigante! A livraria do museu é preciosa e abrange áreas como Artes Plásticas, Fotografia, Cinema, Filosofia, Sociologia. A oferta é criteriosa, irrepreensível. Os cafés são espaços de convívio e intervenção artística. Ao fim de semana, há quem venha aqui como quem vai ao parque.
A direcção artística da Tate Modern é do espanhol Vicente Todolì, que transitou do Museu de Serralves directamente para aqui.
Hampstead
É um bairro e um parque na zona norte de Londres, pouco acima de Camden. É lá que vivem intelectuais como a prémio Nobel da Literatura Doris Lessing ou a pintora portuguesa Paula Rego.
Tem uma rua central, a partir da qual se erguem pequenas casas e se vive num ambiente de aldeia. Há uma mercearia fina que ganha consecutivamente o prémio de melhor do ano. Há uma extensão da famosa livraria Daunt (onde os livros são arrumados por países; por exemplo, na secção Portugal encontra-se Saramago, Fernando Pessoa, guias turísticos, livros de fotografia e de arte portuguesa). Há cafés de esquina onde é possível encontrar a actriz Helena Bonham Carter. Há lojas como a Gap para nos lembrar que a globalização existe. De outro modo, não acreditaríamos que estamos dentro de uma cidade onde vivem dez milhões de pessoas, a seis km do centro.
O parque, o Heath, é maior que todos os parques de Londres. Ao fim de semana fica cheio. Há quem corra, há quem dê caminhadas, há quem alimente os esquilos, há quem dê braçadas no lago quando este não está gelado, há quem brinque com os filhos, há quem passeie carrinhos com os filhos dos outros. No meio deste parque imenso, naquela que era a casa da família proprietária, funciona um restaurante. Com buffet, a preços acessíveis.
Não muito longe, há uma colina da qual se pode ver a cidade: o Parliament Hill. Dali, parecem estar ao alcance da mão o Big Ben, a Roda Gigante, a poluição.
Harvey Nichols/ Liberty/ Selfridges
São os três grandes armazéns onde fazem compras todas as pessoas com estilo (Nota: o Harrods é a meca de milionárias sauditas e russas… As londrinas não compram os jeans Acne ou 7 For All Mankind no Harrods).
O Harvey Nicks – como é chamado – fica a dois passos do Harrods e faz esquina com a exclusivíssima Sloan Street (onde a Prada ou a Chanel têm loja). No piso térreo, como todos os outros armazéns, tem perfumes, cosmética, malas e acessórios. A selecção Balenciaga é poderosa… Nos pisos superiores há primeiras e segundas linhas: Marc Jacobs num piso, Marc by MJ no outro. Há criadores ingleses como Joseph ou Nicole Farhi, francesas como Vanessa Bruno ou Sonia Rykiel. Há um piso para os jeans. Há um piso com roupa para a casa. Há um restaurante debaixo de uma cúpula envidraçada no último piso. A mercearia fina é excelente.
O Liberty fica junto a Oxford Circus, num edifício lindíssimo que vale, só por si, uma visita. A secção de perfumes, velas e cremes é imbatível. Há uma pequena secção com peças vintage onde se encontram Kelly’s da Hermès em estado impecável. A secção Dries van Noten é talvez a melhor da cidade. O bar, recuperado o ano passado, é ideal para uma pausa ao fim da tarde; servem ostras e champanhe. A florista, à entrada, é romântica.
O Selfridges fica numa das pontas de Oxford Street. A selecção de sapatos é de cortar a respiração; ocupa um piso inteiro e vai das jóias raras de Louboutin às criações futuristas da Marni.
Talvez seja o melhor armazém; é, pelo menos, o preferido de modelos e pessoas da moda. Porque tem tudo e a selecção é fabulosa. De consagrados e emergentes. Se quiser encontrar um criador pouco conhecido, mas com dez peças que valem a pena, é provável que este seja o sítio certo. Oferece atendimento personalizado.
Lemon Curd
Uma compota sumptuosa, feita à base de limão e manteiga. Cremosa, talvez a melhor compota do mundo. Experimente em tostas neutras – para melhor sentir o sabor. Também existe na variante Lime Curd – ou seja, com lima. A melhor, consensualmente, é a do Fortnum and Mason. Mas encontram-se em qualquer supermercado.
Agent Provocateur
Lingerie provocantíssima, pecaminosa, irresistível. Sedas que apetece tocar, rendas que sugerem mais do que revelam, laços para atar e desatar. Cuequinhas, soutiens, ligueiros, corpetes, camisas de noite, mascarilhas... Kate Moss emprestava o corpo à marca: era a incarnação da lascívia. Lojas nos bairros mais posh da cidade e nos grandes armazéns.
Mulberry
As malas mais copiadas e desejadas pelas fachion victims são as Chloé e as Marc Jacobs. As malas Mulberry não. São sinal de outro estilo. Nunca passam de moda. São sólidas, chiques, de qualidade superior. São um pouco como os ingleses, quando os ingleses são upper-class.
Custam em média 500 libras e duram uma vida. Vendem-se nos grandes armazéns ou nas lojas da marca. A loja principal fica na rua do Harrods; é requintada, tem artigos em pele para homens e mulheres.
Starbucks versus Nero
É uma questão essencial para os londrinos: é-se do Starbucks ou do Caffè Nero? Há ainda o Costa. Mas a grande disputa é entre os dois primeiros. Cadeias poderosíssimas, instalaram-se em força na cidade. O Starbucks tem uma presença hegemónica em todos os quarteirões. O Nero tem a fama de ter o melhor expresso a oeste de Milão. Há quem se instale nas mesas para ler o jornal ou tomar pequeno-almoço. Mas o habitual é pedir um capuccino e bebê-lo pela rua, no metro, no parque. Com leite magro ou meio-gordo, com cacau ou com canela, pequeno, médio ou grande. Com copo duplo ou cinta, para não queimar os dedos.
Como circular?
O táxi inglês, negro, iconográfico, é uma experiência charmosa que pode arruinar o porta-moedas. A maneira mais prática de circular em Londres é o metro. A rede é eficiente, rápida, e chega a todo o lado. Há autocarros de dois andares a circular por todo o lado – outra experiência. Mas no centro da cidade o trânsito é caótico e é normal ficar parado numa fila. Se ficar muitos dias, compre um Oyster Card – o passe. Senão, há passes diários. Na escada rolante, ceda a esquerda a quem está com pressa.
Onde comer?
O Ping Pong é uma cadeia de restaurantes que servem comida oriental. Encontra-os nos bairros mais frequentados – como Notting Hill ou Oxford Street. Toda a comida é confeccionada no vapor e pode ser classificada como asiática de fusão. Os cocktails são inventivos, alcoólicos e não alcoólicos. Servem um chá com a flor de jasmim: o espectáculo da flor a abrir é encantador. Muito saboroso e nada caro, atendendo aos valores médios praticados em Londres. Cerca de 25 euros por pessoa.
O Food for Thought é o mais carismático vegetariano de Londres. Funciona numa cave da Neal Street, (número 31), junto a Covent Garden. O espaço é exíguo, por isso é normal que as pessoas se sentem nas mesas umas das outras – e não entabulem conversa. Não há serviço de mesa. É um espaço para comer, não é um espaço para estar. As doses são abundantes. Todos os dias há pão com alecrim, paprika ou queijo. Há scones salgados. À sobremesa, há um crumble de banana, morango e requeijão que não se esquece… Baratíssimo.
Onde ficar?
O mais problemático em Londres é o alojamento. Pedem por qualquer hotelzeco uma fortuna. Consideram ser um hotel uma espelunca que em Portugal não passaria da categoria de pensão. Mas não há nada a fazer. Prepare-se para gastar aqui uma parte substancial do orçamento. Os bons hotéis – e há-os fabulosos – podem custar tanto, por dia, como a totalidade da viagem. Se tiver amigos, aproveite e peça para ficar no sofá ou num colchão – nesse caso, não se esqueça de levar os lençóis e toalhas, que é o que os londrinos fazem. Tente organizar-se com a agência de viagens e reserve com antecedência. A cidade está sempre cheia. Experimente modalidades alternativas, como a www.homeholidays.com.
Publicado originalmente na Máxima