Berlim
Berlim loves Art
Berlim é um ponto essencial no panorama da arte contemporânea. Conheça o trabalho de Filipa César, Rui Calçada Bastos, Noé Sendas ou Adriana Molder, alguns dos artistas plásticos portugueses que vivem na cidade (são mais de 20). Porquê esta escolha? Porque Berlim é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo; tão cosmopolita que pode viver anos na cidade sem ter de aprender o alemão; o inglês é usado como língua franca. Outras razões: é mais fácil implementar o trabalho numa cidade com as características de Berlim do que numa babel imensa como Nova Iorque, tem óptimos museus e galerias, é francamente barata. O reconvertido leste de Berlim agrega uma parte significativa destes artistas. Os bairros estão cheios de pequenas galerias e cafés, e por consequência de artistas.
Memorial do Holocausto
São 2700 blocos de pedra que formam um labirinto. À superfície, parecem todos do mesmo tamanho. Mas assim que entramos, percebemos que os tamanhos são desiguais. Parecem pedras tumulares, embora essa não seja a ideia. Nem há nessas pedras qualquer referência aos milhões de judeus que morreram naqueles anos – vozes discordantes criticam o facto de ser um memorial demasiado abstracto...
A ideia do autor, o arquitecto americano Peter Eisenman, é, justamente, que aquilo seja um espaço vivo, e não um túmulo gigante, que homenageia os milhões de vidas que se perderam na Segunda Guerra. Eisenman pensa nele como espaço integrante da vida dos berlinenses. Numa entrevista disse que preferia que fosse usado para encurtar caminho, por exemplo, mais do que “uma experiência sagrada”. A peça assinalou os 60 anos do fim da Guerra.
Mesmo que essa não seja a intenção, atravessar o memorial pode transformar-se numa experiência sagrada. Comovente, pelo menos.
As Asas do Desejo
O maravilhoso filme de Wim Wenders é uma das melhores abordagens à cidade de Berlim. Veja-o antes de ir. Veja-o para conhecer a cidade, mesmo não indo. Realizado dois anos antes da queda do muro, portanto, num tempo em que o Leste era ainda um território inacessível, mostra uma cidade e um tempo que deixou de existir. É interessante perceber o contraste, a reconstrução, a fusão de duas cidades, dois povos, dois mundos num só.
Para sempre, ficam as imagens dos anjos Damiel e Cassiel, de sobretudo comprido, à espreita nos telhados da cidade. Eis um diálogo do filme: “Gostaria de sentir o agora, jogar cartas, ser cumprimentado, nem que fosse com um aceno, chegar a casa cansado, ter febre, ficar com os dedos sujos de ler o jornal. Supor em vez de saber sempre tudo. Comer borrego assado e beber vinho, sentir os pés descalços. Poder dizer “ah, oh”.
Está provado que só é possível filosofar em alemão!
Caetano Veloso tem um verso que diz assim: “Se tiver uma ideia incrível, é melhor fazer uma canção, está provado que só é possível filosofar em alemão”. Como ignorar o monumento colossal que é a cultura alemã? Kant, Nietzsche, Heidegger, Hanna Arendt, Goethe, Günther Grass… Caetano não disse, mas podia dizer que também a música alemã é insuperável. Bach, Beethoven, o maestro Karajan, a cantora Elisabeth Schwarzkopf…
Dois espaços em Berlim evocam esta tradição: a biblioteca estatal, Staatsbibliothek, e a Philarmonie, uma das salas de espectáculos mais famosa do mundo. A Philarmonie é belíssima, a acústica é transcendente, os concertos uma experiência única. A biblioteca não está aberta a turistas, apenas a sócios e estudantes. É uma pena se não conseguir entrar porque o edifício é uma obra ímpar. Tente.
10 coisas a não perder em Berlim
1 - As Birkenstock já foram consideradas as sandálias mais feias do mundo. Hoje, são um objecto de moda apetecível. São ortopédicas, existem em todas as cores, ficam bem com tudo. E são mesmo o calçado mais confortável do mundo. Só é proibido usá-las com meias! www.birkenstock.com
2 - Deixe-se hipnotizar por Nefertiti. O busto está no museu egípcio de Berlim e é alvo de uma velha disputa com o Cairo, que reclama a transferência da peça. A beleza da rainha Nefertiti é indescritível. Como é possível ver mil reproduções e ter uma sensação de assombro quando a vemos ao vivo pela primeira vez?
3 - Visite todos os mercados de rua (sábado é o melhor dia). Vai encontrar vestígios da abertura ao leste, mesmo que tenham passado 20 anos desde a queda do muro: casacos de vison a menos de mil euros, talheres em prata, mobiliário vintage, Bauhaus e não só, em óptimo estado, uma diversidade infindável de medalhas e distinções militares.
4 – Consta que Prenzlauer Berg é o bairro europeu onde nascem mais crianças por ano. Como compreender isto? Olhando em volta e percebendo a qualidade de vida deste bairro, que outrora ficava no espaço leste. A população é sobretudo jovem, os parques infantis e os espaços verdes são constantes, as casas são baratas. Ao sábado, é adorável ver famílias inteiras a passear pelas ruas. A escultora Käthe Kollwitz vivia no bairro. É possível ver algumas das suas obras nos parques de Prenzlauer Berg.
5 - Passear na Unter den Linden. Marlene Dietrich cantou: «Enquanto as tílias continuarem a florir na Unter den Linden, Berlim será sempre Berlim». A avenida, com tílias no corredor central, conduz à Porta de Brandemburgo – zona de fronteira onde se celebrou a queda do Muro. A Linden está para a Berlim Oriental como a Kurfürstendamm está para a Berlim Ocidental: amplas avenidas, um glamour importado de Paris, vida comercial e empresarial intensa.
6 - Entre em todas as lojas Jil Sander que encontrar. São como os alemães: discretos, minimais, de qualidade. Os casacos são especialmente bem cortados. A criadora alemã é uma das referências no mundo da moda. www.jilsander.com
7 - O Reichstag, sede do Parlamento, é talvez o edifício mais visitado de Berlim. A renovação da cúpula, obra de Norman Foster, atrai milhares de visitantes. Não deixe de subir uma rampa espelhada e ver do alto uma boa parte de Berlim. Vai sentir que está dentro de um caleidoscópio. É normal que exista fila, mesmo em dias de chuva e frio.
8 - Entre num autocarro turístico e faça um tour por Berlim. Ficará imediatamente com uma ideia geral da cidade. Perceberá a sua identidade mista, os vestígios de um tempo em que dois mundos não se tocavam, as marcas das balas da Segunda Guerra em algumas fachadas, a reconstrução recente de uma cidade que ficou em escombros. A seguir, descubra-os a pé, em função do programa que organizar.
9- Veja o filme As Vidas dos Outros, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007. Uma amostra exemplar do tempo em que no Leste se espiavam as vidas dos outros. Um outro filme, Alemanha Ano Zero, de Rossellini, dá uma amostra do horror da guerra. Ambos disponíveis em DVD.
10 - Os museus berlinenses são superlativos. Vá a um por dia. Na Gemäldegalerie tem uma colecção soberba, com Ticiano, Vermeer, Caravaggio. A Neue Nationalgalerie foi desenhada por Mies van der Rohe. No PergamonMuseum tem o colossal altar da cidade grega de Pérgamo e as portas da antiga cidade de Babilónia.
Onde ficar
O hotel Radisson Blu é um hotel de cinco estrelas que tem, no hall de entrada, um aquário gigante, um dos maiores da Europa. A visita ao aquário é permitida a não-hóspedes, mediante o pagamento de um bilhete. O elevador sobe e desce dentro do aquário.
O que beber
Ir à Alemanha e não beber cerveja é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa! Em qualquer bar. Com ou sem salsichas. Em Berlim, sabem de maneira diferente…
O que comer
Os brunch de sábado de manhã, em esplanadas de bairro, são deliciosos e acessíveis. Um menu tipo: sumo de laranja quente (é surpreendentemente bom, no Inverno), um prato de três andares com carnes e peixes fumados, queijos, pães de diversos tipos, doces e frutas. Pode custar entre sete e dez euros por pessoa.
Como andar
De metro, autocarro, a pé. A cidade é plana. Os berlineses andam de bicicleta, com os filhos atrás. O táxi é caro, mas não proibitivo. Não se espante se vir cães e bicicletas no autocarro…
Onde comprar
O KaDeWe, situado na zona Oeste de Berlim, é desde há décadas uma catedral do consumo. Mega armazém, tem oito andares, com tudo o que têm os grandes armazéns: roupa, perfumes, mobiliário, etc. O piso da comida é sumptuoso.
Publicado originalmente na revista Máxima