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Anabela Mota Ribeiro

Andrew Bennett (sobre Portugal)

31.07.13

Andrew Bennett é inglês. Vive em Portugal há cerca de 12 anos. É coordenador da Orquestra Nacional do Porto Casa da Música. É geógrafo.

  

 

Poder, dinheiro e influência são, no essencial, a mesma coisa?

Sim e não. Ter poder ou influência pode coincidir com ter dinheiro. A única certeza é que a falta de dinheiro está ligada a uma falta de poder e influência. Concentrar a atenção nas pessoas que têm estas supostas vantagens serve para ignorar a grande maioria da população, que não as tem e não tem possibilidade de alterar a sua posição. 

 

Não há almoços grátis e a canalha vende-se por um prato de lentilhas. Toda a gente tem um preço?

Tenho fraca opinião das pessoas que pensam assim. Talvez a tradição da cunha esteja a diminuir entre os portugueses. Ainda assim, às vezes, encontro pessoas que acham que uma prenda (seja física, seja figurativa) vai influenciar o nosso negócio em comum. Para mim, o resultado é negativo. Pessoas que precisam de pagar para atrair a minha atenção [são aquelas que] não podem ter sucesso baseado simplesmente no mérito.

 

A sua percepção do que é o poder alterou-se desde que vive em Portugal?

Não. Embora Portugal necessariamente tenha as suas características nacionais. O poder é um aspecto da vida humana que se reflecte quase igualmente em todos os países.

 

Quem é que tem poder em Portugal? Os banqueiros, os políticos, os artistas, a construção civil, as pessoas que aparecem na televisão?

As pessoas e as entidades que têm poder em Portugal são sempre internacionais. Algumas são portuguesas em termos de nacionalidade, mas isso não tem grande influência relativamente ao seu comportamento. Os aspectos fundamentais para a vida do país são globais – económicos, políticos e até artísticos. Indivíduos e instituições que somente praticam [a sua actividade] dentro das fronteiras estão sempre sujeitos a decisões tomadas fora do país. As empresas internacionais, os bancos sem fronteiras, os políticos da UE ou ONU, e os media internacionais são os que realmente têm poder em Portugal. Sem mencionar, agora, a Troika!

 

O que é ter uma agenda poderosa? É ter o telemóvel de Fernando Ulrich? É ter andado na escola com o Paulo Portas? É ser convidado por Ricardo Salgado para um almoço na Comporta? É conhecer o primo da mulher do assessor do ministro que manda?

Uma das vantagens de morar e trabalhar fora da capital é ter mais perspectiva. Como em muitos países, Lisboa tem a tendência de achar que é o centro do mundo. Auto-referência raramente contribui para uma perspectiva saudável.

 

Sem falsas modéstias, e partindo do princípio que, pelo menos no nosso quintal, todos temos poder: considera que é uma pessoa poderosa? Em que é que se baseia o seu poder?

O meu quintal do dia-a-dia é uma orquestra. Não toco, nem dirijo. Se eu tiver poder, pode unicamente surgir do respeito dos meus colegas (hierarquicamente superiores e inferiores). Se o sucesso da orquestra dependesse da minha contribuição directa, se não pudesse continuar sem o meu envolvimento, seria uma situação insalubre. Como acontece com a maioria das pessoas que trabalham na área da gestão das artes, a minha ambição é facilitar o trabalho da orquestra em conjunto e com os maestros/artistas convidados, e não atrair atenção sobre o meu trabalho. Em si só, o meu trabalho não deve ser interessante, se comparado com os concertos, as gravações, os projectos educativos, as digressões.

 

“Yes, we can” – Obama. Foi a força das palavras que elegeu o primeiro presidente afro-americano nos Estados Unidos?

Estou a responder a estas perguntas nos Estados Unidos, a terra da oportunidade. A eloquência da retórica de Obama foi um dos factores que resultaram na sua eleição em 2008. Percebendo agora que o seu grande poder não é suficiente para combater os interesses inerentes e intransigentes do mundo económico e político deste país, Obama está consciente do seu pouco espaço de manobra. “Yes, we can” está transformado em “Sorry, I found out we can't”.  Para uma parte significativa dos seus apoiantes há quatro anos a desilusão é considerável, e o único motivo para votar em Obama em 2012 é o medo maior do seu adversário.

 

Assistimos a um divórcio crescente entre os portugueses e a sua elite política e económica. Porque é que acha que os portugueses aceitam uma elite na qual não se revêem?

A situação portuguesa é interessante. Por razões históricas bem conhecidas, a tolerância do povo português – e a antiga aceitação da liderança por pessoas/instituições onde o poder estava especialmente concentrado nas mãos de poucas pessoas – continuou depois da Revolução. Alguns portugueses ainda respeitam pessoas com cargos “importantes”, independentemente da qualidade de liderança. Às vezes ficam à espera de instruções, embora já saibam qual será o melhor caminho a seguir.

 

Essa tolerância de que fala parece existir nos portugueses desde sempre...

A tolerância dos portugueses é uma tradição que vem do passado, mas o mundo está a mudar. Respeito automático para políticos, empresários e outras pessoas com poder está a diminuir. Sem as ligações fortes ao seu público, ou sem instrumentos de controlo, teriam os líderes nacionais capacidade para sobreviver à baixa estima que o seu trabalho merece?

O novo grupo de líderes foi criado sem ter profundas raízes na comunidade. Funcionam na sua esfera de importância e influência, que assumem sem direito nem respeito realmente ganho. Os empresários antigos tinham ligações com a sua comunidade, compreenderam as necessidades do “seu” povo. Isto não pode ser o caso das empresas multinacionais, para quem o Porto é igual a Kansas City, Lisboa a Joanesburgo. Por outro lado, e independentemente dos nomes dos partidos políticos, raramente os políticos vêm de uma povoação ou de um sector da população que responsabiliza os políticos.

 

“O dinheiro não traz a felicidade. Manda buscar.” – Millôr Fernandes. O poder não dá felicidade. Mas manda buscar?

A reportagem recente sobre a infelicidade e espiral descendente de um dos herdeiros da fortuna da TetraPak mostra que, ainda que com muito dinheiro e grande espaço para buscar a felicidade, a vida não funciona assim.

 

Ter poder é poder escolher não ter patrão?

Nem o Rupert Murdoch (o suposto super-poderoso da News International) pôde escapar ao escrutínio do parlamento britânico (na sequência do escândalo das escutas ilegais na imprensa). Os mais poderosos têm menos patrões a quem devem responder, mas também têm mais espaço para cair.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2012

 

 

 

Inês Meneses

31.07.13

É possível ouvi-la na Antena 1, todos os dias, com Júlio Machado Vaz, em O Amor É. Também é possível ouvi-la na Antena 3 com Pedro Boucherie Mendes (Pedro&Inês), “rindo da actualidade…”. Está na Radar (Lisboa 97.8 fm), diariamente e no programa de entrevistas Fala com Ela. Como se isto fosse pouco, escreve e tem uma filha criança. Inês Meneses: o amor é a sua palavra de código.

 

 

O que é que o amor não é?

Tinha pensado imediatamente: “O amor não é mentira”, por ser tão avessa a que me mintam. Mas depois pensei se não haverá matéria que se deva ocultar a bem do amor… O amor não é egoísmo. O amor é um equilíbrio de cedências, e o egoísmo tem de ficar de fora.

 

Na sua adolescência, escreveu uma peça de teatro intitulada: Menos dez minutos de amor. O essencial, não só na sua vida, mas no seu discurso profissional, passa por aqui?

O amor pautou sempre todas as minhas escolhas, na vida profissional também. Tenho um imenso amor pela rádio, sou absolutamente feliz no que faço, e sempre fui atrás do que me fascinava. Sinto-me muito abençoada, ou privilegiada, por só fazer o que gosto e trabalhar com uma total liberdade. Como se fosse um compromisso que estabeleço inconscientemente com aquilo que faço: só fico até ser bom.

 

A rádio, mais do que uma vocação, é uma casa. Quais são os grandes desafios de fazer televisão?

A rádio é o conforto, ainda que me sinta nervosa em cada coisa que faça. É como ir para a cozinha experimentar uma receita nova e ficar expectante com isso. Sinto o risco de cada vez que falo, mas aquele chão, é o meu chão. A televisão é a ausência de chão, é o risco total, é o desconforto da imagem. Mas não tenho nenhum receio que a voz seja desmistificada pela imagem. Custoso na televisão é gerir os campos todos: o tempo, a imagem, a sobriedade, os nervos...

 

O que é a versão televisiva do programa que tem na rádio com Machado Vaz?

No programa da RTP-N, o desafio é continuarmos a ter o que temos na Antena 1 – química. E não deixar que os cinco minutos do guião nos comprometam a conversa. É tentar que a conversa que ali temos seja a conversa que qualquer um de nós pode ter à mesa do café. Sem pretensões, sem rigidez alguma. A mais valia é termos a opinião de um homem tão experiente como o Júlio, que alia tão sabiamente o conhecimento ao humor.

 

Para muitos, é, primeiro que tudo, uma voz. O que é que acha que ela diz de si?

Eu também acho que sou essencialmente uma voz [risos]. E a voz, pode ser muito transparente. A minha diz que sou aparentemente calma, com uma boa dose de perturbação. Essa sou eu…

 

Além da rádio, faz televisão e escreve.

A televisão é um desvio que vem de longe: tive uma primeira experiência aos 20 anos na RTP (no Porto), num magazine ‘juvenil’, em directo. Depois, veio a apresentação do Onda Curta na RTP2, programa ao qual continuo ligada, dando voz. Depois disso, a minha participação no Prazer dos Diabos, inicialmente na SIC Comédia, depois na SIC Mulher, e onde me diverti imenso comentando de forma ligeira os temas da actualidade. A escrita é o universo mais clandestino, mas aquele em que vejo algum futuro. Se conseguir ser mais disciplinada e menos preguiçosa… Escrevo há quase seis anos sob pseudónimo numa publicação semanal. Talvez em breve venha a revelar o meu nome... Tenho muitas histórias, muitas ficções por escrever… A ver se a rádio deixa!

 

 

Publicado originalmente na Máxima