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Anabela Mota Ribeiro

Patrícia Reis (Quest. Proust)

31.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

 

O mais marcante e que molda os dias é o facto de ser mãe de dois rapazes. Existe uma Patrícia antes da maternidade e uma outra depois. Há dias em que tenho saudades da primeira, mas acredito que a segunda é melhor.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

 

O humor aliado à inteligência é um cocktail irresistível.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

 

Na amizade não há golpes baixos e as mulheres, como os homens, não são todas iguais. A resistência é uma qualidade feminina que aprecio cada vez mais.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

 

Na amizade, como no humor, o exercício da verdade é o que mais conta. O resto vem por acréscimo. A beleza não sendo fundamental, ajuda muito.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

 

Não partilho dos defeitos de Proust, talvez por falta de ego. Sou dramaticamente impulsiva e, tantas vezes, cometo erros por falta de tranquilidade.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

 

Estar com o meu marido, escrever, rir e ralhar com os meus filhos.

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

 

A família faz de moldura e no quadro podemos ver um dia de sol, livros para ler, um sítio confortável, um bom vinho tinto, figos com presunto, o mar e um computador paciente.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

 

A pior desgraça seria sobreviver aos meus filhos.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

 

Aos 13 anos gostaria de ter sido uma personagem sedutora de Jorge Amado. Hoje quero apenas tentar ser eu.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

 

O país para viver é vizinho de Espanha, não é muito grande, mas tem uma bela História. Quem cá vive parece não querer perceber como é um sítio maravilhoso.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

 

Agustina Bessa-Luís, Inês Pedrosa, Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa, Mia Couto... e mais umas centenas que não cabem em duas linhas. Para falar só dos preferidos.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

 

Ruy Duarte Carvalho, José Agostinho Baptista, José Tolentino, Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral. É infame passar ao lado destes poetas.

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

 

Corto Maltese. Tem tudo: mistério, sabedoria, cultura, errância, sedução, incompreensão...

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

 

Bach, o pai de todos.

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

 

Graça Morais pela força, pela procura do universo das mulheres e ligação à terra.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

 

Os meus filhos. Aprendo com eles todos os dias.

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

 

De me recordar de momentos maus.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

 

Gostaria de ter a vocação para a tranquilidade.

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

 

Com a consciência tranquila.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

 

Às vezes canso-me de mim. Outras vezes reconheço algum valor. Na maioria das vezes, ando à procura, a ver se não me perco.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

 

Por princípio: todas. Excepção: traições e sucedâneos.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

 

Sou supersticiosa. O meu lema é: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Corro atrás das coisas boas e das minhas gatas quando elas não querem ser apanhadas.




Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

Rui Tavares (Quest. Proust)

30.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

 Curiosidade.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

 Ser leal.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

 Ser aventureira.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

 Sagacidade.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

 Falta-me espírito de sacrifício.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

 Preguiçar.

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

 Estarem todos vivos.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

 Para além das desgraças íntimas, viver sob opressão.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

 Aos 13 anos, provavelmente Indiana Jones ou Chalana. Aos 20 anos, ninguém em concreto.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

 Há vários países reais onde gostaria de viver, e apenas uma vida. Mas gosto do país onde nasci, e de outros ainda.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

 Gogol, Tolstoi, Capek.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

 Pessoa.

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

 Aos treze, Huckleberry Finn ou João Sem Medo. Aos vinte, o barão Cosimo de Rondó de O Barão Trepador, romance de Italo Calvino.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

 Satie, Carlos Paredes, e mais recentemente Andrew Bird.

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

 Rembrandt, certamente. Os mestres minóicos anónimos, talvez. Há muitos outros: Dürer, Altdorfer, Caravaggio e Goya. Dos vivos: James Turrell.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

 Os leitores não os conhecem. São da família.

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

 O combate contra o pensamento.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

 Acima de tudo, invejo os músicos.

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

 O mais tarde possível, de forma rápida e indolor. O resto é irrelevante.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

 Intrigado. Pensar em quem sou intriga-me.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

 Sou condescendente por natureza e opção temperamental.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

 Mais um dia, e não morri.


 

 Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

 

Manuel Villaverde Cabral (Quest. Proust)

29.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

Ele sabia do que estava a falar. Também vou por aí: sou suficientemente vaidoso para dispensar admiração mas demasiado ansioso para dispensar cuidado.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

Duas juntas: integridade e paixão, em todas as circunstâncias e por essa ordem.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

Energia amorosa: se é para morrer, antes como a Anna Karenina do que como a Luísa do «Primo Basílio»…

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

A fraternidade: os amigos não se escolhem; são como irmãos: íntimos, cúmplices, rivais, traidores.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

Vontade fraca, acho que não; dificuldade de entender certas coisas, talvez; com a idade, tornei-me mais impaciente mas julgo que um pouco menos intransigente.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

E não podendo amar 24 horas por dia, 365 dias por ano, pode-se sempre sonhar, viajar, ler, escrever, conversar… tudo substitutos da mesma e única coisa!

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

Ver acima! E nos intervalos, dormir, dormir profundamente, para melhor sonhar e saber assim o que realmente se ama.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

Já alguém aqui deu esta resposta: alguma coisa que possa acontecer a um filho, porque é a subversão da ordem natural das coisas.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

Parafraseando o Borges, com o tempo habituei-me à ideia de ser eu.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

Não sou tão pinga-amor nem tão delicodoce: gosto de objectos que resistem.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

Em português, Guimarães Rosa; noutras línguas, além dos romancistas clássicos (como o próprio Proust…), há os grandes modernistas (Kafka, Joyce) e pós-modernistas (Nabokov). São só exemplos.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

Em Português, Pessoa enche-me as medidas; em Francês, língua em que estudei e vivi, Baudelaire certamente, Rimbaud, René Char; em Inglês, Eliot.

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

Julien Sorel e Anna Karenina: morrem ambos por amor, na realidade, por paixão pela sua própria integridade; ou Fabrice e Clélia, da «Chartreuse», o amor-perfeito: às escuras.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

Wagner com certeza; Beethoven muitas vezes; Schumann ando a «estudar»; os eternos Bach, Mozart, Schubert; Puccini também; e os «modernos», desde o trio vienense e Bartók até Boulez e Stockhausen…

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

Lista infinda desde Piero, Rembrandt, Velázquez, Vermeer, Goya, Manet, Seurat, os construtivistas russos... até Mark Rothko.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

O meu bisavô morto durante a Guerra de Espanha por causa suas convicções, por sinal diferentes das minhas, mas convicções são convicções.

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

Da hipocrisia e da corrupção, sobretudo moral.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

Ouvido musical.

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

Não gostaria.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

Sempre o mesmo: disponível.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

Posso fechar os olhos, mas não esqueço nem perdoo.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

Bem gostava de saber… Correr por correr, gosto de correr, sempre a correr, tudo a correr: é o contra-relógio da vida!

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

 

 



Jorge Silva Melo (Quest. Proust)

28.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

Gostava que fosse a capacidade de admirar. Gosto de ser eu quem ama.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

A disponibilidade. Surgir quando alguém nem sabe que precisa de outro. Como Dean Martin surge sempre que John Wayne precisa, no Rio Bravo.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

A disponibilidade. Surgir quando alguém nem sabe que precisa de outro. Como Angie Dickinson surge sempre que John Wayne precisa, no Rio Bravo.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

A surpresa, a contradição.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

Querer voltar para casa cedo, quando podia ainda ficar com os outros.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

Trabalhar, digo eu.

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

Andar pela rua, sem saber bem para onde, ao deus-dará, como se diz, até os pés doerem e o sol se pôr.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

“No outono descobrir que era o verão a única estação”, disse tão bem o Ruy Belo.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

Em miúdo, ao perguntarem-me o que queria ser em grande, chorava e dizia: “Quero ser filho.”  Mais tarde, corrigi: “Quero ser velho.” Ou seja, teimoso, rezingão, caturra. Exercito-me para isso. Todos os dias.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

Tinha de ser aqui na minha rua. Mas não gostaria de amores sempre correspondidos, parece-me sensaborão. Diria que a minha rua haveria de um dia ficar numa terra onde se conquistam as correspondências, onde se conquista a ternura, também. Sem luta, não queria.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

Agora, ontem, pus-me a ler Colette – e estou encantado, já quase acabei “La Vagabonde” e vou continuar com “Chéri”, que já lá está na mesa de cabeceira. Não será a minha escritora preferida, mas hoje é, com certeza.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

Luiza Neto Jorge, Fiama Hasse Pais Brandão. Cesário.

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

Ficção: o capitão Achab, os protagonistas de Stendhal, ah, o Fabrice del Dongo da Cartuxa de Parma... Figuras históricas: Rosa Luxemburgo, os heterodoxos do comunismo do princípio do século XX.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

Mozart aos meus 13 anos. Mozart, hoje. Verdi quase sempre. E Beethoven. E Joseph Kosma, claro, les feuilles mortes/ se ramassent à la pelle...

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

Ainda há dias estive no Prado e de novo me perdi a olhar Velasquez.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

Os meus actores. Sempre. Os de hoje, os de ontem, aqueles com quem trabalhei, tantos com quem gostava de trabalhar e ainda não chegou a hora, etc, os actores.

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

De ter sono, sono, tanto sono.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

Afinação, para poder cantar, cantar, cantar.

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

Sem dor. Nem minha nem alheia.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

Sonolência, sim.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

As que não noto. Aquelas em que não reparo.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

A vida. Ou seja, a morte. Ou seja, o medo, tanto medo de perder “ a única estação”.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

 

 

 

 

 

Vasco Graça Moura (Quest. Proust)

27.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

Provavelmente, a lealdade.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

A inteligência.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

A inteligência, se possível doublée da beleza. A inversa não é verdadeira.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

A honestidade intelectual, a franqueza e, outra vez, a lealdade.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

Não creio partilhar esses defeitos com Proust. Mas censuro-me um certo egoísmo e um certo comodismo.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

Escrever. Amar, como ocupação favorita, lembra-me sempre aquele epitáfio de um libertino do séc. XVIII: “Je suis mort de l’amour entrepris / Entre les jambes d’une femme, / Bienheureux d’avoir rendu l’âme / Au même lieu où je la pris.”

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

Aquilo a que o Horácio chamava de aurea mediocritas. Uma mediania confortável. Uma vez, o Egito Gonçalves escreveu-me numa dedicatória, “Le bonheur est un sport difficile”. Concordo.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

Ser vítima do terrorismo. Ter um cancro fatal. O mundo evoluiu muito desde Proust…

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

Aos 13, não me importava de ter sido d’Artagnan ou Napoleão. Agora, preferia ter sido Stendhal. Mas também sempre aceitei ser eu mesmo com toda a naturalidade.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

Gosto de viver neste Portugalete, como dizia o outro. Talvez ainda tenha emenda.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

Dante e Petrarca, Shakespeare, Balzac e Stendhal. Proust era muito datado nas suas preferências…

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

Estou de acordo com Baudelaire. Mas, ainda assim, prefiro o Cesário ( costumo dizer que ele escreveu alguns dos melhores versos de Baudelaire), o Camões (que escreveu tudo o que eu nunca conseguirei escrever) e o Drummond (que, depois deles, é um dos maiores poetas da nossa língua).

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

Julien Sorel, Lucien de Rubempré, Gonçalo Mendes Ramires. Mas também aprecio a Princesse de Clèves e não desgosto de Madame de Merteuil.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

Bach, Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, Mendelssohn, ScriabinJá agora, detesto Stockhausen e Boulez. Mas gosto de Edgar Varèse e de Sofia Gubaidolina.

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

Não escolheu mal. Eu escolho Piero della Francesca e Vermeer. Num caso, a perspectiva; no outro, a luz.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

O meu pai, porque me transmitiu o gosto de certos coeficientes da realidade temperados por algum irrealismo. E, simetricamente, J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história contada pelo Carlos Drummond de Andrade, mas acabou por casar com Lili

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

Dos meus melhores defeitos. Quanto aos piores, não se põe a questão de gostar ou não gostar.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

O charme irresistível seria com certeza uma mais valia irrecusável. Mas gostava de conseguir fazer o “Cristo” nas argolas e o “gigante” na barra fixa… Hélas!...

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

Depressa e sem me dar conta. E sem nenhum escritor a pronunciar-se a meu respeito, dizendo umas larachas de circunstância à Lusa e à TSF.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

Normalmente, o do fair play. Menos com o Governo PS. Não consigo…Pessoalmente, não tenho heterónimos e por isso não me maço comigo mesmo.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

As que são susceptíveis de ser corrigidas.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

O meu lema é um verso que, em finais do século XVI, Diogo de Sousa, nas Cortes do Parnaso, aplicou a Sá de Miranda: “Poeta até o embigo, os baixos prosa”. Também gosto do François Villon: “Ne du tout fol, ne du tout sage”. Mas creio que o David Mourão-Ferreira já o fez seu… Não sou absolutamente nada supersticioso. Corro porque estou vivo.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

 

António Pinto Ribeiro (Quest. Proust)

26.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

Curiosidade e disponibilidade.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de "charme feminino"...

Coragem sob sensibilidade.

 

E numa mulher? Ele mencionou "franqueza na amizade" – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

Delicadeza sob frontalidade.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

Sinceridade sob elegância.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

Há dias de enorme e intolerável rigidez.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

Olhar, olhar, olhar.

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

Dias longos cheios de generosidade e melancolia dos trópicos.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: "Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó". Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: "Ser separado da mamã".

Morrer cedo.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: "Eu mesmo", aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

Aos treze anos o Capitão Nemo e agora Eu mesmo.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

Num país que tem como cidades Rio de Janeiro, Hong Kong, Maputo, Lisboa, Nova Iorque, Quioto, Aix en Provence.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

Hoje Proust, Barthes, Philip Roth, Sandor Marai, José Cardoso Pires.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

A lista é enorme: A de Al berto, B de Baudelaire, C de Cummimgs...

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

Sherazade e Scarlet Johnson.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

Maller, Bird, Adriana Calcanhotto... Depende tanto dos dias....

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

Vermeer e Hélio Oiticica.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

Procuro, procuro...

 

"Das minhas piores qualidades", respondeu o escritor da "Recherche" quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

Da mentira: política, profissional, artística.

 

Como gostaria de morrer? "Um homem melhor do que sou, e mais amado".

Sigo Proust na primeira parte: “Um homem melhor do que sou"; e acrescento: “Amando mais".

 

Qual é o seu actual estado de espírito? "Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário". Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

É preciso ter algum pudor...

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

Os detalhes burocráticos. Aliás, dispensava-os.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

Viver intensamente.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010 

 

Jaques Morelenbaum (Quest. Proust)

25.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

 

Não posso lembrar de nada melhor que ser amado e cuidado para eleger como característica mais identificadora.

 

Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...

 

A nobreza de ideias e intenções.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

 

A beleza.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

 

Mais uma vez Proust convence-me com impressionante facilidade de que “sabe das coisas”...

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

 

Completamente. A preguiça? Se isto é defeito...

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

 

Como discordar sem estar a enganar-me? Mas poderia acrescentar: ter os pés no chão, admirar a natureza, colher uma fruta do pé, ou até coisas banais como uma sessão de massagens, ou um passeio de bicicleta.

 

Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?

 

Todo o conjunto contido em minha resposta anterior, e mais, muito mais.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

 

Confesso que após muitos minutos a pensar no que seria mais sincero de minha parte ao responder esta pergunta, e resolvendo ser mais imediatista, poderia responder que minha maior desgraça seria a obrigação de responder a esta desagradável pergunta!

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

 

Aos 13 poderia citar: 1º um astronauta qualquer, desde que me fosse dada a chance de pisar na Lua. 2º. Paul MacCartney. 3º. George Martin. E agora? Eu mesmo. Mais jovem, mais magro, mais maduro, mais esperto, mais corajoso, dotado de uma capacidade muito maior de memorizar e perpetuar em mim todas as experiências vividas.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

 

Existe, fica na America do Sul, banhado pelo Atlântico, voltado para a África, foi colonizado por portuguêses, salvou os Morelenbaum de seu total desaparecimento[a família é de origem polaca e fugiu para o Brasil no advento da Segunda Guerra].

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

 

Guimarães Rosa, Luiz Fernando Veríssimo, os que me encontro no momento a degustar, parodiando Proust.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

 

Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa...

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

 

Aos 13, Super-Homem. Aos 53, estou mais interessado na realidade, já que dela resta-me tão pouco (apesar de pretender chegar aos 100...).

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

 

Não sei se tenho discernimento suficiente para dizer um nome. Posso iniciar minha lista assim: Antonio Carlos Jobim, Brahms, Ravell, Villa Lobos... e posso seguir para sempre.

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

 

Van Gogh.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

 

Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Miles Davis, Claus Ogermann, Pablo Casals.

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

 

Da mentira.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

 

Poder cantar com minha própria voz – e gostar!

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

 

Não gostaria...

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

 

Feliz por estar vivo.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

 

Sou supersticioso, sim, embora o deseje negar, mas não chego ao ponto de ter que omitir que desejo amar e entregar-me. Correr? No sentido literal: a determinação em manter-me muito vivo. Fugir? Da preguiça.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010

 

 

 

 

 

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