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Anabela Mota Ribeiro

Candida Höfer

12.06.14

As suas imagens são silenciosas. Nunca se ouve o barulho das pessoas nem a desordem que criam. Porquê?

Os espaços falam, são simplesmente assim...

 

Ao mesmo tempo são tremendamente teatrais, quase operáticas. Você consegue esta opulência mesmo no ambiente mais simples. Como é que o faz?

Com a luz.

 

Às vezes, parece que a acção vai começar a qualquer minuto. Tudo está pronto para a contagem final. A história, o enredo são determinados pelo espectador?

Uma vez mais, os espaços falam, tudo o resto é projecção.

 

Se as pessoas são como edifícios, então devem ser desorganizadas no seu interior! Mas os seus interiores são organizados...

Sim, parece haver bastante ordem neles.

 

Pode explicar o seu fascínio por interiores? Não lhe apetece representar exteriores?

Pessoalmente, acho os exteriores difíceis de serem fotografados.

 

Porque é que retrata espaços públicos e não os familiares ou domésticos?

Porque são muito íntimos.

 

Rigor, elegância, linhas depuradas e disciplina são palavras normalmente utilizadas quando se fala do seu trabalho. A relação com a arquitectura é essencial para si?

Uma coisa não está sempre necessariamente ligada à outra. Mas sim, gosto de espaços construídos.

 

Passou algum tempo em Portugal para fazer esta série tão forte. Como escolheu os locais?

Da maneira habitual: lendo, perguntando aos amigos e procurando por mim mesma.

 

O que há em comum entre locais tão diferentes como os Jerónimos ou a Casa da Música? Aparentemente nada… Procurou a heterogeneidade acima de tudo?

Achei-os ambos em Portugal. Acho que isso diz alguma coisa sobre Portugal, não lhe parece?

 

Ouvi muitos portugueses dizerem que nunca pensaram que esses lugares fossem tão bonitos quanto as fotografias mostraram...

Há sempre uma diferença entre a imagem e o que chamamos de realidade. Às vezes as pessoas esquecem-se disso quando se deparam com o “medium” fotográfico. Trata-se de um mal entendido histórico sobre este “medium”.

 

Uma das fotos mais inusitadas é aquela em Mafra, com os veados empalhados nas paredes. Para mim representam o elemento morte... Foi essa a sua intenção? Provavelmente é a única foto em que vejo isso. Noutras encontro tragédia.

Eles estavam lá, faziam parte daquele espaço. Tragédia? Não sei. Tragédia é sempre a busca consciente da falha e a sua aceitação, não é? Acho que é mais como uma comédia: vemos algumas contradições onde os seus criadores nem as suspeitaram.

 

A disposição da luz, da mobília e dos objectos indicam uma "mise en scène". Acha que é uma espécie de encenadora teatral?

Não enquanto estou a fotografar, mas talvez quando estou a criar a imagem a partir da fotografia.

 

 

A acompanhar uma exposição da artista no CAV em 2008

 

 

 

Um abraço (a desempregados)

12.06.14

Acho que nunca estive desempregada, mas acho que sei o que é não ter emprego.

Sei muito bem, pelo menos, o que é a precariedade, o trabalhar no fio. Há anos que trabalho sem a certeza do mês seguinte e com a certeza do seguinte: se adoecer, não trabalho e não ganho.

Felizmente tenho tido saúde. É melhor não pensar como será quando tiver 70 anos.

Tenho, como todos, pessoas muito próximas sem trabalho, com trabalho precário, destroçadas, a caminho sabe-se lá de onde, nas suas cabeças e fora delas. Não queria falar com ligeireza de uma das duas coisas que mais me doem no país: o desemprego. A outra é a fome. Outro patamar.

Mas queria deixar um abraço.