Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…
Os presentes de Natal que não esqueço são livros do Tintim e do Astérix, discos dos Beatles de 45 rotações com quatro canções novas cada e uma bola de futebol a sério, de caoutchouc.
Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)
O Bush cair num monte de esterco e as pessoas não saberem distingui-lo do monte – a substância é a mesma. Aí, o Bin Laden, o Hamas, os neo-cons, os racistas e os fundamentalistas de toda a espécie precipitam-se para ver e, coitados, acontece-lhes o mesmo! Então, a Humanidade toda, dos paisanos aos políticos e aos comentadores, promete (para cumprir) que deixará de ser burra.
Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?
Por muito que goste de Veneza, não me apetecia passar o Natal sem ser em família. Não seria ousar, seria desperdiçar.
Um Natal celebrado em família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?
Ciúmes e impiedades são horrores, cobiça sexual não é, nem mesmo no Natal. O Woody Allen até uma ceia sabe encenar bem.
Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?
Calor apesar do frio lá fora, amor, matar saudades, presentes que foram escolhidos com carinho e não por dever, as crianças encantadas, vinho tinto bom e bacalhau alto. Falta a varinha mágica para fazer voltar os que partiram.
Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?
Gosto de fazer eu o presépio e ofereço-o à minha mulher, aos meus filhos, aos amigos que nos visitam e aos filhos deles.
“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?
Estrelas. Menino Jesus. Presentes à meia-noite; mas convém que não seja demasiado depressa, tipo maratona, anuncia, desembrulha, agradece, desembrulha outra vez...
No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?
Não me lembro de listas - não há nada melhor do que uma boa surpresa.
“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?
Às vezes mudamos de vida em meia hora; mas é sem querer.
O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?
O pior é não acreditar que podemos mudar alguma coisa. E a minha sogra é um encanto!
Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?
Em 2007, fiquei mais magro e arranjei mais tempo para os filhos... ser despedido tem essas vantagens! Agora, prometo a mim próprio trabalhar, pelo menos trinta horas por semana...
Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?
Se a secretária fosse a Laetitia, nem o trabalho avançava nem a minha mulher ficava contente; se, por azar, fosse a Laetitia e fosse casta, sofria eu... Não me arranjam um presente menos complicado?!
Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007