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Anabela Mota Ribeiro

Quest. Natal - António Jorge Gonçalves

23.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

O livro “Astérix nos Jogos Olímpicos”, devia ter uns 8 anos. Ficaram-me para sempre na memória os mentirosos de língua azul.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Fraldas nos cães da minha rua.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Já passei um Natal numa praia surfista australiana e outro em areias da Bahia. Agora só faltava mesmo uma ilha, tipo-Gauguin, algures na Polinésia.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Ainda receber como presente um par de meias brancas com raquetes.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

Várias garrafas de Água das Pedras e uma caixa de sais ENO.

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Desde há vários anos que manufacturo todas as minhas prendas. O ano passado foram desenhos animados feitos em blocos de Post-it.

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

“Eduardo Mãos de Tesoura”, de Tim Burton, depois de ter acabado a maratona familiar.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

É difícil lembrar, mas acho que incluía um carro dos bombeiros de folha.

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

Em minha casa aquilo que coincide com as Festas são: depressões familiares, divórcios, solidariedadezinhas, e também muitos telefonemas, sms e correio de gente que nunca me liga durante o ano.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

O pior de começar o ano é ter de gramar o Inverno antes de começar a Primavera.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

“Planos são aquilo que faz Deus rir”, alguém disse.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Uma história nova para contar a meias com o Rui Zink, agora que o nosso menino-livro deixou a casa dos pais…

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007

 

 

 

Quest. Natal - Nuno Azevedo

22.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

 

Um relógio, no final da minha licenciatura, que ainda uso diariamente.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

 

Que o Sol faça sempre parte da vida dos meus filhos.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

 

Não vejo a celebração do Natal fora da família como uma ousadia. Levar a família a passar o Natal em Veneza, vaguear pela noite dentro num labirinto de canais deserto, isso sim, seria uma ousadia. E não faz parte do inimaginável.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

 

Para ser sincero, não me parece alguma vez ter feito parte desse filme…Lembro-me, vagamente, que no pós 25 de Abril nem as rabanadas ajudavam a aproximar diferenças.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

 

No passado: uma lareira na noite fria, os meus avôs, as visitas ao longo do dia e um jogo de “quino” no final da noite. Hoje em dia: a brisa das noites quentes da Bahia, os meus filhos, o lado de lá do equador com o insuprível desajuste do imaginário natalício.

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

 

Um retrato da minha vida para oferecer à minha mãe.

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

 

Bergman, Dickens, Pai Natal, depois da ceia.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

 

Já não me lembro. Aliás, nem sei se alguma vez fiz uma lista de presentes.

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

 

Já mudei várias vezes de vida, nunca o consegui fazer tão rápido… talvez numa passagem de ano.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

 

O pior é mesmo ter que cumprir as promessas.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

 

Já. Para 2008: deixar de fumar.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

 

Deixar de fumar.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007

 

 

Quest. Natal - Joana Carneiro

21.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

Não me lembro de um presente material de preferência… O melhor presente é estar com a minha Família no jantar de consoada. É o único dia do ano em que há a garantia de todos os irmãos (e respectivos) estarem juntos.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Paz, Amor e Saúde não contam... isso dificulta a resposta. Nesse caso, mais tempo com a minha Família.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Não digo radicalmente que não…, mas a verdade é que o Natal é sinónimo de Família. Um momento espiritualmente elevado passado com aqueles que mais significam para mim. Irei com entusiasmo ao mercado de Rialto em muitas outras alturas do ano.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Horrores, até a data, felizmente nenhuns. No entanto, devo confessar que é uma altura conturbada: são muitas as ocasiões sociais que frequentamos e nem sempre é fácil manter o espírito que queremos.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

  1. O momento em que nos sentamos à mesa para jantar o delicioso bacalhau cozinhado pela minha Mãe.
  2. Ao longo das nossas vidas, a nossa Mãe sempre nos pediu para fazermos uma peça de Natal. Só muito mais tarde compreendi o seu objectivo: que oferecêssemos – os irmãos - qualquer coisa aos outros – restante Família. Lembrando em retrospectiva as várias performances, admito que foram momentos únicos, imagens de um verdadeiro Lar.

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Infelizmente ainda não encontrei um talento assim. Invejo o facto de a minha Mãe fazer uma ginginha extraordinária que oferece no Natal; o facto de a minha irmã Teresa desenhar e pintar incrivelmente – por isso temos todos direito a receber o seu talento tantas vezes. Talvez não me importasse de ter a vocação e a capacidade de compôr música para oferecer à minha Família e amigos.

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

“Do céu caiu uma estrela”, os personagens de Dickens, Menino Jesus, abrir presentes depois da Ceia com a minha Família e no dia 25 com a Família do meu marido.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

Nunca escrevi uma lista. Se escrevesse, definitivamente pediria mais tempo.

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

Sim, já pensei em mudar a minha vida muitas vezes em meia hora, num minuto até. Durante as Festas não penso tanto nisso: estou em família e esqueço com facilidade a minha outra vida.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

Tenho uma sogra fantástica e quero muito que continue por perto durante muito tempo. Se tenho rivais, não os conheço e nunca penso negativamente no que me rodeia. A palavra “medíocre” não entra com frequência no meu vocabulário. Infelizmente, estou sempre a fazer dieta, por isso nada muda por começar o ano.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

O meu Pai teve, há anos, a fantástica ideia de criar um quadro em que todos escrevemos os nossos objectivos, a curto, médio e longo prazo. A passagem de ano é a altura em que nos traz o dito ficheiro para recordarmos esse momento, reflectirmos onde estamos e para onde queremos ir, com muitas gargalhadas pelo meio – quando somos confrontados com a impossibilidade de certas ideias – e muitos sorrisos de satisfação – quando percebemos que realizámos muitos desses objectivos. A verdade é que já cumpri algumas dessas resoluções.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Uma vida nova, não. Tenho tido uma sorte extraordinária ao longo dos meus 31 anos; a Felicidade tem tocado com abundante generosidade a minha vida pessoal e profissional. Uma vida nova, não, mas mais atenta ao que realmente é importante para mim.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007

Quest. Natal - Nuno Júdice

20.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

Foi «O ceptro de Otokar», pelo exotismo daquela ditadura caricatural. Quando recebi o livro em criança, fez-me viajar para uma Sildávia que continua a ter cópias mais ou menos trágicas por esse mundo fora. Ou por causa da Bianca Castafiore – a mulher que me afastou da ópera até a Mara Zampieri me ter reconvertido, ao ponto de já ir no segundo libreto (o primeiro à volta de Orfeu, o segundo sobre um D. João que faz empalidecer Mefistófeles). Hoje até há um suplemento de prazer no título por causa do p do ceptro, que em breve irá cair das mãos do Otokar com o novo acordo ortográfico.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Tirem-me da frente a televisão, não me tapem o mundo.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Não, nunca fui grande apreciador de Veneza desde que, num 25 de Dezembro nos anos 80, desembarquei de um vaporetto à chuva na praça de S. Marcos. E andar de gôndola, só se for com os ouvidos tapados para não ter de ouvir a cantoria dos gondoleiros. Prefiro a memória dos passeios de barco no lago do saudoso jardim do Campo Grande, aí nos anos 60, com uma ou outra associativa mais romântica, com a diferença de que nos canais o enjoo dura mais tempo e vamos ficar nas câmaras digitais dos milhares de japoneses que se penduram nas pontes para fixar cenas típicas.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Nunca contei horrores! Não sou Dostoievsky nem um gótico inglês do século XIX.  

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

Hoje, uma árvore de Natal (até pode ser de plástico, comprada numa loja chinesa) com presentes; dantes, a lembrança dos natais na minha aldeia do Algarve com alguidares cheios de filhós e de pastéis de batata doce, figos cheios e estrelas de figo e amêndoa, e o peru a ser degolado lentamente, depois de embebedado com aguardente de medronho (ainda não havia Asae nem Bruxelas para higienizar as festas).

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Não tenho muito jeito de mãos para fazer presentes, mas vou fazendo livros manuscritos – cada um faz aquilo que pode –para encher a minha arca; e um dia serão o presente dos investigadores que vão ficar desempregados quando a arca do Pessoa se esgotar. Mas como cada vez saem mais coisas dessa bendita arca, ainda temos para muitas décadas de inéditos – o que significa que esses meus presentes ficarão para o século XXII.

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

Se os presentes fossem esses, o ideal seria mantê-los fechados, por muito respeito que tenha pelo Capra e pelo Bergman. Quanto à abertura, prefiro que seja depois da Ceia. Abrir presentes de manhã põe questões demasiado difíceis do ponto de vista intelectual: antes ou depois do banho? Em jejum ou a seguir ao pequeno almoço? E se há quem se levante tarde, teremos de esperar pelo fim da manhã? Por falar em fim, a menina dos fósforos acabou, substituída pela menina do isqueiro, que tem de ir para a rua fumar porque no pub é proibido – e se o Dickens vivesse hoje, era sobre essas pobres jovens decotadas que têm de ir fumar para o frio da noite que escreveria o seu «Christmas Carol».

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

Que me lembre, nunca fiz listas de presentes. Mas se fizesse, podia ter dito:

«Dá-me o que não é para ser dado porque,

quando se descobre o que é dado

no que é dado sem ser esperado,

fica-se com o dado sem ser obrigado.»

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

Mudar a vida, transformar o mundo, lembra-me qualquer coisa. Mas se me derem meia hora para isso, é o tempo suficiente para me cansar da coisa. Ou se muda logo, ou não se muda. Mas a questão põe outros problemas: será que a porta da Adriana está aberta ou tenho de tocar à campainha? E se lhe disser, com o meu sotaque português, «ador’te», em vez do sonoro brasileiro «têadóró!» será que ela entende ou vai gritar: «O quê, minino, que está dizendo?» E não dá mesmo para repetir. Como não quero voltar a sair por onde entrei a detestar a Adriana por causa dessa situação, não é ela que fará com que eu mude a minha vida.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

Sendo camoniano, estou sempre a ver a mudança, mesmo naquilo que permanece. E não vejo que a saison me vá estragar seja o que for, a não ser a carteira por causa dos presentes. Não deixa de ser interessante associar as sogras a rivais e medíocres! Terei de ir ao Freud para encontrar uma justificação; mas, pondo a sogra de lado, rivais e medíocres é uma parte integrante da fauna portuguesa, pelo que talvez se possa abrir uma época especial de caça a tão refinados animais.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

Tal como me lembro pouco do que fiz, também não me lembro de nada do que irei fazer. Uma coisa é certa: não vou fazer dieta, não vou deixar de fumar, e quanto aos filhos (trabalho oblige) eles é que terão de inventar mais tempo para mim. Também não vou cumprir resoluções, mas tenho planos para 2008 para me poder dar ao luxo de não os cumprir, e de fazer aquilo que não estava programado, que é sempre o mais agradável.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Tenho um carro que nunca mais acaba, o que tem o inconveniente de não me obrigar a trocá-lo; gosto do emprego que tenho, o que significa que não estou candidato a ministro da Cultura; sou conservador em matéria de coxas, e também de manetas; se o Chico Buarque viesse para a minha rua era mais um automóvel a tirar um lugar de estacionamento; quanto à Laetitia, se é casta não lhe toco, dado pertencer a uma casta em vias de extinção – e ainda teria os ecologistas à perna por causa da perna leticial.

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007

Quest. Natal - José Avillez

19.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

Um canivete suíço quando tinha dez anos. Fazia barcos com a casca das árvores.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Com estas limitações, não deixo de assumir que pediria, paz, saúde e amor... Também gostaria que me saíssem da frente do sol... Mas se tenho de dizer algo mais, que tal um cliente satisfeito por um grande prato que lhe tenha servido?

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Já andei por Veneza noutras épocas e noutras festas. O Natal, passo em família, mas já o passei em viagem. Felizmente permito-me essas e outras ousadias.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Felizmente são Natais tranquilos sem grandes horrores... Uma ou outra surpresa, uma ou outra fofoca.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

A cozinha, a mesa bem posta, os risos das crianças, os versos do avô, a família, as memórias e as saudades...

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Já ofereci um presépio esculpido por mim, em pedra, aos meus avós. Hoje seria um cozinhado; tenho alguns candidatos: a minha família, amigos e namorada.  

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

“Do céu caiu uma estrela”, A Menina dos fósforos, o Menino Jesus, depois da ceia.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

Nunca fui muito de listas, sempre liguei pouco a presentes. A emoção do natal, enquanto criança, já eram as comidas, os primos mais velhos e as brincadeiras em casa das tias.

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

A minha vida quase sempre mudou em meia hora. As decisões importantes tomam-se rápido. Infelizmente o tempo obrigatório de reflexão está sempre limitado. Este barco não espera.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

Que nada mudou – se estiver mau no ano anterior.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

Inventar tempo para descansar, trabalhar menos e ter mais tempo para as pessoas que me rodeiam. Talvez tirar umas férias, já não tenho há três anos.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Claramente a secretária parecida com a Laetitia Casta!

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007 

 

Quest. Natal - Camané

18.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

Um comboio, quando tinha sete anos.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: "Quero que saias da frente porque me tapas o sol…".

Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Conseguir ser mais organizado e lidar melhor com o stress.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Poderia, mas penso que escolheria  passá-lo com a família. Pelo menos nesta altura da minha vida, por não poder estar com eles muitas vezes durante o ano.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Não houve nenhum específico, mas acontece quase sempre ter de ir à bomba de gasolina tomar café por já não ter paciência para ouvir os meus irmãos e a família toda a falar ao mesmo tempo. Mas, no fundo, acho piada.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

É um lar quando me sinto em casa, seja em casa do meu irmão Hélder ou em casa dos meus pais. Ou quando passava o Natal em casa dos meus avós.

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Escrever um poema, para oferecer à família. Mas como não sou capaz, fico-me por tentar encontrar o presente certo para cada um.

 

"Do céu caiu uma estrela", de Capra, ou "Fanny e Alexander", de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

"Do céu caiu uma estrela"; as personagens de Dickens; Pai Natal; depois da Ceia.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

Uma viagem, que acabei mesmo por fazer.

 

"Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida", canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

Já quis mudar muitas vezes a minha vida em cinco minutos. Muitas dessas vezes, coincidiu com as Festas.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

O pior de começar o ano talvez seja perceber que ficou tudo na mesma. Ao mesmo tempo, há um lado bom, que é ter esperança e fé de que se vai melhorar e construir qualquer coisa de novo e diferente.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

Já cumpri algumas. Em 2008 quero fazer exercício físico, tentar deixar de fumar e ser mais organizado.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Acabar de gravar o meu disco, no princípio do ano que vem. Para acabar com esta angústia.

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007

 

Quest. Natal - Nuno Markl

18.12.14

Qual o presente que mais gostou de receber? A Pipi das Meias Altas, uma gravata Hermès, Dinky Toys? João Talone indicou um lanche com o Avô quando aprendeu a ler…

Nos anos 70, um kit com o armamento de Vickie, o Viking: capacete e espada. Adorava andar com o capacete até começarem a gozar comigo por causa dos cornos. Nos anos 80, um daqueles “ghettoblasters” que misturavam rádio com leitor de cassetes. Juntamente com o aparelho, vinha a cassete dupla “Jackpot 85”. Abria com o “A View to a Kill” dos Duran Duran. Um espectáculo. Para momentos mais contemplativos, tinha lá o “Lavender” dos Marillion, que julguei que iria facilitar o meu sucesso com o sexo oposto; mas não me lembro de ter ouvido o “Lavender” sem estar sozinho.

 

Alexandre, o Grande, disse a Diógenes Laércio que este lhe podia pedir o que quisesse… Mas o filósofo respondeu apenas: “Quero que saias da frente porque me tapas o sol…”. Se lhe fosse dado a escolher o que quisesse, o que seria? (Paz, Amor e Saúde não contam!!)

Escolhia, em 2008, finalmente, conseguir escrever uma ficção cómica para televisão. Com meios, tempo e um cuidado de produção que me deixasse a pensar que depois daquilo podia não fazer mais nada. Portugal precisava de uma série tipo “Extras” e adorava escrever uma coisa dessas. Mas desconfio que não vou ter sorte nenhuma, embora a esperança seja a última a morrer.

 

Um Natal celebrado fora da família: compras para a ceia no mercado de Rialto, um passeio de gôndola ao cair da noite, o labirinto de ruas e canais por uma vez deserto. Poderia permitir-se esta ousadia?

Sempre celebrei os meus Natais dentro da família. Eventualmente, um dia, farei uma loucura dessas. Mas a celebrar o Natal fora, nunca seguiria os passos do tuga ávido por climas tropicais. Não, ia à procura de ainda mais frio. Ou ia para o “countryside” inglês. Ou então partia à descoberta da Islândia – desde que vi o “Heima” dos Sigur Rós senti uma empatia incrível com essas terras gélidas e fantásticas.

 

Um Natal celebrado em Família: os ciúmes entre irmãos que confirmam Abel e Caim, a cobiça sexual da cunhada como num filme de Woody Allen, os familiares que cobram os divórcios e os fracassos com impiedade. O Natal pode ser uma interminável lista de horrores. Que horrores pode contar?

Gostava de ter uma dessas histórias, mas os meus Natais familiares sempre foram pacatos e harmoniosos. O mais próximo de um horror que me ocorre são as malditas fatias paridas. Não posso com elas.

 

Outro Natal celebrado em família: a cozinha cheia de aromas, a caminhada até à missa do Galo, a excitação das crianças e dos presentes. «A vulgaridade é um lar», dizia Pessoa… O que é que no Natal é para si um lar?

A casa da minha mãe é um lar natalício. Foi o cenário de toneladas de Natais cheios dessas pequenas e saborosas vulgaridades. Rever o “Do Céu Caiu Uma Estrela”, do Capra, dá-me uma sensação de lar, mesmo que o apanhe num qualquer canal num hotel no estrangeiro.

 

Maria de Lourdes Modesto gosta de fazer um bolo inglês para uma pessoa querida. Júlio Machado Vaz ofereceu uma página do seu diário a Eugénio de Andrade. Que presente gostaria de fazer com as suas mãos? Para oferecer a quem?

Gostava de fazer uma incrível sinopse de um programa cómico e enviá-la ao Jerry Seinfeld. É claro que é um presente um bocado interesseiro, mas no fundo todos o são, não é? Quando não queremos que um grande ídolo da comédia nos compre uma ideia, queremos que a pessoa a quem damos o presente, no fundo, goste de nós. Oferecer uma coisa a alguém tem sempre um lado de compra de afecto, o que, dito assim, parece um bocado sinistro… Mas é bonito. Acreditem.

 

“Do céu caiu uma estrela”, de Capra, ou “Fanny e Alexander”, de Bergman? A Menina dos Fósforos ou os personagens de Dickens? Pai Natal ou Menino Jesus? Abrir os presentes depois da Ceia ou na manhã de 25?

Sem hesitar: o Capra; o Dickens; o Pai Natal. E abrir os presentes, depois da Ceia. Em criança, haver uma noite em que nos é permitido estar acordados até horas impróprias e, ainda por cima, receber brinquedos, é uma experiência em cujas doses de magia pouca gente pensa. Quando tiver filhos, é este o método que vou seguir. As manhãs são para investigar com cuidado e critério os brinquedos com cujo potencial se passou a noite a sonhar.

 

No Natal, as crianças escrevem intermináveis listas de presentes que gostariam de receber. O que constava da última lista que escreveu?

Paz no mundo. Não, estava a gozar. Não tenho escrito listas dignas desse nome nos últimos anos, mas se me permitirem dar uma saltada à minha última lista de jovem moço, creio que estava lá o Castelo Grayskull dos Masters do Universo. Não o recebi. Paciência!

 

“Entre por essa porta agora, e diga que me adora, você tem meia hora para mudar a minha vida”, canta Adriana Calcanhotto. Já esteve a pontos de mudar a sua vida em meia hora? E por acaso isso coincidiu com as Festas?

O casamento pode ser considerado uma mudança de vida e o meu coincidiu com as festas, foi no dia 23 de Dezembro. Mas foi planeado, por isso suponho que não conte. Eu, no que toca a mudanças de vida de meia-hora, faço por que não coincidam com as Festas. Chego ao fim de cada ano tão avassaladoramente cansado que só quero enterrar-me no sofá mais próximo a rever “Do Céu Caiu Uma Estrela”.

 

O pior de começar o ano é: perceber que nada mudou? Ter de fazer uma dieta drástica para combater os estragos da saison? Perceber que a sogra, o rival e o medíocre continuam por perto?

O pior de começar o ano é, quando se é anfitrião de um reveillon, como já fui alguns anos, constatar que a casa está num estado lastimoso e que há estalactites de champanhe no tecto, entre outras coisas demasiado embaraçosas para aqui serem narradas. De resto, vejo sempre os princípios de ano com um inabalável optimismo, mesmo que, eventualmente, 99% dos planos me saiam furados. Mas tudo bem.

 

Ficar mais magro, deixar de fumar, inventar mais tempo para os filhos… As resoluções de Ano Novo entraram no anedotário universal! Já alguma vez cumpriu alguma? Quais são as fazíveis para 2008?

Já fui cumprindo várias, ao longo dos tempos. Em 2008 vou mesmo ter de assumir a resolução “ficar mais magro”. Estou pançudo e não particularmente em forma. E sei que há personal trainers em certos e determinados ginásios para quem a ideia de me porem mais magro e bem disposto é um desafio épico e aliciante! Desta vez, acho que não escapo.

 

Para o ano novo vinha mesmo a calhar: um carro novo, um emprego novo, umas coxas novas, o Chico Buarque a morar no bairro, uma secretária parecida com a Laetitia Casta? Uma vida nova?

Tenho 36 anos de idade, 12 a viver do humor e sinto a falta de criar aquela série. A mais pessoal, a que fique para a História. Ao mesmo tempo, quero trabalhar menos e ter mais vida. Estou a ficar cansado de criar comédia às pazadas. É tão frágil, o humor, tão passível de não funcionar só porque uma das rodas dentadas do mecanismo se avaria, que é preciso, de facto, trabalhá-la de outra maneira. Não há nada melhor que trabalhar a comédia com tempo. Sei que o Jel me vai chamar betinho por isto, mas que se lixe. Ainda acredito muito no texto e não tanto na gritaria.

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2007