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Anabela Mota Ribeiro

Rineke Dijkstra

28.04.15

Um dos seus temas centrais é a vulnerabilidade. A vulnerabilidade física e emocional, apesar da força da imagem. Estes homens (toureiros) que fotografou lidam com a coragem e desafiam a morte em todos os encontros com o touro. Procurou ver a vulnerabilidade dos toureiros nessas condições particulares?

Quando estava a fazer os retratos de praia, (a minha primeira série, que fiz como fotógrafa autónoma), estava interessada em poses e gestos. Essa série consiste em imagens de crianças e jovens em várias praias dos Estados Unidos, Polónia, Inglaterra, Bélgica, Ucrânia e Croácia. Fotografei-os em fatos de banho nas praias do Velho e do Novo Mundo. Os jovens foram os que me interessaram mais. Talvez porque tenham uma personalidade menos definida e mais aberta. Ainda não têm uma máscara.

As crianças gostam sempre de ser fotografadas. Ainda não conhecem os sentimentos de vergonha do corpo. São menos tímidas. Apresentam sempre uma falta de inibição. Já com os adolescentes é bem diferente. Um sentimento de incerteza e constrangimento é introduzido.

Na série dos toureiros portugueses eu estava interessada em algo distinto. Fiz esta série no mesmo período em que fotografei mulheres jovens logo após o parto.

Tive a ideia para esta série quando uma amiga minha teve um bebé. Eu estava presente e foi uma experiência emocionante vê-la com tanta dor. Finalmente o bebé nasceu, e ela mostrou-mo com muito orgulho, mas muito emocionada, feliz, confusa e cansada. Foi diferente do que eu esperava. Você vê as imagens de mães com os seus bebés e há sempre uma nuvem cor-de-rosa sobre elas. Eu queria fotografá-las imediatamente após o parto, mas seria demasiado pedir que se levantassem. No caso de Julie, fi-lo e deu certo. Fiz a foto em menos de cinco minutos. Saskia teve uma cesariana, tirei a foto uma semana após o nascimento. Tecla foi fotografada no dia seguinte.

Os “forcados” foram fotografados na mesma altura que as mães com seus bebés. Ambos envolveram todas estas emoções por que passaram. Eu estava a tentar descobrir como captar estas emoções em imagens.

 

É a mesma coisa?

A diferença é que as mulheres fazem um esforço físico extremo. Não se dá à luz sem isso. Quanto aos homens, estão em busca de um certo tipo de aventura. Mesmo assim, ambas as acções são extenuantes e perigosas.

 

Você capta-os no momento em que estão a sair da arena, com o rosto coberto de sangue e as roupas rasgadas. Mas parece que não aconteceu nada! Nenhuma emoção especial nos olhos, mostram, aliás, uma expressão bastante vaga... Porquê? Isso surpreendeu-a? Esperávamos ver medo ou alegria.

Gostei das expressões, um tanto introvertidas. E os olhares dos toureiros não são muito teatrais.

 

Um dos mais fantásticos é um jovem, mais próximo do seu universo. Pode falar-me sobre esta fotografia? Foi diferente porque se tratava de um rapaz e não de um homem? Foi diferente porque é sempre diferente para si fotografar uma criança? Foi diferente porque naquele caso específico a presença de um rapaz era mais estranha?

Está a falar da foto do loirinho? Como sabe, estes forcados têm de pegar o touro. O seu “capo” não lhes diz antecipadamente quem vai pegar em primeiro lugar, porque é um acto perigoso e se estão muito conscientes não vão conseguir fazê-lo. Assim, só sabem dois minutos antes. Este loirinho teve que pegar o touro em primeiro lugar, e foi a primeira vez na vida que o fez. Estava muito excitado por ter conseguido não se ferindo muito. Por isso estava a sorrir.

 

Esteve em Portugal para várias touradas. Qual foi a sua primeira impressão?

Gosto de toda a atmosfera da tourada: a arena, a música, o público, a excitação. Mas ao mesmo tempo é um pouco difícil saber que o touro tem que sofrer tanto e que não tem nenhuma hipótese. Não ficou claro, para mim, se em Portugal o touro é morto depois da tourada.

 

Como era a expressão dos forcados antes de entrarem na arena? Por que escolheu esta opção (de fotografar depois e não antes)?

Eu estava interessada em captar as emoções pelas quais eles passaram.

 

As imagens para esta exposição são na sua maioria de 94. Foi esse o começo?

No início da década dos 90 estava a dar aulas na Gerrit Rietveld Akademie, a Escola de Arte, em Amsterdam. Uma vez por ano organizamos um passeio para os estudantes. Em 1993 decidimos visitar Lisboa. Fomos num domingo para Vila Franca de Xira com alguns alunos. Chegámos justamente no momento em que os forcados saíam da arena, cobertos de sangue. Tirei algumas polaróides e elas estavam tão interessantes que decidi voltar no ano seguinte para fotografar estes rapazes com a minha máquina fotográfica de 4x5 polegadas.

Em 1994 fiquei duas semanas em Portugal. As touradas realizam-se unicamente aos domingos, o que significa que pude apenas trabalhar três dias. Um dia foi cancelado por causa da chuva. Era um pouco difícil organizar. Depois da tourada os homens ficam cansados e querem voltar para casa. Tinha sempre que trabalhar à pressa.

 

Os seus trabalhos têm sempre um elemento de encenação. Neste caso temos uma contradição curiosa: as roupas apropriadas e utilizadas e os traços de sangue, dor, morte e vida da arena...

Tento captar algo real e algo essencial. Gosto de trabalhar a partir da observação. As imagens são sempre um pouco encenadas porque as pessoas têm de fazer uma pose e olham para a máquina fotográfica. Trabalho com um máquina fotográfica de 4x5 polegadas, pesada e antiquada, num tripé. Leva sempre um certo tempo para fazer uma foto. A maioria das pessoas começam automaticamente a sorrir. Primeiro explico às pessoas que quero um retrato natural. Não precisam sorrir porque isso pareceria um retrato de família... Mas não dou muitas instruções. É apenas uma questão de observar e esperar o momento certo.

 

 

A acompanhar uma exposição da artista no CAV em 2008