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Anabela Mota Ribeiro

Miguel Veiga

13.11.16

“Não me apetecendo, não tendo o desejo, perdendo a minha autonomia, a minha liberdade, que é o factor para o qual tenho vivido toda a minha vida, e que me assegura a boa disposição ou o meu gosto de viver, pensei que me ia meter num buraco.” Isto era a propósito do convite para ser ministro. Não foi.

Nunca foi ministro. Foi um dos fundadores do PSD. É advogado. Cognomes mais usados: “um histórico do partido”, “um ilustre do Porto”. O amigo-irmão de Artur Santos Silva. O amigo de Balsemão, de Soares, de António Lobo Antunes.

Miguel Veiga nasceu há 74 anos, gosta de dizer que o seu “sotaque de ser é portuense”. É um homem culto que vive rodeado de livros. É um esteta que vive rodeado de objectos belos, vidros, móveis, frases de poetas. É um amante das artes que tem na parede quadros de Menez, mulheres nuas de Cutileiro, um desenho que Mário Botas fez para ele.

Usa expressões que não ocorrem a quem vive em Lisboa, como “andor Violeta” ou “uma panada dos diabos”. Usa palavras que já ocorrem a ninguém, como “cerebrino”.

Está mais destravado do que o conheci há 13 anos. Vejam o que diz sobre os governantes portugueses e percebam o que quero dizer. Está mais atrevido do que é expectável num homem da sua condição social. Conta, por exemplo, que uma mulher belíssima, que posa numa fotografia a preto e branco, é a amante francesa do seu bisavô. Uma ficção que criou e achou apropriada para aquela imagem… Está na mesa de apoio da sala, ao lado dos retratos da família. Mais do que tudo: diverte-se com o desconcerto em que as pessoas ficam quando anuncia que aquela era a amante do seu bisavô.

Apesar de tudo, fica um pouco mais contido quando estamos em gravação (eu avisei que tudo o que fica gravado é susceptível de ser transcrito).

Miguel Veiga já não tem nada a provar, não tem de agradar a ninguém. Independência, lembram-se? Ele falava dela para recusar ser ministro. Foi o que perseguiu a vida toda.

Começámos a entrevista ao meio dia, na sua casa, na Foz. O mar mudava de cor, consoante as nuvens, do outro lado do passeio. Parámos para almoçar. Continuámos até ao fim da tarde. Fumou cigarro atrás de cigarro – disse num modo seco que não queria falar disso quando lhe perguntei quanto é que fumava por dia. Foi a única vez. De resto, foi de uma amabilidade imensa. Diverte-se com a vida, e isso é evidente.

 

 

 

Escreveu: “Não passo de um buscador de mundo. O segredo da busca é que não se encontra. Nunca se encontra. Acho-me um obstinado errante. Sou forasteiro, transeunte, é isso que eu sou, até em mim.”. O que é que fez de si um buscador e um obstinado errante?

Foram as circunstâncias da minha vida e aquilo a que se chamava fatalidade biológica e hoje se chama programação genética. Somos um produto. Temos um pai, uma mãe e nascemos com determinados genes. Fui sempre, embora sociável, algo solitário.

 

Um melancólico? A bílis negra é a melancolia.

Não direi melancólico. Estou “na haste mais alta da nostalgia”. Um poeta chamava à nostalgia o sol negro. O fenómeno da morte traz-me melancolia. Sophia dizia: “Quando morrer vou regressar para viver os instantes que não vivi junto do mar”.

 

Pensa na morte?

Raríssimas vezes. Penso na morte quando sou confrontado com ela, quando perco um amigo, um animal de quem gosto. Tenho um grande embate. Sou agnóstico, não acredito na vida do Além, e isso acrescenta ao meu susto. A morte, não só me intriga, como me assusta. Como gosto da intriga, mas não gosto de sustos, o único susto que pratico é o da paixão. A paixão é assustadora.

 

É um sinónimo de vida. Nada mais vivificador do que a paixão.

Concordo consigo.

 

E esse é um sobressalto, um susto de que gosta?

Não sei se gosto. Acontece-me. Tenho umas previsões que são normais ao modo funcionário de viver, mas não sou premeditado. Como a vida me tem tratado bem, como estou de bem com a vida, vou deixando correr as águas, já que o marfim não é muito.

 

O marfim é o carcanhol?

Também não me queixo, vivo desafogadamente. O dinheiro é necessário à nossa liberdade. Mas quando ultrapassa os limites de assegurar as condições da liberdade, passa a ser escravizante.

 

Voltemos ao acaso da biologia e às suas circunstâncias. Porque é que tem esta natureza, buscadora e errante?

O que me move é a curiosidade pelas coisas. Por isso o título do meu último livro é O meu único infinito é a curiosidade. Um homem curioso começa sempre por ser um homem insatisfeito, não auto-suficiente, permeável, vulnerável, disponível. A solidão é difícil, e leva-nos a procurar, a buscar. Sempre ao lusco-fusco.

 

Isso é por razões estéticas? Porque o crepúsculo é mais intrigante e mais belo?

Por razões éticas e estéticas. Sou um homem de valores, defendo sempre a ética – não a moral, não sou moralista. A ética é uma estética. É um dos meus mandamentos. Faz parte do meu código de viver, de sentir e de pensar. Considero que a política sem ética é uma vergonha – como dizia bem o Sá Carneiro. Sou um burguês. As minhas convicções estribam-se numa ética da responsabilidade. Mas a postura é sempre estética.

 

Provoquei-o dizendo que é um dandy.

O dandy é um niilista, e eu não sou. Do dandy tenho um atributo: sou um relativista. Todas as campanhas contra os relativistas são encabeçadas pela igreja católica. A igreja católica continua fiel a um princípio que a modernidade baniu por completo: o de que a verdade é um conceito hegemónico. Não é. Existem verdades parcelares. Cada forma de conhecimento, cada capítulo da filosofia, cada forma até da política, vale por si no campo em que actua. E não tem essas tendências hegemónicas e totalizantes. (Agora vou tomar café. Tem o meu isqueiro?)

Tenho o culto da estética. Falar do belo é uma maneira de não dizer nada. É como aqueles que gostam de escrever verdade com V grande, justiça com J grande. O senhor Descartes, que nos ensinou a pensar, caiu no erro de criar esses conceitos com maiúsculas [riso].

 

Usemos a máxima cartesiana. Que memória tem de começar a existir? Foi um “sinto, logo existo” antes de um “penso, logo existo”?

O meu fundo, o fundo das minhas águas mais silenciadas, e portanto mais remotas, são os afectos. Quando tomo consciência de mim próprio, o que vem logo à tona são as memórias da minha infância e dos meus pais. Davam-me independência, autonomia e um afecto que nunca mais me largou pela vida fora. Apesar da minha idade, já o escrevi, trago sempre a infância pela mão. Mesmo depois da maturidade, nunca consegui fazer nada que fosse aproveitável se não passasse pelos afectos. Isso molda um carácter e condiciona. Na apresentação deste livro, em Lisboa, o Pacheco Pereira, sendo um homem muito inteligente, dizia assim: “Há uma contradição nos textos e na personalidade deste tipo” – que era eu – “Como é que sendo um homem de afectos, é ao mesmo tempo um homem de formação racionalista?”.

 

E um ser argumentativo.

Intelectualmente sou um aprendiz do século das Luzes, do Iluminismo, dos homens da revolução francesa. Respondi-lhe que conhecia essa contradição, mas que sou tão amante da liberdade que reivindico para mim as minhas próprias contradições. E abuso da minha liberdade a ponto de não ter que me explicar sobre isso.

 

Como era o seu pai?

Era um esteta. Escrevia primorosamente. Advogado. Beirão. Homem com algumas excentricidades. Perto dos 30 anos, era um dos poucos portugueses que viajavam de carro. Passava as férias em França, que era uma coisa em que ninguém pensava. Foi onde conheceu a minha mãe, que era francesa. Vieram a casar dois anos depois, em Paris. Está a ver o que era o Porto há 80 anos? A minha mãe, parisiense, apaixonou-se por Portugal. Suponho que gostasse mais de Portugal do que de França. Curiosamente o meu pai gostava mais de Paris do que de Portugal.

 

Porque é que a sua mãe gostou tanto de Portugal e se entendeu tão bem com o país?

A minha mãe era superiormente inteligente. Muito pragmática. A sua cultura, porque também era uma mulher de grande cultura, não era especulativa. O meu pai era mais poético. Era menos condescendente do que eu sou. Sou mais transigente, mais tolerante, mais sociável. Cuidava dele, dos seus modos. Extremamente bem-educado.

 

De onde é que isso vinha?

De Moimenta da Beira não lhe devia vir. O meu pai tinha um irmão, o Pedro Veiga, Petrus, que era o cúmulo da extravagância. Foi um revolucionário. Foi o fundador do Movimento da Renovação Democrática, que reuniu toda a inteligência portuguesa, e que depois dissolveu. Deixou 82 títulos, coisas inéditas sobre o Pessoa, o Gomes Leal. Fez os célebres volumes sobre os modernistas portugueses. Tinha uma pena quase camiliana. Passava a vida com discussões e com críticas públicas.

 

Como é que o seu tio conquistou essa liberdade? O que é que lhe permitia essa excentricidade?

Não sei. Vivia modestamente, não tinha dinheiro. Era advogado mas advogava pouco, o trabalho dos livros exauria-o. Foi vendendo as propriedades de Moimenta da Beira que tinha recebido do meu avô. Vivia com a minha avó rodeado de livros. Foi sempre considerado uma carta fora do baralho dentro da família. Em termos sociais e pessoais, era a antítese do meu pai.

 

O seu pai era o bem comportado?

Era. Entre os dois, tenho uma tia que ficou solteira, meia freira.

 

Era daquelas que quando vinha a sua casa se escandalizava com as mulheres nuas e as esculturas?

Baixava os olhos [riso]. Eu era filho único, sobrinho único e neto único, e era bom aluno; isso é que lhe interessava: dizer que tinha um sobrinho muito bom aluno. Entrava numa espécie de adoração em relação a mim. E eu, com ela, inibia-me de dizer as asneiras que costumava dizer. Bastavam as do meu tio. A minha mãe, sempre que eu tinha uma atitude que lhe desagradava, dizia: “É tal e qual o tio Pedro” (que ela adorava). Infelizmente para mim, de nenhum deles herdei o talento.

 

Está a dizer isso a sério ou está fishing for compliments?

Não chego aos calcanhares de um nem do outro. Do meu pai herdei o gosto pelos livros, valores e uma certa adesão estética. Do meu tio herdei determinados desatinos e as fúrias (as dele eram homéricas), herdei o gosto pela literatura, pelas artes. O meu tio foi para Coimbra formar-se em Direito. Quando chegou a casa, estava formado em Direito, em Filosofia, em Românicas e nos Altos Estudos Coloniais. O cardeal Cerejeira convidou-o para assistente. Recusou. Disse que queria era estar em casa a fazer livros, a procurar coisas pelas bibliotecas.

 

Quando é que faleceu?

Há uns 20 anos. Doou parte da biblioteca à universidade do Porto. Lixaram-lhe os livros e ele publicou um texto que dizia assim: A destruição da cultura em Portugal. É uma panada dos diabos. O tempo passou e a Faculdade de Letras começou a arranjar os livros que ele tinha dado, perto de 20 mil. Fui lá, à Sala Pedro Veiga, quando foi a inauguração.

 

Porque é que o tratava por tu? Era como se fosse um igual, um irmão? Irmão que nunca teve.

Era, era. Também tratava a minha tia por tu. Tratava a minha mãe e o meu pai por tu quando lhes falava em francês. E tratava-os na terceira pessoa quando lhes falava em português.

 

Em casa, falavam em que língua?

Em casa baralhávamos tudo. O mais corrente era a minha mãe falar em português ao meu pai e o meu pai responder em francês. Não tinha nada de exibicionista. A minha primeira língua materna foi o francês. Depois fiz um bloqueio quando fui para a escola.

 

Para que escola foi?

Para a escola da D. Ângela, a figura tutelar da minha infância. Era uma senhora gorda com uns bigodes fantastiques, dava beijos e eu sentia a coceira do bigode. Ainda hoje sinto isso, carago! Mas bigode preto, o que é que você pensa… Era disciplinadora. Tenho no meu gabinete de advogados para aí 30 gajos, todos eles bons, cultos. Muitas vezes têm dificuldades na pontuação e dou consultas todos os três dias. Quem? A D. Ângela. Não cometo um erro de pontuação, aprendi tudo com ela. O liceu e a faculdade não acrescentaram nada.

 

E então teve um bloqueio quando entrou para a escola primária.

Estive três anos sem falar francês. Não sei se foi por causa dos “r”. Eu falava um bocado com “r”. Foi uma crise de puberdade antecipada. Depois comecei até a falar demais, francês e outras linguagens.

 

Foi fundamental para a confiança que foi tendo ao longo da vida ser filho único, neto único e sobrinho único, e a convivência com essas figuras iconoclastas?

Sim, sim.

 

O que é que se falava em casa que o pequeno Miguel iria ser?

Nada, nada. Determinismo biológico: quando cheguei aos 11 anos queria ser advogado. Ponto final.

 

Porque é que isso era evidente? “Trigo limpo, farinha Amparo”, como se diz no Porto.

Vá lá saber. Nunca quis ser bombeiro, jogador de futebol, aviador. E ainda não sabia o que era ser advogado.

 

Como não sabia? Via o seu pai, que era advogado.

Eu tinha uma paixão pelo meu pai, que ainda tenho. Não só pelas qualidades como pelos defeitos. Adorava os defeitos do meu pai.

 

Quais eram?

Já não me lembro. Tinha os seus toques de autoridade. A determinada altura tinha medo que me transformasse num “menino da Foz” – gente abastada. Pegou em mim e enfiou-me num colégio inglês.

 

Com que idade?

Aos 13. E para quê? Não era para eu aprender inglês, era para aprender a liberdade e a independência. No pós-Guerra. Fui para um grande colégio perto de Brighton, um colégio misto. Nos colégios ingleses não se estudava nada.

 

Mas aprendia-se a lidar com a adversidade? Com o frio? E se era o pós-Guerra, havia ainda racionamento?

Sim. Vim-me embora por causa do racionamento. Um dia, ao telefone, disse à minha mãe que estava a ficar com os dentes pretos. Devia ser falta de alguma vitamina.

Aquilo era uma espécie de dois castelos dentro de um parque. Um castelo era dos meninos, o outro era das meninas. Fui apanhado por duas inglesas, de olhos azuis e caracolinhos. Encostaram-me a uma sebe e desfloraram-me.

 

Olhe que escrevo isto.

Já disse isto na televisão à Bárbara Guimarães, num programa que tive com o Soares. Desflorado mesmo. Depois cheguei aqui, impante, em relação aos meus amigos, o figuraço que fiz. Aos 14 anos, limitavam-se a levantar as saias da cozinheira e a apalpar-lhe o rabo. Na minha geração era o que se fazia. A educação sexual dos miúdos era feita pela empregada doméstica.

 

Da sua geração e da sua classe social, é preciso dizê-lo.

A classe social era a burguesia.

 

Quanto tempo é que esteve no colégio inglês?

Perto de um ano.

 

Aprendeu inglês?

Pouco. Só falava francês, estudavam lá umas francesas. E havia muitos gregos e iranianos, fugidos ao regime de Mossadegh. Os gajos com massa iam todos para Inglaterra.

 

O seu pai não queria que fosse um “menino da Foz”. Quer dizer, um menino sem propósito, preguiçoso?

Filho de gente rica, tipo que não estuda, que não tem referências, que se julga privilegiado.

 

O que o seu pai valorizava era o trabalho e o mérito?

Exacto. O meu pai era um dos homens da oposição aqui do Porto, foi candidato a deputado várias vezes. E era anti-catolaico, (anti um meio católico, conservador, reaccionário). Dentro do conceito de estética dele, não se podia ser ditador. Pretendeu, desde pequeno, sem fazer qualquer pressão, incutir-me estes valores. E fazer-me perceber que na vida temos que separar águas. Não é procurar inimigos, é saber quem somos e por onde devemos ir.

 

Ainda que não tenha pressionado ou sequer verbalizado esse desejo, acha que o educou para ser um político?

Não. A minha relação com a política vem de, por ser filho de quem era, aos 18 anos, já no início da universidade, ter sido requisitado pelo sector da oposição para, nos raros comícios que o regime permitia, ser a voz da Juventude Democrática. Éramos para aí três.

 

Quem era os outros dois?

Um rapaz de que me esqueço o nome, de Braga, e depois juntou-se o José Luís Nunes. Comecei a intervir em comícios. As pessoas adoravam-me porque era um miúdo de 18 ou 19 anos, bem vestido, que preparava bem as coisas. Participei na primeira lista da oposição da Associação Académica em Coimbra. Depois do [Salgado] Zenha, imagine. Fizemos uma lista, estivemos quase a ganhar, mas perdemos. No ano seguinte foi a primeira vez que a oposição ganhou em Coimbra, com o Carlos Candal.

A partir daí comecei a fazer política. Assinei os manifestos todos. As academias de Portugal, éramos 300 e tal: “Nós, abaixo assinado, na data de aniversário de vossa excelência, [Salazar] vimos solicitar a sua demissão, a favor da pacificação da família portuguesa”. Foi tudo preso.

 

Então foi preso.

Eu não. O meu nome, nas assinaturas, está atrás da Isabel do Carmo e à frente do Manuel Alegre. Está a ver as voltas que o mundo dá? Só que, se prendessem 200 gajos, era um escândalo do caraças. Então, o que é que fazia a PIDE? Escolhia 50. À sorte. Ficava como precaução para os outros. Isto foi andando, formei-me, deram-me 17 valores.

 

Não ficou a dar aulas na universidade.

Um gajo veio dizer-me: “Você gosta mais de literatura e de mulheres”. Aquilo não correspondia ao estilo do “prof” [de Coimbra]. Vim advogar para o Porto, fiz um estágio no escritório do meu pai. Entretanto cria-se a Faculdade de Economia do Porto, com Direito Comercial e Direito Fiscal, abrem concurso público. Na secretaria da faculdade, disseram-me que o meu processo tinha sido remetido para o conselho de ministros. “Ficou excluído do concurso o licenciado fulano tal”.

 

Apesar do 17. Perseguição política?

Vi logo que era. Quando se abriram os arquivos da PIDE pedi a uma amiga se me trazia a cópia do meu dossier. E então vinha, informação do conselho de ministros, sei de cor: “O indivíduo acima identificado tem bom comportamento moral, mas não oferece as condições mínimas para colaborar na realização dos fins superiores do Estado”. Já viu a fórmula? O que as palavras podem traduzir não dizendo nada…

 

Partidos, nessa altura, nada? Grupos, organizações?

Os meus companheiros pertenciam todos à Maçonaria. “Para a Maçonaria, não entro”. Não gosto de sociedades secretas, não sei respirar. Não tenho nada contra a Maçonaria, mas não é a minha chávena de chá. Depois forma-se o Partido Socialista e não entro porque ele era marxista.

 

Era outra sociedade secreta?

Eu não era marxista. Reconheceu-se muitas vezes a valia de análises feitas por Marx, o que era diferente de ser marxista, e depois leninista ou estalinista. Fiquei assim pendurado. Um dia o Artur Santos Silva e o Sá Carneiro vieram falar comigo e alinhei. Foi por isso que fui um dos fundadores do PSD.

 

Antes de falar da fundação do PSD, deixe-me perguntar se teve pena de não ter sido um professor de Direito?

Não, queria ser advogado. Mas [ser professor] faria bem ao meu ego e à minha reputação.

 

Começou por trabalhar com o seu pai. Sentiu alguma vez a necessidade de se emancipar em relação ao apelido Veiga?

O meu pai era um enorme advogado e eu usufruía disso. As pessoas que me iam consultar sabiam que se tivesse alguma dificuldade tinha sempre o respaldo do meu pai. Comecei logo a trabalhar como um cão. Precisava de dinheiro.

 

Trazia a ideia de que sempre teve dinheiro, de que isso nunca foi uma preocupação.

Não, não. Ganhei-o todo. Vou só dar um exemplo. Eu não tinha carro, quando tinha julgamentos fora tinha que pedir o carro emprestado à minha mãe. Disse à minha mãe que precisava de um carro. “Fala com o teu pai”. “O que é que hei-de fazer para ter um carro?” E o meu pai assim: “Ganha-o”. Queria um Austin em 7ª mão. Lindíssimo. Custava 30 contos, que era algum dinheiro. O meu pai perguntou-me: “Quanto é que podes pagar de prestação mensal? Faz aí um papel, empresto-te o dinheiro e tu comprometes-te a pagar um conto por mês”.

 

O seu pai exigiu-lhe um papel – note-se.

Um papel. E mandou comprar um caderno de deve e haver, destes domésticos.

 

Para que era o formalismo do caderno e do papel?

Era a disciplina. Oiça. Apesar de ganhar e de não ter puto de despesa, o meu pai continuava a dar-me dinheiro de bolso. Um conto de reis ou um conto e 500. Então, no dia 1 de cada mês, ia ao gabinete do meu pai, em casa, pagar a prestação do carro. O meu pai tirava um conto e dizia: “Este é o teu dinheiro de bolso”, eu pegava na mesma nota e dizia: “Esta é a minha prestação”. Nunca mais esqueci isso. Foi o carro que mais gozo me deu em toda a minha vida. E nunca mais deixei de ter um caderno com as minhas próprias contas.

 

Conte-me da fundação do PSD.

Um dia o Artur Santos Silva convidou-me a mim e ao Francisco Sá Carneiro para jantar na Foz. O Sá Carneiro tinha a ideia de formar um partido social-democrata. Lembrei-lhe que a social-democracia não tinha nenhuma tradição em Portugal. “É verdade, mas sei que sempre defendeste a social-democracia. O Manuel Alegre disse que o primeiro social-democrata que tinha conhecido em Coimbra eras tu”. O primeiro e o único. “O problema é que não temos condições para criar uma social-democracia ao estilo nórdico. Vamos tentar criar uma social-democracia à portuguesa”. Disse-lhe que contasse comigo.

 

O motor, o delineador, foi sobretudo Sá Carneiro?

Foi.

 

Mas a sua relação mais próxima era com Artur Santos Silva?

O Artur Santos Silva foi o irmão que não tive. Já nessa altura, era muito amigo do Francisco Balsemão. Reunimos um núcleo de 13 e estabelecemos as linhas programáticas na Cúria. Do Porto foram o Artur Santos Silva, o António Leite de Castro e eu. O núcleo de Coimbra era formado pelo Mota Pinto, o Barbosa de Melo e o Figueiredo Dias. O Sá Carneiro, que não era um teórico político, mandou as suas linhas programáticas. O Barbosa de Melo disse-lhe: “Não conte com o grupo de Coimbra, porque aquilo que você mandou é para um partido liberal. Não alinhamos nisso”.

O Sá Carneiro pediu-lhe para ser ele a fazer um esquisso. A matriz sobre a qual trabalhámos na Cúria foi já social-democrata. Fiquei com o texto, não sei onde o pus, queria deixá-lo ao partido.

 

O texto-base foi escrito pelo Barbosa de Melo?

Manuscrito. Depois foi muito trabalhado, muito aperfeiçoado por nós.

 

O que é que queriam fazer? Até onde é que achavam que iam com esse partido?

Pretendíamos sobretudo preencher um vácuo – a política é inimiga do vácuo – que existia na sociedade portuguesa, que se tinha esquerdizado toda. O Partido Socialista era um partido marxista, na fase mais radical esteve para tomar conta do poder. O PC já era um partido organizado, na oposição. Havia os partidos esquerdistas, que eram mais do que as mães: as UDP, os maoístas... À direita havia o CDS, a facção mais conservadora, mais direitista da sociedade, que representava em grande parte aqueles que vinham do antigo regime, um pouco envergonhados. Errámos em muitas coisas, mas nisso acertámos: havia um vácuo a preencher. Era o vácuo da chamada classe média, do centro esquerda ao centro direita. As bases programáticas corresponderam a isso. Sobretudo criou-se a ideia de um partido interclassista. Isso é que foi difícil, porque se vivia numa época de luta de classes.

 

Como resolveram isso?

Sustentámos que podia haver um interclassismo que compreendesse desde o operariado até aos trabalhadores agrícolas, os empresários, o pequeno empresário. O partido continha uma coisa, essa sim, muito identitária do português: uma certa insubmissão, um desejo de subir na vida a pulso, uma revolta contra o status. Depois de várias peripécias, criámos aquilo que considerávamos o partido mais português. Fomos atacados por todos os lados porque, no fundo, não era um partido que tivesse uma ideologia que constasse nos livros políticos. O cerebrino Joaquim Aguiar dizia que não havia lugar para o PSD, fosse qual fosse o método sociológico: “O PSD tem uma existência, mais do que efémera, evanescente. Não cabe dentro do espectro cultural português”.

 

Sentiam isso na construção do partido? Que o espaço que existia era diminuto?

O Medeiros Ferreira publicou um livro onde também demonstrava que o PSD não podia existir. A minha resposta [a essa questão, formulada numa entrevista ao Carlos Magno], é que o PPD é um partido zangão. Quando digo estas coisas ficam sempre assim: “Zangão, como?”. Está cientificamente provado que o zangão não pode voar, tem um peso e uma textura de asa que não lhe permitem voar. Só que o zangão voa. O zangão voa porque não sabe que está cientificamente provado que não pode voar. Se ele soubesse, deixava de voar.

 

Inibir-se-ia, é isso?

Óbvio. O PPD existe como partido, tem crescido porque não sabe que está cientificamente provado (por essas inteligências todas) que não pode existir. Felizmente para nós. Foi a capa do Expresso: “O partido zangão”.

Foi uma coisa de que tivemos o cheiro, o faro. O faro é o segundo mandamento do animal político. O primeiro é a coragem. Os gajos que vão marcar a história portuguesa tinham, para além de coragem, o faro. O Soares, o Sá Carneiro e mais dois ou três.

 

Já era claro para si que Sá Carneiro tinha essa coragem e esse faro? É mais fácil reconhecer isso retrospectivamente.

Tinha dado provas de grande coragem na Assembleia Nacional, arrostando contra tudo. Tinha sido educado numa das famílias mais conservadoras e salazaristas de Portugal. Tinha esta imensa qualidade, que Soares tem em superlativo: era um homem de pensamento estruturado e de acção. Esse é que é o verdadeiro político: pensa como um homem de acção e age como um homem de pensamento. Sá Carneiro tinha chegado à democracia através da igreja progressista, contrariamente a mim e a outros, que tinham chegado através dos princípios da República. Não era um especulador político.

 

Porque tinha urgência de fazer?

Também. Tinha um defeito de onde retirava todas as suas grandes qualidades: a teimosia. As maiores virtudes: a coerência, a intransigência, a obstinação, a coragem. Vai tudo nascer numa vontade inflexível, que se não deixa corromper, abastardar, contaminar. Dizia as coisas que as pessoas, muitas delas, pensavam, mas que ninguém ousava exprimir. Isso criou-lhe uma grande aura. Começou a construir-se uma espécie de mito Sá Carneiro.

 

Ainda em vida?

Sim. Ele, pessoalmente, era avesso à criação de mitos. Um dia disse: “O mito é uma interdição ao homem de se inventar”. E é. Era um homem com referências éticas, um homem limpo, decente. Tenho andado a trabalhar num conceito que é desconhecido em Portugal, ou pelo menos pouco praticado: a decência.

 

Explique lá isso.

É a tradução em calão português do maior conceito de cidadania anglo-saxónico, decency. Não vamos entrar no reino das nuvens, das grandes frases e da retórica. Uma das primeiras manifestações da decency é o trabalho competente. Aqui, quando se fala num tipo decente, é um tipo que lava as mãos ou outra coisa no bidé todos os dias. Um conceito de higiene física. Temos pouca gente decente em Portugal. É um dos falhanços do 25 de Abril, que trouxe tantas coisas, mas que nunca conseguiu criar um conceito de cidadania e de decência para a generalidade das pessoas. Por isso é que digo que Portugal, de onde não me excluo, porque é terra de que gosto, é amiúde mal frequentado. Dizem que sou um pessimista, quando toda a gente bem-aventurada fala em esperança. Houve alturas da minha vida que fui um pessimista-optimista, depois passei a ser um optimista-pessimista. Hoje em dia sou um pessimista tout court.

 

Consegue situar desde quando é um pessimista tout court? Quando é que acabou, quando é que se esvaiu a esperança?

A partir do segundo Governo de Cavaco Silva.

 

Isso foi em 1995, já lá vai uma eternidade.

Entretanto a coisa tem-se agravado e o pessimismo foi formando um núcleo duro sem margens. Pergunta-me: “Não vê o optimismo do Soares e de outros, não vê uma luz ao fundo do túnel?”, e eu digo: “Vejo, é do comboio”. [riso]

 

Está a dizer-me que não se revê no seu partido desde o final do cavaquismo?

Estava a falar em termos gerais. A minha relação com o meu partido é uma relação extremamente singular, não é generalizável. Estou neste partido que fundei, e a que dei alguma coisa de meu, sem pedir nada em troca. Isto são medalhas que ponho ao pescoço. Nunca tive nenhum cargo, recusei cinco vezes ser ministro.

 

Porquê?

Porque nunca quis perder a minha independência e a minha autonomia. Nunca quis deixar de ser advogado. Não gosto do exercício do poder. Não me apetece. E como só faço bem as coisas que desejo, recusei sempre. Os meus companheiros ou camaradas eram homens com quem tinha cumplicidade ideológica. Nunca me dei bem com os aparelhos partidários. Habituei-me sempre a pensar, bem ou mal, pela minha própria cabeça. Os aparelhos dos partidos são uniformizadores e fui sempre considerado uma carta fora do baralho.

 

Um outsider e um insider, simultaneamente.

Sim. Nos tempos áureos do cavaquismo, suponho que eu e o João Salgueiro éramos os únicos anti-cavaquistas. Ou antes, aqueles que tinham restrições ao cavaquismo. Os tempos mudaram, Cavaco mudou e eu também, mas era assim. Em determinada altura, Durão Barroso resolveu desertar de Portugal por causa da União Europeia e entregar o poder ao Santana Lopes. Para mim, a forma mais degenerada da democracia é o populismo. Levantei a minha voz.

 

Foi um crítico de Santana.

Fui vaiado no congresso nacional. Embora tivesse boas relações e até achasse alguma graça ao Dr. Santana Lopes, considerava que ele era a expressão do populismo político. Fui o único voto contra. Houve duas abstenções, uma do Rui Machete e outra da Manuela Ferreira Leite. A partir daí o aparelho partidário começou a ignorar-me por completo. O partido nunca teve, infelizmente para ele, muita gente de ligação à cultura; eu e mais meia dúzia andávamos a tapar esses buracos. Nunca mais me solicitou para nada.

 

Sente que deixou de ser ouvido?

Ouvido ou convidado. Deixei de ser convidado para os congressos e para as listas do conselho nacional. “Fico na minha casinha, a pensar por mim e acabou. Não me desligo do partido por razões afectivas”. (Cá está, porque sou um homem de afectos). Não bato na porta, não me ponho em bicos dos pés, não peço licença para entrar nem espero que.

 

Já passou algum tempo desde Santana. O que é que aconteceu com as direcções que lhe sucederam?

Passaram-me em branco e não protestei nem fiquei agastado. “No hard fellings”. As contas estão feitas. Com grande surpresa minha, para os 35 anos [do PSD], o Instituto Sá Carneiro fez umas conferências no Hotel Tivoli, e fui convidado.  

 

Quem é que o convidou, Alexandre Relvas?

Sim. Suponho, também, que inspirado pelo Francisco Balsemão, mas isso é uma presunção minha. De qualquer maneira não disse que não, não fingi de amuado. Fiz um texto, que saiu limpinho, em que expus as minhas ideias. Considerava que a regeneração do partido devia obedecer a isto: as urgentes reformas da justiça, educação, saúde e administração pública, neste momento de crise, só serão viáveis e eficazes, não através de um bloco central, que é inviável, mas se assentarem em pactos de fundo ou acordos de regime, subscritos por uma maioria dos partidos relevantes, para vigorarem por um prazo superior a duas legislaturas. E com obrigatoriedade de cumprimento para quem exercer, ou vier a exercer, a governação.

 

Isso aponta para uma certa estabilidade da governação.

Mas para isso é preciso estadistas. Em 1983 Portugal estava numa situação tão má como está agora. Mas tivemos dois sujeitos que tinham estatura de estadistas, Mário Soares e Mota Pinto, que chamaram Ernâni Lopes. Safámo-nos.

 

E a seguir, a partir de 85, veio o dinheiro da Europa.

Entretanto tivemos aqui o FMI, não é verdade? Isso é possível com um senhor chamado Sócrates e com um senhor chamado Passos Coelho? Não é possível.

 

Porque não têm essa estatura de grandes estadistas?

Isso não é óbvio? Não entra pelos olhos dentro? Esta sociedade deixou de ter des maîtres à penser, que eram os intermediários entre a classe culta e o chamado vulgo. Um dos meus maîtres à penser é Raymond Aron. A esquerda [francesa] preferiu o Sartre.

 

A França, e uma certa Europa, demorou tempo a preferir o Aron, que era considerado de direita.

Porquê? Simone de Beauvoir, considerada a papisa da esquerda, dizia: “Prefiro estar em erro com Sartre do que ter razão com Aron”… Eu, Coimbra, 20 e tal, 30 anos, aqui em Portugal, descentrado da Europa, de tudo. Os tipos da minha geração tinham combates ideológicos entre os que apoiavam Sartre e os que apoiavam Camus. É um maître à penser. Eram gajos que nos obrigavam a pensar. Nós aderíamos ou combatíamos ou resistíamos…

 

Aderia a qual, nessa altura?

Camus. Sou do Aron e do Camus.

 

Não há ninguém em Portugal que se pareça com um desses maîtres à penser?

Há um homem excepcional, que é o meu maître à penser desde os 18 anos. Curiosamente é o único livro que conservo na mesinha de cabeceira desde os 18 anos, As Heterodoxias, do Eduardo Lourenço, de quem sou grande amigo. É a inteligência portuguesa. Outro, o Gomes Canotilho, por força da sua cultura e inteligência.

 

Lamenta especialmente não conseguir rever-se num partido que fundou há 35 anos? Subentendo nas suas palavras que não se revê no partido.

Não me revejo em parte deste partido. Não me revejo nos aparelhos que têm conduzido o partido.

 

Não se revê no líder?

O aparelho tem uma cabeça que é um líder. Apoiei sempre, e continuo a respeitar, a Manuela Ferreira Leite. É uma mulher rigorosa, severa, honesta e inteligente. Na maior parte das vezes, o futuro veio a dar-lhe razão nas objecções e nos ataques que fazia à governação. Mas não era líder.

 

Significa que não tinha carisma?

O carisma é indispensável no líder. É indefinível, porque assenta não apenas na razão mas numa parte subterrânea de nós próprios. Aquilo a que alguns chamam empatia, entusiasmo, atracção. Ela não tinha esse poder de mobilização nem de contágio. O Dr. Passos Coelho não tem dado tiros no pé. Tem tido atitudes de bom senso político. Para já não tenho nada a apontar.

 

Imagino que vote, indefectivelmente, no PSD, mesmo que não se reveja nos seus líderes.

Tenho votado sempre.

 

É porque é daquela família?

É por razões afectivas. A única altura em que tive que pôr as razões afectivas de parte, e custou-me brutalmente, foi como se me esfrangalhassem o coração, foi com a candidatura do Dr. Mário Soares [às presidenciais em 2006]. Tive de reconhecer que o tempo dele tinha passado. Ele veio ao Porto saber a minha opinião e a do Dr. Santos Silva: “Não se candidate, já está acima das nuvens. O senhor pode fazer a sua magistratura de influência, não se meta nisto”. Tinha o sentimento de que não ganhava e que seria uma gravíssima injustiça perder as eleições. A grande cicatriz para o Dr. Mário Soares, mais uma injustiça, não foi ter perdido para o Dr. Cavaco Silva: foi ter perdido para o Manuel Alegre. Ao mesmo tempo, por uma questão de racionalidade política, dei o meu apoio ao Professor Cavaco Silva.

 

Disse que foi convidado para ministro cinco vezes e que recusou todas. Não chegou a hesitar? E não gostaria de ser ministro da Justiça?

Uma das vezes fui convidado para ministro da Justiça. Pensei nisso. Era a época mais forte da minha advocacia, estava nos 40 e tal, 50 anos. Nessa altura não havia sociedades de advogados, se fosse para o Governo fechava o escritório. Os clientes não esperam. Perdia a minha autonomia. Segundo: o meu desejo não era muito, e nunca tive a atracção do exercício do poder.

 

Consegue perceber o que é que o desagrada?

Não gosto de comandar. Duvidei sempre das minhas competências para isto. A vida dura de advogado ensinou-me a só me meter nas coisas que sei, ou que posso saber, ou que julgo saber. É isso que me dá uma certa segurança. Foi isso que me deu alguma notoriedade, mesmo na minha profissão, e o respeito que mereço de algumas pessoas. Nunca tive experiências políticas no sentido de testar se tinha essa competência. Ao contrário do que muita gente pensa, não sou vaidoso, sou orgulhoso… 

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2011