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Anabela Mota Ribeiro

Curso de Cultura Geral - 28 Janeiro 2018

29.01.18

Filipa Lowndes Vicente viveu em Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Itália. É historiadora. Coisas que lhe interessam: o feminismo, o activismo, a cultura visual, material e escrita. Entre os objectos de cultura importantes na sua formação estão os livros escritos por várias mulheres da sua família inglesa, quatro gerações antes dela. Mas está também um poster com Helena Almeida, vestida com um hábito e uma tela. É, então, um poster que traz com ele uma fotografia, uma pintura, uma performance, um discurso.

Os vários estratos da obra de arte, da experiência artística, a interdisciplinaridade, são assuntos para falar com Delfim Sardo, curador de artes plásticas, ensaísta e professor. Algumas coisas que foram um clarão para ele: ver Ana Hatherly na televisão e ler Madame Bovary em plena adolescência; ver aos 19 anos exposições de Alberto Carneiro, Fernando Calhau, Julião Sarmento, ter um professor como Miguel Baptista Pereira. Tudo coisas importantes e cedo.

Manuel Aires Mateus, arquitecto, traz para a conversa, como não podia deixar de ser, obras de arquitectura, as piscinas de Leça de Siza Vieira ou as termas de Peter Zumthor, a relação entre natureza e obra criada. Vem com ele Itália, os clássicos, o côncavo e o convexo de Richard Serra, vem a relação entre um livro e um filme: O Leopardo. O que há entre a obra de Lampedusa e a de Visconti?   

 

A lista de Delfim Sardo, curador, ensaísta e professor

  1. Ter visto o Obrigatório não Ver, da Ana Hatherly, semanalmente na televisão quando tinha 14 anos;
  1. Ter lido Madame Bovary, de Flaubert, quando tinha 15 anos;
  1. Ter ouvido 77 dos Talking Heads quando tinha 16 anos;
  1. Ter visto, ao vivo, Max Roach quando tinha 17 anos;
  1. Ter visto Apocalypse Now (Coppola, 1979) quando tinha 18 anos;
  1. Ter visto dançar Merce Cunningham, ter visto as primeiras exposições do Julião Sarmento, do Fernando Calhau e do Alberto Carneiro no CAPC, tudo quando tinha 19 anos;
  1. Ter lido a Ética de Spinoza quando tinha 20 anos;
  1. Ter lido Under the Volcano, de Malcolm Lowry, quando tinha 22 anos;
  1. Ter sido aluno de Miguel Baptista Pereira quando tinha 23 anos. Ter começado a trabalhar com o Fernando Calhau quando tinha 29 anos;
  1. Ter visto a exposição retrospectiva de Bruce Nauman quando tinha 31 anos.

 

A lista de Filipa Lowndes Vicente, historiadora

  1. Federico Garcia Lorca, Romancero Gitano (1928);
  1. Livros publicados pela minha tetravó Louise Swanton Belloc; trisavó Bessie Rayner Parkes; bisavó Marie Belloc Lowndes; avó Susan Lowndes; mãe Ana Vicente;
  1. Desenho do meu avô Arlindo, na Cadeia de Caxias, do Telo de Mascarenhas;
  1. Do Amor e dos Dias, Camané. CD e 2 concertos no São Luiz;
  1. Virginia Woolf, A Room of Own's Own, Um quarto que seja seu;
  1. Festival Todos. Caminhada de Culturas, Martim Moniz;
  1. Exposições (do passado e do presente);
  1. Fotografia. Poster da Helena Almeida;
  1. Estações de comboios/cidades/feiras;
  1. Associações de direitos humanos/activistas.

 

 A lista de Manuel Aires Mateus, arquitecto

  1. O Leopardo, Giuseppe Tomasi di Lampedusa (livro, 1956);
  1. O Leopardo, Luchino Visconti (filme, 1963);
  1. Elogio da Sombra, Junichiro Tanizaki;
  1. Piscinas de Leça da Palmeira, Álvaro Siza Vieira (1966);
  1. Termas de Vals, Peter Zumthor (1996);
  1. Igreja de San Carlino alle Quattro Fontane, Francesco Borromini (séc. XVII);
  1. Villa Rotonda, Andrea Palladio;
  1. Mosteiro dos Jerónimos;
  1. Betty (1988), Gerhard Richter;
  1. Torqued Ellipses, Richard Serra. 

José Saramago: o Nobel

23.01.18

Um momento de glória. Quando chega a uma escola nova e dá um único erro ortográfico no ditado: escreve “calsse” em vez de “classe”, e passa para a carteira do melhor. “Foi aqui, agora que o penso, que a história da minha vida começou”.

Outro momento. “Quando o PEN Clube me atribuiu o seu prémio pelo romance “Levantado do Chão”, contei esta história para assegurar às pessoas que nenhum momento de glória presente ou futura poderia, nem por sombras, comparar-se àquele. Tinha publicado o “Levantado do Chão” em 1980, ainda tinham que passar 18 anos para que me dessem o Prémio Nobel... Momento de glória, o que é que isso quer dizer?”

A Glória. “Uma sensação de glória só pode ser algo muito fugaz. O que constrói a glória é a visão dos outros. Já que os outros acham que têm motivo para isso, a pessoa começa também a achar. Imaginar que por causa do Nobel é que passei a andar num virote... A minha vida antes já era essa, desde os anos 70, final dos anos 60. Só multiplicou aquilo que vinha sucedendo já. Mas multiplicou por muito, tenho que dizer. Não mudou nada. Nem me pôs defeitos que não tivesse antes, nem introduziu qualidades que não fossem as minhas. A pessoa que sou não mudou. E os meus amigos e todos os que me conhecem podem confirmá-lo. Não tenho pose. Gosto muito quando vou na rua e as pessoas me param: “É só para o cumprimentar, como vai?, gosto muito daquilo que escreve”. São pequenas glórias praticamente quotidianas. Aqui ou em Espanha”.

José Saramago, 2006, em entrevista para o Jornal de Negócios a propósito da publicação do seu livro de memórias. Um livro em que recua até um tempo que deixou de existir. Mas que vive nele, porque ele fez-se nesse “fundo movediço, composto de restos, de detritos de tudo e de todos” onde fica a infância. “E há coisas que estão aí “ipsis verbis”, frases que ficaram durante 70 anos ou mais na minha memória. Até mesmo factos, pessoas e nomes que julgava esquecidos, quando comecei a escavar, de repente, subiram à superfície. O quarto onde se dormia, a varanda que dava para a Rua Heróis de Quionga, na Mouraria, a prostituta que me disse assim, eu tinha doze anos: “O menino quer vir para o quarto?”.

Fez-se na Azinhaga, nos quartos com serventia de cozinha nas casas partilhadas de Lisboa. Fez-se na aspereza dos dias. Na necessidade. Na humilhação. O que ficou desse tempo?

Um sapateiro que lhe perguntou: «Você acredita na pluralidade dos mundos?». A memória reconfortante do avô Jerónimo: “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler, nem escrever”. Citou-o no discurso do Nobel. A memória reconfortante da avó Josefa: “Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. (…) E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém”. Memória transformada em carta, publicada n’ A Capital em 1968 e publicada recentemente em postal.

Era um tempo em que José Saramago era Zezito. Que vive nele. Abeirou-se dessas memórias como quem abraça as árvores do seu quintal. “Terá o pressentimento de que o fim chegou, e irá de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os troncos, despedir-se deles, das sombras amigas, dos frutos que não voltará a comer. (...) Que palavra dirá então?”.

A morte rondou-o, há um ano. A gadanha pronta. Tê-lo-ia o inconsciente pressentido quando o parou nas memórias de infância? O consciente afirma que a ideia do livro existia há vinte anos. Mesmo assim. Foi um susto. Pilar agarrou-lhe pelos colarinhos e gritou-lhe que ele tinha de viver. Segurou-o. Novo milagre: o amor a prendê-lo à vida. O primeiro milagre é, segundo Eduardo Lourenço, toda a sua vida.

“Os meus pais sacrificaram-se muito e deram-me estudos para ir para a universidade? Não, tive estudos que estavam ao meu alcance e ao alcance da bolsa da família: estudei para ser serralheiro mecânico. Fui serralheiro mecânico. Depois fui várias coisas ao longo da vida. Li muito. Livros meus só os tive quando tinha 19 anos, quando pude comprar, com dinheiro que um amigo me emprestou. Houve dois momentos importantes na minha vida que decidiram tudo. Um deles, não muito consciente, foi o facto de ter deixado de escrever depois de ter escrito esses livros. Durante 20 anos, quase não escrevi. Só voltei a publicar em 1966. O segundo momento foi em 1975, quando, depois do 25 de Novembro, fiquei sem trabalho e sem esperança de o conseguir. “E agora, o que é que eu faço? Tenho aí alguns livros, mas não tenho uma obra, é agora ou nunca”. Durante cinco ou seis anos, talvez sete, vivi de traduções, ao mesmo tempo que ia escrevendo o “Manual de Pintura e Caligrafia”, e o “Objecto Quase”. A sorte foi que o Círculo de Leitores me tivesse convidado para escrever “Uma Viagem a Portugal”, em 1979-80. Foi bem pago, deu-me uma estabilidade económica que me permitiu afrontar durante um ano ou dois o trabalho [da escrita], sem estar a pensar que tinha que ganhar dinheiro_ ele já estava ganho”.

Pilar, “mais do que um anjo, uma mulher. Podia ser qualquer outra, dirá você. Pois, mas é esta. A diferença está aí. De anjo tem muito pouco. É de carácter demasiado forte”. A jornalista espanhola que apareceu na sua vida em 1986. Na agenda pessoal do escritor, permanece a folha de uma árvore, dourada pelo tempo, que assinala esses dias. Era para ter sido no dia 11 de Junho, e ele pensava que ela era Pilar de los Rios. Mas o encontro deu-se, na verdade, dias mais tarde, a 14, e ele riscou sobre o nome e sublinhou numa cor fluorescente: Pilar del Río.

Tudo mudou. Saramago tinha passado os 60, e não podia supor que tinha ainda uma vida inteira para viver. Nunca desligada da criança que havia sido. Nunca desligada das convicções que fizeram dele o homem de convicções que é. “Quero ter tempo para escrevê-la [a obra], reivindico tempo para escrevê-la. Mas não é a única prioridade, eu vivo neste mundo. E o que se passa, em primeiro lugar interessa-me, em segundo lugar impressiona-me, em terceiro lugar indigna-me, e tenho que dar voz a estes sentimentos. Passe-se a questão na América Hispânica, em África, na China. Não é que ande a dar lições de moral a todo o mundo. Limito-me a dizer aquilo que penso. Se tenho algum motivo de orgulho, e creio que tenho direito a tê-lo, é poder dizer que a mim não me calam”.

Pilar já estava quando a expectativa do Nobel existia. O amigo Jorge Amado escreve numa carta, em 1994: “Queridos Pilar e José, ainda não será desta que iremos os quatro, a Estocolmo, festejar o Nobel de José: um japonês nos atropelou. (…) PS: Para dizer toda a verdade, devo convir que os US$950,000 do Nobel cairiam muito bem no bolso de um romancista português ou brasileiro, pobres de marré marré”. Estava quando intelectuais como Susan Sontag os visitou em Lanzarote (1996). Ou quando se deram os encontros com Harold Bloom (2001) e George Steiner (2002).

Saramago estava no aeroporto de Frankfurt quando lhe comunicaram que “pela sua capacidade para tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolas suportadas pela imaginação, a compaixão e a ironia” lhe era atribuído o Prémio Nobel da Literatura. No dia 8 de Outubro de há dez anos. O escritor quer continuar a ser o cidadão comprometido que sempre foi: “O Nobel dá-me a oportunidade de ser mais eu”. Em 2004 dirá: “Sim, tenho o Nobel, e quê? Nada mudou”. E por isso não é estranho que durante o banquete, na Suécia, tenha denunciado o incumprimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Foi nomeado, agraciado, reconhecido. Filho adoptivo desta e daquela cidade, sócio honorário deste e daqueloutro clube, honoris causa de mil e uma universidades. Recebeu medalhas, condecorações, títulos. Uma imensidão. Quais o terão tocado? Alguns exemplos: Leitor Emérito da Biblioteca Nacional. O Grande Colar da Ordem de Santiago, até aí reservada apenas a chefes de Estado. “Ensaio sobre a Cegueira” foi adaptado por Fernando Meirelles e abriu o último Festival de Cannes. A exposição “A consistência dos sonhos” mostrou numa sequência cronológica a sua vida, primeiro em Lanzarote, depois em Lisboa. Reconciliou-se um pouco com o país. Sócrates disse-lhe: “Gostamos muito de si”. Ele respondeu um “obrigadinho” sentido.

Há uns meses, regressou à ilha. A casa. Escreveu um romance cuja ideia é antiga. “A Viagem do Elefante” é um livro que podia não existir. Há um ano, não se acreditaria que ele existisse. Mas está pronto a sair. Terceiro milagre.

"Tenho uma péssima fama, fama de sisudo, de carrancudo, de cara fechada. E depois passa-se a qualificativos de outro género: “Arrogante”, “orgulhoso”, “vaidoso”. Não me reconheço em nada disso, mas cada um olha para mim como quer. Claro que não me desmancho em sorrisos para toda a gente, não sou assim

Gostam do que escrevo, mas mais importante é que gostam da pessoa que eu sou. Se há algum motivo de glória que tenho, nem é o dia na escola primária nem sequer é o Nobel: é o saber-me amado por muitíssimos milhares de pessoas no mundo. Pode isto parecer uma presunção, que estou aqui a inventar uma história bonita para os leitores do seu jornal, mas não. A história bonita é, mas não é inventada."

 

 Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2008

Curso de Cultura Geral - 21 Jan 2018

21.01.18

Há muitas maneiras de fazer uma lista. Apontar as primeiras coisas que vêm à ideia. Apontar uma colecção de objectos, pessoas e lugares que traduzem um momento. Fazer uma escolha de experiências importantes, que deixam perceber uma construção pessoal. O que peço aos convidados do Curso de Cultura Geral: que indiquem, numa lista de dez, objectos e experiências de cultura que foram marcantes para si. Não importa o cânone, as obras que devem constar, o Miguel Ângelo e o Shakespeare, o Camões, ainda que estes e todos os outros possam estar. O que procuro: pistas para podermos conversar, aprender todos, partilhar um património que é próprio e que é comum, uma noção de cultura que é geral e sempre particular. Hoje, falo com Fernanda Mira Barros que, descrita pela sobrinha no livro Tia Mira, é uma pessoa que passa o tempo a ler e a escrever; é editora da Cotovia. Falo com João Constâncio, professor de Filosofia, estudioso de Platão e Nietzsche, fascinado por Chico Buarque, Dioniso, um livro de xadrez que leu nos anos de formação. E Anastasia Lukovnikova, russa, 30 anos, que estuda o cinema na primeira pessoa por causa de Chantal Akerman, que percebe que, de certa maneira, tudo começou quando a mãe lia para si, todas as noites, antes de adormecer.

 

A lista de Anastasia Lukovnikova, cineasta

  1. A minha mãe ler para mim, desde pequena: As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, Colmilhos Brancos, de Jack London, Yevgeny Onegin, de Pushkin;
  1. Fritz Lang, Metropolis;
  1. Os poemas e as cartas de amor de Maiakovski;
  1. Couchsurfing. Viajei muito ficando nas casas de pessoas desconhecidas pela Europa e Estados Unidos. Conheci diferentes culturas e modos de viver;
  1. Roland Barthes: Fragmentos de um Discurso Amoroso, A Câmara Clara, Mitologias, Como Viver Junto;
  1. A língua portuguesa que virou a língua do amor e do afecto. Diferente do inglês, língua do trabalho, das viagens e dos estudos;
  1. Chantal Akerman: a sua filmografia inteira levou-me ao tema do meu mestrado, o cinema na primeira pessoa;
  1. O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir;
  1. A viagem no comboio transiberiano para descobrir o meu país;
  1. Jean-Luc Godard, de À Bout de Souffle a Histoire(s) du Cinéma;

 

A lista de Fernanda Mira Barros, editora da Cotovia

  1. Planície alentejana;
  1. Frasco de mel;
  1. Museu Miró, Barcelona: “A esperança de um homem condenado” – série de três pinturas de 1974;
  1. A Dama de Chandor, filme da Catarina Mourão;
  1. Livro Obra Escrita de João César Monteiro;
  1. Amália a cantar a “Grândola Vila Morena”;
  1. Gato;
  1. Simone de Beauvoir;
  1. Garrafa de vinho e garrafa de água do Vidago;
  1. Suites para violoncelo de Bach, por Rostropovitch.

 

A lista de João Constâncio, professor de Filosofia

  1. O Teeteto de Platão e a cultura grega;
  2. Nietzsche;
  3. A partitura da Chaconne de Bach transposta para guitarra clássica;
  4. Um livro com a história do xadrez que li quando tinha 12 ou 13 anos, e que reli várias vezes, e em que ainda hoje penso muitas vezes;
  5. O Chico Buarque;
  6. Os primeiros filmes que adorei: westerns e os três primeiros filmes que tivemos em casa em VHS: Raiders of the Lost Ark (Spielberg), Singing in the Rain (Gene Kelly e Stanley Donen) e A Flauta Mágica (Bergman);
  7. Crítica da Razão Pura, Kant;
  8. O diário da minha avó Licas;
  9. Os Cus de Judas de António Lobo Antunes na adolescência, pelas boas e más razões;
  10. Os sinos de Bicêtre de Simenon.

 

Curso de Cultura Geral - 2ª temporada

21.01.18

Regressa hoje (21 Janeiro, 23.15) à RTP2 o Curso de Cultura Geral, de que sou autora e apresentadora.  A estrutura do programa mantém-se: três convidados discutem sobre experiências de cultura, objectos, autores, obras de arte que foram importantes na sua construção pessoal.

Nessa discussão interrogam a noção de cultura geral, os encontros, detonações, acasos felizes e férteis.  São pessoas de diferentes áreas, (um sociólogo, um gestor, uma curadora de documentários, uma antropóloga, escritores, realizadores, professores...), faixas etárias variadas, duas brasileiras, uma russa, portugueses, que trazem para a esfera da conversa elementos tão singulares como as suas personalidades.

De uns, vêm viagens, de outros a música (de Chico Buarque e Bach), a aventura de ler Grande Sertão: Veredas em voz alta, fala-se de obras de banda-desenhada, clássicos de Dostoievski e Tolstoi, feminismos de Virginia Woolf ou Chimamanda, experiências de carácter nacional, como passar pelo 25 de Abril durante a juventude.



Um dos convidados da segunda temporada do Curso de Cultura Geral, aponta A Cartuxa de Parma como um dos livros da sua vida. Considera que cada um de nós é uma espécie de Fabricio Del Dongo que todos os dias cruza “a batalha de Waterloo” que é a vida, sem compreender o que se passa. É capaz de ter razão. O paralelo estabelecido faz-nos pensar no lugar da cultura na nossa vida. Que coisas podemos aprender num romance como o clássico de Stendhal? Como é que isso nos ajuda a encontrar o ímpeto necessário ao dia seguinte, à batalha permanente? E como é que a não-compreensão fomenta a criação de cultura?



Uma vez mais, a paridade de género foi tida em conta, mantendo o mesmo número de mulheres que o de homens na escolha dos convidados no conjunto dos 13 programas; e novamente há uma mistura de pessoas conhecidas do grande público e outras anónimas.

A entrada neste Curso é livre e a aprendizagem e partilha de ideias são altamente encorajadas. Seja bem vinda/o!

 

 

Ler Saramago no Chiado

21.01.18

José Saramago teve uma bela amizade (esse "manjar supremo" da vida) com Jorge Amado. A correspondência entre os dois, lançada no Brasil durante a última Flip e em Portugal no Outono passado, deixa ver uma relação profunda, com o mar pelo meio, alimentada em cartas, faxes, bilhetes, diferentes formas de encontro. O livro é um dos pontos de partida para o próximo Ler no Chiado e uma conversa com Pilar del Río (presidenta da Fundação Saramago) e José Carlos Vasconcelos (o jornalista que foi amigo próximo dos dois escritores). Outro: os 20 anos do Nobel do escritor português, que se assinalam em 2018. No dia 25 de Janeiro às 18.30, na Bertrand do Chiado. 

(Quase) Toda uma Vida - Borges Coelho

10.01.18

Começar uma aventura exigente como a escrita de uma História de Portugal, depois dos 80 anos, sozinho, diz qualquer coisa de António Borges Coelho. É tenaz, trabalhador, talvez apaixonado pela vida, seguramente apaixonado pela História, de que o seu nome é indissociável. Talvez tenha sido essa mesma fibra que o fez resistir seis anos preso no forte de Peniche, resultado da oposição firme ao regime salazarista e de uma intensa actividade política nos anos da ditadura. Um dia, um vizinho passou-lhe para as mãos o Manifesto Comunista de Marx, que tinha escondido e enterrado no quintal...  

A obra publicada de Borges Coelho é vasta e, além da História, inclui poesia ou teatro. Foi professor catedrático na Faculdade de Letras de Lisboa, deu a sua última lição em 1998. 
Nasceu num Trás-os-Montes onde a pobreza era gritante, em 1928.  
Converso com ele na primeira sessão de 2018 do (Quase) Toda uma Vida, 14 de Janeiro, no CCB.