Curso de Cultura Geral - 21 Jan 2018
Há muitas maneiras de fazer uma lista. Apontar as primeiras coisas que vêm à ideia. Apontar uma colecção de objectos, pessoas e lugares que traduzem um momento. Fazer uma escolha de experiências importantes, que deixam perceber uma construção pessoal. O que peço aos convidados do Curso de Cultura Geral: que indiquem, numa lista de dez, objectos e experiências de cultura que foram marcantes para si. Não importa o cânone, as obras que devem constar, o Miguel Ângelo e o Shakespeare, o Camões, ainda que estes e todos os outros possam estar. O que procuro: pistas para podermos conversar, aprender todos, partilhar um património que é próprio e que é comum, uma noção de cultura que é geral e sempre particular. Hoje, falo com Fernanda Mira Barros que, descrita pela sobrinha no livro Tia Mira, é uma pessoa que passa o tempo a ler e a escrever; é editora da Cotovia. Falo com João Constâncio, professor de Filosofia, estudioso de Platão e Nietzsche, fascinado por Chico Buarque, Dioniso, um livro de xadrez que leu nos anos de formação. E Anastasia Lukovnikova, russa, 30 anos, que estuda o cinema na primeira pessoa por causa de Chantal Akerman, que percebe que, de certa maneira, tudo começou quando a mãe lia para si, todas as noites, antes de adormecer.
A lista de Anastasia Lukovnikova, cineasta
- A minha mãe ler para mim, desde pequena: As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, Colmilhos Brancos, de Jack London, Yevgeny Onegin, de Pushkin;
- Fritz Lang, Metropolis;
- Os poemas e as cartas de amor de Maiakovski;
- Couchsurfing. Viajei muito ficando nas casas de pessoas desconhecidas pela Europa e Estados Unidos. Conheci diferentes culturas e modos de viver;
- Roland Barthes: Fragmentos de um Discurso Amoroso, A Câmara Clara, Mitologias, Como Viver Junto;
- A língua portuguesa que virou a língua do amor e do afecto. Diferente do inglês, língua do trabalho, das viagens e dos estudos;
- Chantal Akerman: a sua filmografia inteira levou-me ao tema do meu mestrado, o cinema na primeira pessoa;
- O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir;
- A viagem no comboio transiberiano para descobrir o meu país;
- Jean-Luc Godard, de À Bout de Souffle a Histoire(s) du Cinéma;
A lista de Fernanda Mira Barros, editora da Cotovia
- Planície alentejana;
- Frasco de mel;
- Museu Miró, Barcelona: “A esperança de um homem condenado” – série de três pinturas de 1974;
- A Dama de Chandor, filme da Catarina Mourão;
- Livro Obra Escrita de João César Monteiro;
- Amália a cantar a “Grândola Vila Morena”;
- Gato;
- Simone de Beauvoir;
- Garrafa de vinho e garrafa de água do Vidago;
- Suites para violoncelo de Bach, por Rostropovitch.
A lista de João Constâncio, professor de Filosofia
- O Teeteto de Platão e a cultura grega;
- Nietzsche;
- A partitura da Chaconne de Bach transposta para guitarra clássica;
- Um livro com a história do xadrez que li quando tinha 12 ou 13 anos, e que reli várias vezes, e em que ainda hoje penso muitas vezes;
- O Chico Buarque;
- Os primeiros filmes que adorei: westerns e os três primeiros filmes que tivemos em casa em VHS: Raiders of the Lost Ark (Spielberg), Singing in the Rain (Gene Kelly e Stanley Donen) e A Flauta Mágica (Bergman);
- Crítica da Razão Pura, Kant;
- O diário da minha avó Licas;
- Os Cus de Judas de António Lobo Antunes na adolescência, pelas boas e más razões;
- Os sinos de Bicêtre de Simenon.