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Anabela Mota Ribeiro

Curso de Cultura Geral - 25 Fev 2018

26.02.18

Quando começo por escolher os convidados de cada programa, não tenho ideia das coisas de que querem falar. Frequentemente há uma surpresa ao saber dos mundos que são convocados por cada pessoa e outra surpresa quando constato que há linhas comuns, dominantes, entre os três. É o que acontece hoje. O tema da morte, tema central, tema de que pretendemos esquivar-nos, está nas listas que peço aos convidados que elaborem e que constituem o ponto de partida para a conversa. O psicanalista Emílio Salgueiro aponta dois cemitérios no seu mapa de lugares importantes: Escalhão e Prazeres. A pintora Catarina Pinto Leite traz um dos maiores clássicos da literatura: A Morte de Ivan Ilitch de Tolstoi. A investigadora na área da dança Maria José Fazenda vai falar-nos de uma coreografia de Bill T. Jones que tem a ameaça sobre a vida como motor de reflexão e de criação. Uma primeira pergunta: porque evitamos falar sobre a morte?, porque é que só a menção da palavra morte nos deixa uma nuvem pesada sobre os olhos?

 

A lista de Catarina Pinto Leite, pintora

  1. Ter pais sensíveis e atentos que incutiram entusiasmo, curiosidade, gosto pelas artes e letras. Frequentar a escola alemã e o Conservatório Nacional de Música;
  2. Viver a adolescência no Brasil;
  3. A morte de Ivan Ilitch de Tolstoi; Às terças com Morrie de Mitch Albom;
  4. Aprendendo a viver de Clarice Lispector;
  5. Requiem de Mozart; Concerto nº 2 Rachmaninoff; Adagio de Albinoni; Nocturnos de Chopin;
  6. Ver a 9ª Sinfonia de Beethoven, num bosque à noite, perto de Berlim (1986); Concerto dos Pink Floyd em Lisboa, 1994;
  7. Coreógrafa Sasha Waltz, em 2013 na Gulbenkian – Gefaltet;
  8. Rembrandt - retrospectiva em Berlim, na Gemaldegalerie em 1991;
  9. Picasso and Portraiture, MoMA, New York, 1996; Anselm Kiefer, Hamburger Bahnhof Berlim, 2004; Mira Schendel, retrospectiva em Serralves, 2012; Cy Twombly, Brandhorst Museum, Munique, 2016;
  10. Museu Judaico, Berlim (visitei em 2004): a instalação de Menashe Kadishmann.

 

A lista de Emílio Salgueiro, psicanalista

  1. Paixão / rejeição / zanga / esquecimento;
  2. Desejo e prazer sexual na infância e na adolescência;
  3. Beleza feminina: rosto e corpo todo;
  4. Ciências / Liceu Camões. Aquário Vasco da Gama. Picasso em Antibes;
  5. Música: Capricho Espanhol de Rimsky Korsakov. Danças poloftzianas do Príncipe Igor de Borodin. Sinfonia do Novo Mundo de Dvorak;
  6. Freud e a Psicanálise;
  7. Beleza do campo / beleza do céu: Rio Mau. Alentejo / Alcáçovas;
  8. Cemitérios: Escalhão e Prazeres;   
  9. Guerra de Angola: abalo, dor e renascimento;
  10. Bibliotecas. Editorial Inquérito.

 

A lista de Maria José Fazenda, professora e investigadora na área da dança

  1. Serge Reggiani, Léo Ferré, Gilbert Bécaud, Jacques Brel, Georges Moustaki, Chico Buarque —ouvi-los na adolescência, em vinil; mais tarde, ver os seus concertos;
  2. A chegada do professor Jorge Salavisa à Escola de Dança do Conservatório Nacional;
  3. Palomar e outros livros de Italo Calvino. A personagem Blimunda, de Memorial de Convento, de José Saramago;
  4. Ler Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, por conselho do meu pai, quando já era professora;
  5. Infiltrada vários anos no open space onde se escrevia o Público, jornal em que colaborava como crítica de dança;
  6. Assistir a Still/Here (1994), de Bill T. Jones, e a outras obras subsequentes do coreógrafo, e desvelar, com as ferramentas da antropologia, a relação entre a arte, a vida, a cultura e a sociedade;
  7. As esculturas em ferro suspensas de Rui Chafes, como Comer o Coração (2004) e Ascensão (2016), e o seu imaginário romântico;
  8. Três dedos abaixo do joelho (2012), de Tiago Rodrigues;
  9. O Grande Mestre (2013) de Wong Kar Wai e o valor atribuído à transmissão e à circulação do conhecimento;
  10. Assistir pela primeira vez, ao vivo, a Jewels (1967), de George Balanchine, pelo Ballet da Opéra National de Paris, em Setembro de 2016.