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Anabela Mota Ribeiro

Curso de Cultura Geral - 22 Abril 2018

22.04.18

O mundo de Manuel Sobrinho Simões foi modificado mais por pessoas, casas, lugares, países, do que por obras de arte. Neste programa, falará mais do avó e do bisavô, médicos, de uma casa onde leu tudo o que havia para ler, das pedras parideiras da sua terra, Arouca; se tivermos tempo, daremos uma guinada até à Noruega, onde Sobrinho fez um pós doutoramento e viu de perto outra cultura, outra forma de viver as estações do ano.

Tatiana Salem Levy nasceu por acaso em Portugal onde os pais estavam por razões políticas e agora vive cá, tem um filho português. É brasileira, judia, ouviu canções sefarditas em crianças. O seu primeiro livro, A Chave de Casa, editado em 2007, constituiu a sua tese de doutoramento e apresentou o fulgor da sua escrita. O jornal inglês The Independent considerou-a uma das melhores escritoras brasileiras de sempre.

O mundo dos livros e das bibliotecas são a casa e a chave de Teresa Calçada, actualmente coordenadora do Plano Nacional de Leitura. Muito do que traz para a conversa é revelador do Portugal em que cresceu: opressivo, anquilosado, machista; e de repente, o espanto, por exemplo, num filme de Antonioni ou numa pessoa com Rui Mário Gonçalves..  

 

A lista de Manuel Sobrinho Simões, cientista

  1. As casas de Arouca e do Bombarral, com o meu Avô e o meu Bisavô, ambos médicos. Li tudo o que havia para ler nas diferentes casas, até Max Du Veuzit;
  2. Arouca pelo Aquilino Ribeiro d’ O Malhadinhas e Um Escritor Confessa-se;
  3. Bombarral e Camilo Castelo Branco;
  4. As pedras parideiras de Arouca;
  5. O pós-doutoramento em Oslo, Noruega. Circulo polar ártico;
  6. O meu Pai (sempre com cachimbo) e o Eça (A Ilustre Casa de Ramires e Os Maias);
  7. Jacques Brel e alguns cantores franceses (mais do que os Beatles…);
  8. A Sorbonne em Paris: o Hotel St. Pierre na Rue de l'École de Médecine e o café Les Deux Magots;
  9. O Brasil: Rio de Janeiro, Chico Buarque, Amazónia, a noção de excesso;
  10. África em 1990/91. Hotel Polana em Moçambique.

 

A lista de Tatiana Salem Levy, escritora

  1. Memórias de uma moça bem comportada de Simone de Beauvoir;
  2. A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector;
  3. Viagem à Itália com 15 e com 18 anos (e podemos incluir os Caravaggio da igreja francesa de Roma) e a viagem pela Sicília em 2017;
  4. Viagem ao Vietnã e a procura por Marguerite Duras;
  5. Concerto “Do cóccix até o pescoço”, da Elza Soares, no Mistura Fina;
  6. Cravos, Pina Bausch, no teatro municipal do Rio de Janeiro;
  7. E se elas fossem para Moscou?, Peça de Christiane Jatahy, a partir de As três Irmãs, de Tchekhov;
  8. Cantigas sefarditas;
  9. Caminho Inca, no Peru, e a descoberta da América Latina;
  10. Os diários e as cartas de Kafka.

 

A lista de Teresa Calçada, directora do Plano Nacional de Leitura*

  1. Ouvir muitas histórias. O sotaque brasileiro de um tio-avô: as palavras eram iguais e eram verdadeiros brinquedos. Depois, aprender a ler essas palavras, antes mesmo de ir para a escola;
  2. As inundações de Novembro 1967 em lisboa: a brutalidade da miséria urbana, o encobrimento político, a luta, o imperativo de agir. Revolta pela diferença social entre rapazes e rapariga. O início da consciência política;
  3. Uma amizade com uma mulher livre. Uma biblioteca aberta, que eu podia ler em liberdade. Um biquini vestido às escondidas. Ou o amor livre sem ser no vão de escada;
  4. O Deserto Vermelho (1964), de Antonioni, o primeiro que fui ver sozinha, no Tivoli. Não perceber nada, ter vergonha e ter a certeza de que aquilo é que era preciso vir a perceber...;
  5. A Filosofia: protestos por um curso anquilosado que não correspondia às expectativas e reconhecer que dava ferramentas para a vida;
  6. A Arte: a importância do Rui Mário Gonçalves;
  7. O 25 de Abril. O limite das experiências e emoções. Não ter que sair do país, ter causas, agir, acreditar e desacreditar em liberdade;
  8. Como professora, trabalhar umas horas na biblioteca do liceu de Leiria e descobrir o maravilhoso mundo das bibliotecas;
  9. O campo, os campos de flores, de trigo, de papoilas. As árvores. A terra. O silêncio. A aurea mediocritas.

 

*A convidada preferiu que a sua lista fosse de nove elementos.