Veneza
Casa-Museu Peggy Guggenheim
A milionária americana Peggy Guggenheim viveu anos nesta casa, junto ao Grande Canal. Um palácio veneziano que ficou por acabar, de um só piso, com uma escultura fálica, provocadora, à entrada. A campainha era aí…
O museu apresenta a sua colecção de arte moderna. As esculturas de Brancusi, de quem foi amiga. As pinturas de Max Ernst, com quem foi casada. As peças de Magritte ou Picasso, de gente lá de casa.
Peggy foi a herdeira rica que experimentou a joie de vivre na Paris no início do século XX. Foi o amigo Samuel Beckett que a incentivou a dedicar-se à promoção da arte moderna. E foi o amigo Marcel Duchamp que a apresentou ao meio.
Usava óculos excêntricos, de que há réplicas e merchandising. Morreu em 1979. As suas cinzas estão num canto do jardim, perto do sítio onde estão enterrados os seus adorados cães.
Hotel des Bains
É o hotel do mítico filme de Visconti “Morte em Veneza”. Ali se passa a perturbadora história de um homem de meia-idade que tem uma paixão platónica por um jovem polaco. É portanto um cenário de amores opressivos, encontros e desencontros.
Interiores requintados. Os empregados fazem parte da mobília e deslizam silenciosos. Terraços de um lado e do outro. Um bosque pequeno e esparso nas imediações. Uma praia restrita aos hóspedes do hotel do outro lado da estrada.
Os toldos continuam a ser listrados de azul e branco. Como o fato de marinheiro de Tadzio, que encarna a pureza e a juventude.
E por ali estão as famílias inteiras, os estrangeiros que vêm a banhos, as nannies que tomam conta das crianças.
Já não se vêem figuras evanescentes como a mãe do jovem polaco. Mas algures, em plena cidade, é possível ver um cavalheiro que se veste como o alemão de meia idade Aschenbach, de aparência viciosa.
A sala do pequeno-almoço chama-se Thomas Mann (é do livro homónimo que se faz o filme de Visconti).
Servem bellinis numa taça. Perfeitos para acompanhar o enredo.
Fica no Lido, a ilha em frente a Veneza. No Inverno fecha.
http://desbains.hotelinvenice.com/
Scuola Grande San Rocco
Está para Veneza como a Capela Sistina está para Roma. É um espaço de uma beleza de cortar a respiração. Especialmente quando se usam espelhos rectangulares, com efeito ampliador, para ver o reflexo das imagens que estão no tecto ou nas paredes altíssimas. É uma técnica simples que permite analisar, de modo aproximado – como se se usasse uma lupa – a expressão de um rosto, um gesto, o brilho das cores, a textura dos materiais.
É estonteante a beleza das telas de Tintoretto, que fez da Scuola Grande San Rocco a sua oficina. Uma parte significativa do que é exibido pertence-lhe. Mas há também Bellini ou Ticiano.
Há várias Scuolas Grandes. Mas a de San Rocco é a mais esplendorosa. E se na Academia se vê a pintura de todos os mestres venezianos, neste espaço, (relativamente pequeno, se comparado com o do museu), está uma amostra concentrada e genial do Renascimento em Veneza.
Contígua à Scuola Grande fica a igreja com o mesmo nome (San Rocco), igualmente revestida a obras de arte.
O bilhete custa sete euros.
Mercado de Rialto
A ponte de Rialto forma, com a Praça São Marcos, o coração e o pulmão de Veneza. Ao lado, de manhã bem cedo e até à hora de almoço, há um mercado que é considerado um dos melhores do mundo. Tal a diversidade, frescura e qualidade dos seus produtos.
A primeira coisa que impressiona é assistir ao transporte dos caixotes pelo Grande Canal, ver o modo como são descarregados junto ao mercado.
Depois, é descobrir entre as bancas o que nenhuma natureza morta pode pintar: como são belos os citrinos da Sicília, as vieiras e as ostras, o tomate de um vermelho sangue, as folhas viçosas do manjericão.
Além do colorido local, a mancha humana. Quem são as pessoas que vivem em Veneza e ali fazem compras domésticas. Como são aqueles que os atendem, o seu gesticular, o linguajar.
A organização do mercado é exemplar, por secções; mas a profusão de cheiros é inevitável.
Experimente os diferentes tipos de parmesão. Um clássico servido com rúcola; uma delícia com pêra. Há também a mozzarella di buffala: qualquer semelhança com a que se come em Portugal é coincidência!
10 coisas que não pode deixar de fazer
- Pensar em Hemingway no Harry’s Bar quando beber um Bellini (uma mistura de champanhe com sumo de pêssego).
- Comprar gravatas e lenços de seda – desde oito euros a peça.
- Visitar o La Fenice e recordar a cena de abertura do filme “Senso”, de Visconti.
- Assisti ao pôr do sol no terraço do Hotel Bauer e recordar que era ali que Maria Callas se instalava.
- Ler as páginas que Goethe dedica a Veneza no livro “Viagem a Itália”.
- Abrir os braços nas ruas mais estreitas e tocar as paredes com as mãos.
- Arruinar-se em 20 minutos, num passeio de gôndola. Atentar na acústica da cidade – particular, por causa dos canais.
- Perder-se no labirinto de ruas, pontes, canais, sem ter medo. A criminalidade é baixíssima (excepto carteiristas), e rapidamente se encontra um ponto de referência.
- Beber chocolate quente no Florian, o café mais antigo da Europa, em plena Praça São Marcos.
- Ficar numa das esplanadas da praça e assistir ao formigueiro de gente que por ali passa.
Onde ficar
Os hotéis, mesmo os mais modestos, praticam preços altos, e a oscilação é grande, consoante o período do ano. Na semana da Bienal ou do Festival de Cinema os preços explodem.
Um Bed and Breakfast pode ser uma boa solução. Pode encontrar um estúdio, com cozinha, por 100 euros. Ou um quarto com pequeno almoço por 75.
Pesquise no Google, a oferta é vasta.
Como circular
De barco, naturalmente! O vaporetto, o barco grande que constantemente cruza o Grande Canal, oferece, além do mais, uma visita ao nervo principal da cidade. Um passe para três dias é barato. Mas é lento e está sempre apinhado de turistas.
O melhor é fazer a maior parte dos percursos a pé. Veneza é uma cidade pequena.
O que comprar
Em Itália, sê italiano. O pedaço mais sedutor para compras fica logo a seguir à Praça São Marcos. É aí que estão as grandes marcas. Lado a lado, Prada, Ferragamo, Bottega Veneta, Gucci, Dolce&Gabbana. (além de Chanel e Hermès). O difícil é não esgotar o plafond do cartão de crédito…
É claro que há também lojas locais com produtos locais, a preços mais acessíveis: vidros, brocados, sedas, papel, pinóquios, artigos em couro, mercearia fina. E é claro que há vendedores de malas, cintos e óculos falsos ao virar de cada esquina…
O que comer
É difícil que corra mesmo mal, mas é preciso ir a um extraordinário restaurante para que corra mesmo bem. A ementa resume-me a três variações principais: pizza, risotto, pasta. Por duas folhas de rúcola e umas lascas de parmesão cobram dez euros sem pestanejar.
Se quiser experimentar um prato local, fígado com polenta é uma possibilidade.
Comer é caro, como tudo em Veneza.
Publicado originalmente na revista Máxima.