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Anabela Mota Ribeiro

Gonçalo M. Tavares (Quest. Proust)

05.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?

 

Ao mesmo tempo que caminho a olhar para baixo sou capaz de olhar em frente. Ser de confiança.

 

E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?

 

Capacidade de transformar o mundo, diminuindo-o. Reduzir o importante a alguns metros quadrados.

 

Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?

 

Capacidade para perceber a direcção dos ventos. Perceber quando é a altura de recuar para o abrigo e quando é a altura de avançar para o sítio onde nunca se esteve.

 

Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?

 

Estar sempre a pensar noutra coisa.

 

Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...

 

Estar pronto para recomeçar. Estar pronto para continuar.

 

O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.

 

Não gosto de falar dos medos. Acredito que estes têm ouvidos e gostam de se aproximar de quem os teme.

 

Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?

 

Aos 13 anos queria ser jogador de futebol e matemático. Agora queria ser dois: um que avança e outro que fica no esconderijo.

 

Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?

 

Gostaria de viver num sítio onde não nos envergonhássemos do próprio contentamento.

 

Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.

 

Não sou de fixações. Gosto de muitos. O livro que mais me terá marcado: “Cartas a Lucílio” de Séneca.

 

E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.

 

Resposta impossível. Falemos de dois, os primeiros que hoje, neste momento, vêm à cabeça: Auden, Brodsky.

 

Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.

 

Hoje escolho a baleia – Moby Dick.

 

Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...

 

Escolho ainda o antigo: Mozart.

 

Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.

 

Escolho Lucian Freud.

 

Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.

 

O meu irmão do meio.

 

“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?

 

Gosto muito pouco de quem não utiliza o seu tempo de vida na sua própria vida.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!

 

Ter bom ouvido e bons dedos para a música. Ter olhos suficientemente ingénuos.

 

Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.

 

Gostaria de morrer rodeado de coisas – espaço, objectos, pessoas - que não me fossem estranhas.

 

Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?

 

Interessa-me pensar no que faço, e no que quero fazer. A identidade ou se move, ou aborrece.

 

Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?

 

Nada do que é encantador no homem me é estranho. E não estranho nada daquilo que no homem se revela terrível. Mas devemo-nos afastar daquilo que nos tira força.

 

Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?

 

Acabar o que estou a fazer, começar o que vou fazer. Proteger quem me protege.