Inês Pedrosa (Quest. Proust)
Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?
A necessidade de amar admiravelmente.
Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...
Esse grau superior da inteligência a que se chama bondade.
E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?
Esse grau superior da inteligência a que se chama bondade.
Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?
Verdade constante.
Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?
Não, credo! Os mais visíveis são: impaciência, irascibilidade, total intolerância para com a cobardia.
Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...
Viver.
Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?
Não vejo a felicidade como um quadro, mas como uma dança. Vai variando consoante a música.
O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.
A morte ou a incapacitação das pessoas que amo.
Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?
Eu mesma, mas melhor. Aos 13 anos, como agora.
Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?
Existe. Fica no hemisfério sul. Chama-se Brasil.
Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.
Agustina Bessa-Luís e Fernando Savater.
E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.
Luís de Camões, Sophia de Mello Breyner e Fernando Pinto do Amaral.
Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.
Orlando, de Virginia Woolf.
Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...
Mozart e Caetano Veloso.
Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores
favoritos.
El Greco e Paula Rego.
Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.
Mikail Gorbatchov, Nelson Mandela, Íngrid Betancourt.
“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?
Da ingratidão e da subserviência.
Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!
A voz de Amália e a beleza de Nicole Kidman.
Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.
Gostaria, simplesmente, de não morrer.
Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?
Não; não me lembro de alguma vez estar aborrecida. O que às vezes é cansativo.
Proust era condescendente em relação às faltas que conseguia compreender. Quais são aquelas que irreleva?
As que se cometem por amor.
Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?
A impossível perfeição.
Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010