Richard Zimler (Quest. Proust)
Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua?
A necessidade de amar e ser amado
Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”...
Sensibilidade
E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?
Solidariedade
Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas?
Confiança e solidariedade
Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar?
Ingenuidade e uma tendência para ficar ansioso.
Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele...
Escrever e fazer festinhas
Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade?
Sentir que estou precisamente no sítio onde quero estar
O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.
Não realizar (ou pelo menos tentar realizar) as minhas potencialidades.
Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora?
Aos 13 anos queria ser o Dr. J (vedeta de basketball). Agora, quero escrever bons
livros e estar com o Alex.
Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?
Demasiada harmonia nas emoções seria muito aborrecido. O meu país é o pequeno mundo da minha escrita e das minhas relações com o Alex e os meus outros amigos.
Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti.
Não tenho um favorito. Adoro William Faulker, William Maxwell, Erich Maria
Remarque, Gershom Scholem, Henry Miller, Doris Lessing e muitos outros.
E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire.
Poe, Rilke, Shakespeare, Thomas Campion, Al Berto e muitos outros.
Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra.
Scout, a menina do “To Kill a Mockingbird”.
Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter...
J.S. Bach, Beethoven, Handel, Lennon e McCartney, Pete Townshend, Cole Porter,
George Gershwin e muitos outros.
Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos.
Goya, Ribera, Kokoschka, Rembrandt, Dix, Rouault, Giotto...
Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.
Nelson Mandela, Mahatma Gandhi; Muhammed Ali, The Beatles, Goya...
“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso?
A falta da justiça no mundo.
Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!
Uma voz espectacular!
Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.
Com paz e amor (e num processo muito rápido!).
Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Pensar em quem é traz-lhe aborrecimento?
Tenho altos e baixos (é o meu feitio).
Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr?
Não sou supersticioso. A paixão faz-me correr (paixão pela escrita, pelo mundo,
pelos meus amigos...).
Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010