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Anabela Mota Ribeiro

Paula Morelenbaum

22.07.13

Quando entrevistei Paula Morelenbaum, ela acabara de lançar em Portugal o seu segundo álbum a solo, Telecoteco. A cantora brasileira é casada com o músico Jaques Morelenbaum e juntos têm uma filha, Dora. Vive no Rio, e quando está em digressão, pelo mundo todo. www.paulamorelenbaum.com.br

 

No seu projecto a solo propõe sempre uma releitura contemporânea de grandes clássicos. É um modo de se autonomizar do maior dos clássicos, António Carlos Jobim, com quem trabalhou dez anos? Uma forma de se distanciar da sua abordagem e classicismo?

Sim, poderia dizer que um dos motivos dessas releituras é esse. Mas existem outras razões, entre elas uma vontade de aproximar essas canções antigas, muitas vezes esquecidas, e até mesmo desconhecidas, de um público jovem e amante da música brasileira; e talvez a mais importante: me agrada muito essa mistura do antigo com o novo, novas interpretações para os clássicos, a mistura do acústico com o electrónico.

 

No disco anterior, cantava Vinicius de Moraes. Em Telecoteco, faz uma viagem ao repertório anterior à Bossa Nova, que ainda se "encontra" na moderna música brasileira. O que foi mais atraente para si neste período? Como fez a selecção das canções?

Estava à procura das raízes da Bossa-Nova. Então, fui descobrir nas músicas que se ouvia no Brasil nos anos 40 e 50 – período anterior à Bossa-Nova – o que poderia ter influenciado os bossanovistas. Conversei com Carlos Lyra, João Donato, Marcos Valle, Tereza Hermany (esposa do A.C. Jobim no início de sua carreira), com o jornalista Sérgio Augusto e com Paulo César de Andrade, musicólogo que me ajudou muito na procura das canções. Essas informações me levaram a selecção deste repertório. As canções atemporais foram as que mais me atraíram. E muitas me surpreenderam pelo seu carácter profético.

 

Há uma enorme diversidade de ritmos e linguagens em Telecoteco. Que vão do Samba, ao Tango, ou à canção americana de Gershwin. Foram as músicas que ouviu desde sempre? As que fizeram de si cantora?

Não, pelo contrário. Não tinha a menor intimidade com esse repertório, e canta-lo até foi um desafio para mim.

 

Podemos identificar neste disco cúmplices do passado, como Ryuichi Sakamoto. Mas também músicos de excelência como João Donato. Porque é que os "convocou"?

Desde o início do projecto, pensava em convidar músicos que admiro e que tiveram alguma relação com a Bossa Nova – ou comigo – para participarem no Telecoteco. Tinha certeza que a colaboração deles somaria e valorizaria ainda mais o álbum. Aí, foi só ver que música tinha o estilo do músico, e estava feito o vínculo. 

 

É uma brasileira cuja carreira tem uma força especial no Japão e nos Estados Unidos. O ambiente que se ouve no seu disco é aquele que cruza o Japão, os Estados Unidos, o Brasil – ou seja, o mundo todo?

Não sei, mas gostaria muito que fosse... O Telecoteco foi considerado pelo jornal O Globo como um dos 10 melhores CDs do mundo de 2008. Fico orgulhosa e feliz quando um importante meio de comunicação do meu país valoriza o meu trabalho. Acho que conseguimos achar nesse álbum uma linguagem bem moderna, mas acima de tudo autenticamente brasileira, do século 21. Espero que isso chame a atenção de todas as pessoas que gostam de música no mundo.

 

Publicado originalmente na revista Máxima