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Anabela Mota Ribeiro

Felipe Oliveira Baptista

27.07.13

Há um sentido narrativo no seu trabalho que lhe é essencial. De onde vem esta necessidade de contar histórias?

É algo de natural. Talvez o facto de ter crescido no meio de uma família bastante numerosa, onde se contavam e lembravam muitas histórias, tenha tido alguma influência. Hoje interessa-me uma narração mais abstracta, o confronto de elementos a priori desconectados ou contraditórios. Cada colecção é uma história-puzzle e cada peça de roupa é simultaneamente actor principal e secundário.

 

Porque é que fazer roupa é a sua forma de contar histórias? Porque é que esta é a sua forma de expressão?

Porque a moda toca muitas outras disciplinas de design e diferentes processos criativos. Isto interessa-me particularmente. Antes de me decidir por estudos de moda hesitei entre fotografia, design gráfico e antigos sonhos de cinema. Em moda toca-se (mesmo se levemente) todas estas disciplinas. Na pesquisa (fotografia, desenho); tailoring, drapeados sobre um manequim (escultura, arquitectura); desfile (mise en scène, styling, criação de uma banda sonora); até ao design de um livro, catálogo, look book ou do meu site na internet...

 

O que sabia, desde o início, é que o seu futuro passaria pelo que é visual. Podia ser cinema, podia ser pintura, podia ser vídeo?

Um olhar criativo era fundamental, portanto... compulsivo. O que eu gosto em moda (e do que mais me queixo também) é do seu ritmo frenético. Uma nova história de seis em seis meses. Uma nova página branca onde uma ideia ou história leva alguns meses a materializar-se. É uma pressão enorme mas também uma enorme  descarga de adrenalina.

 

Um crítico americano disse do seu trabalho: "Chamem-lhe couture de rua. Há um toque de hip pop na colecção. Mistura looks gregos e silhuetas contemporâneas. Os vestidos inspiram-se em kimonos". Revê-se nisto? Basicamente, o que entra nesta descrição é o mundo todo... diferentes culturas e influências.

É verdade que cada colecção é uma história que muitas vezes se compõe de elementos contraditórios. É este jogo de contrastes que me fascina. Quebrar regras, dogmas e rotinas é interessante e faz-nos olhar para o mundo de uma nova maneira (mesmo que esta seja efémera). É curiosa esta citação de que me fala e que nunca tinha lido.

 

Está disponível na internet.

Nunca me inspirei directamente num kimono. Mas isto também é interessante em moda: um desfile pode ser interpretado e compreendido de maneiras diferentes. A moda tem por vocação ser reinterpretada e "remixada"!

 

O seu mundo é um mundo de síntese? Porquê?

É uma maneira de ordenar todas as turbulências e agitações internas.

Gosto da ideia de exprimir contradições e dicotomias presentes na (minha) vida e no que me rodeia.

 

Que relação tem com Paris? Já vive há anos suficientes na cidade para ter com ela uma relação de deslumbramento e fastio... Ou continua enamorado? Diga-me um percurso/cantinho que sinta como sendo seu na cidade.

Paris é a cidade onde vivo, com os seus pontos positivos e negativos. Eu viajo muito e é verdade que cada vez que entro num táxi, do aeroporto a caminho de casa, estou sempre contente com o regresso!

Um sítio especial? Paris está cheia de sítios escondidos em cada bairro. O divertido é ir descobrindo. Um sítio autenticamente parisiense a dois passos de minha case é a Rue des Martyres, perfeito para um brunch de fim-de-semana no Hotel Amour ou no Rosemary Bakery. 

 

 

Publicado originalmente na revista LA Mag