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Anabela Mota Ribeiro

Copenhaga

19.12.13

Karen Blixen

É verdade que a primeira associação a Karen Blixen é o início de Out of Africa, e a voz de Meryl Streep a dizer: “I had a farm in Africa…”. Mas antes de ser queniana, Karen Blixen é dinamarquesa, e tem uma casa no campo, a 20 km de Copenhaga. Foi aliás nesta casa que viveu até morrer, em 1962, e a que regressou depois de passar 17 anos em África. O que é possível ver? A casa museu deixa entrever o espírito da escritora, o seu local de trabalho (onde escreveu todos os seus livros famosos), o rasto da paixão e da passagem pelo Quénia. Os jardins circundantes são encantadores. 

www.karen-blixen.dk

 

Arne Jacobsen

Talvez não conheça o nome de Arne Jacobsen, mas é provável que já tenha visto, pelo menos, uma das suas cadeiras famosas. A mais estilizada parece um ovo – chama-se, justamente, egg chair. A outra chama-se ant porque parece uma formiga, e é confortabilíssima (e uma das cadeiras mais vendidas do mundo). Jacobsen nasceu no início do século XX e morreu em 1971. É considerado um dos pais do design escandinavo, foi também arquitecto e desenhou têxteis. Assinou peças de linhas irrepreensíveis, com preocupações ergonómicas, que se tornaram clássicos do mobiliário.

 

Museu Louisiana

Os mais fanáticos consideram o Louisiana o mais bonito museu do mundo. É uma peça de arquitectura soberba, a um palmo do mar, com árvores frondosas do outro lado da rua. Madeira e vidro são os elementos dominantes do edifício, que acolhe maravilhosas exposições de arte moderna e que tem uma colecção permanente respeitável. Picasso ou Louise Bourgeois fazem parte. Há esculturas de Giacometti ou de Henry Moore a confundir-se com as árvores e os visitantes no jardim. Para chegar lá: o mais fácil é alugar um carro, sair de Copenhaga, avançar pela estrada secundária, espreitar as casas de fins de semana. É muito perto.

www.louisiana.dk

 

 

Malene Birger

A mais reputada criadora de moda dinamarquesa dá pelo nome de Malene Birger. Peças essenciais: vestidos glamourosos, tecidos esvoaçantes, românticos, materiais confortáveis, apontamentos étnicos. Roupa para usar todos os dias, com um toque de sofisticação e feminilidade. Boa proporção qualidade preço. A flagship store, em Copenhaga, é especialmente bonita.

www.bymalenebirger.com

 

Christiania

Uma experiência social, um estado independente, e livre de constrangimentos morais e convenções burguesas, Christiania é um bairro que quis ser um mundo à parte. A história começou nos anos 70, com o movimento hippie e inspiração em slogans como peace and love. Mas também drugs and rock and roll. Não foi preciso muito para que a zona de experimentação e o excesso anarquista ficassem associados ao consumo de drogas e a uma certa marginalidade. A recuperação do bairro é relativamente recente. Há cafés, restaurantes e galerias e um ambiente que não se respira em mais nenhum ponto de Copenhaga.

 

10 tópicos imperdíveis em Copenhaga:

1-  Comer peixes fumados com mostarda, em especial arenque. Têm um sabor intenso, por vezes avinagrado, e são excelentes. As almôndegas são uma espécie de prato nacional. Acompanhar com cerveja, claro. A sede da Carlsberg vê-se de todo o lado.

2-  Italiano para Principiantes é um divertido filme que confirma que os dinamarqueses são os italianos do norte (ou seja, mais expansivos, afectuosos, sociáveis que os seus vizinhos suecos, finlandeses ou noruegueses). Rodado em 2000, é uma boa introdução ao mundo dinamarquês.  

3-  Atravessar a Öresund, a ponte que mergulha no mar, e que liga Copenhaga a Malmö, na Suécia. É uma fabulosa obra de engenharia, que tem via para automóveis e para comboio. É a maior da Europa, e um túnel como qualquer outro (não, não se sente que se está debaixo de água). http://uk.oresundsbron.com

4-  Comer brunch ao fim de semana num dos muitos cafés da cidade. Entre no Café Stelling, desenhado por Arne Jacobsen nos anos 30. Experimente também o Café Norden, um café de esquina, com sofás e mesas corridas no primeiro andar. Como todos os cafés dinamarqueses, tem espaço, jornais e revistas para ler, mesas com grupos de amigos. Óptimo ambiente.

5-  Se se olhar para a história do cinema, aparece nas listas dos melhores filmes de sempre Ordet, do realizador dinamarquês Carl Dreyer. É um filme a preto e branco, sonoro, que trata de um milagre. Encontra-se à venda facilmente. A crentes e não crentes, A Palavra (título português) comove até às lágrimas. 

6-  Circule de bicicleta. Alugam-se por toda a cidade (é só depositar a moeda e andar). É uma cidade plana, ideal para pedalar e andar a pé. O número de ruas pedonais é considerável, e anda-se mais de bicicleta do que de carro.

7-  Hamlet, o príncipe da Dinamarca, imortalizado por Shakespeare na peça homónima, tinha o seu castelo em Elsinore. O castelo é visitável e vale a pena. Fica a norte de Copenhaga. O que se avista das ameias do castelo é deslumbrante.   

8-  Ir a Copenhaga e não ver a Pequena Sereia é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa. É normal que sinta um certo desapontamento – é especialmente pequena, reclinada sobre um rochedo. Há até quem passe e siga sem dar por ela. Mas outros consideram que a delicadeza da estátua é consentânea com o carácter desamparado da heroína do conto de Hans Christian Andersen.

9-  Peter Hoeg e Lars Saabye Christensen são dois dos autores dinamarqueses mais celebrados da sua geração. Peter Hoeg é um fenómeno desde que lançou nos anos 90 Smilla e os Mistérios da Neve (que vendeu mais de dois milhões de exemplares e foi considerado pela Time livro do ano; Billie August levou-o ao cinema). Ambos estão traduzidos em português.

10-      O Rei Cristiano X, reconhecido pela resistência feita aos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, é um dos elementos mais estimados (e memoráveis) da família real dinamarquesa. Ao contrário de membros de outras famílias reais, não se exilou durante a guerra, e ficou com o seu povo até ao fim dos seus dias, em 1947. Terá comentado com o seu secretário: “Se os nazis obrigarem os judeus dinamarqueses a usar a estrela de David, todos nós teremos de a usar”. Uma forma de solidariedade com aqueles que seguiam em massa para as câmaras de gás.  

 

 

Publicado originalmente na revista Máxima.