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Anabela Mota Ribeiro

Calendário do Advento

09.01.23

“Para isso fomos feitos / Para lembrar e ser lembrados [...] Pois para isso fomos feitos / Para a esperança no milagre”, escreveu o poeta Vinicius de Moraes no seu Poema de Natal.

O Natal faz-nos recuar a uma infância mitificada? O Natal é uma cápsula impermeável ao mundano, à agressividade, ao sexo (a ressonância bíblica ensina-nos que Maria engravidou sem pecado)? O Natal é um lugar onde se faz alarde do amor e da esperança e se ficcionam as boas intenções? Em que momento o Natal começou a ser o martírio, a destrutividade a vir por fora, o consumismo descontrolado? Persiste em nós o sentimento de que fomos esperados, de que somos, como o Menino Jesus, um Messias para os nossos pais? O Natal da convenção é também o do desamparo, como se lê nos versos de Fernando Pessoa (“Quando o corpo me arrefece, tenho o frio e Natal não”).

Advento significa chegada. Essa chegada pressupõe uma espera e é uma promessa. O Calendário do Advento anuncia, dia a dia, o aparecimento de um ser, de algo que se inicia. Ou seja, uma vida nova, um nascer de novo.

As alegrias do Natal, os atritos do Natal, os reencontros, os desencontros, o nascimento e a morte, as viagens (no tempo, interna, na estrada), a comida, as memórias da infância e a reconstrução dessas memórias nos filhos e nos netos, nos elos seguintes da árvore genealógica, as novas configurações da família, o país desigual, cortado nas diferentes geografias, tempo histórico, classe social, costumes e religiões, é aquilo que se procura questionar numa série de entrevistas a decorrer entre o dia 27 de Novembro e 24 de Dezembro. Justamente, enquanto se folheia este Calendário do Advento.

Entrevistas de 20 minutos, diárias, para as quais o convidado leva fotografias, presentes e memórias, e sai da sua biografia para reflectir, também, sobre esse grande mistério que é o Natal. Na RTP3, 20h. Programas disponíveis na RTP Play. 

Autoria e coordenação: Anabela Mota Ribeiro.

Fotografias de Estelle Valente.
 

Os entrevistados do Calendário:

Um clérigo, uma muçulmana, uma protestante, um judeu, ateus, agnósticos, católicos, uma etnomusicóloga que nos ajuda a perceber distâncias e caminhos comuns com o hinduísmo, uma mãe e uma filha, um pai e um filho, três pessoas negras, duas pessoas gay, pessoas nascidas nas décadas de 30, 40, 50, 60, 70, 80, anos 2000, artistas e criadores, cientistas, teóricos, pessoas que gostam do Natal, outras que nem por isso, 16 homens, 14 mulheres, um americano, um brasileiro, três moçambicanas, pessoas do Porto, Braga, Aveiro, Trás os Montes, Algarve. Podiam sempre ser outras pessoas, mas são estas. E que pessoas maravilhosas no Calendário do Advento! 

27 Nov - Aldina Duarte, fadista, 1967

28 Nov - Pedro Strecht, pedopsiquiatra, 1966

29 Nov - Helena Pato, matemática, resistente anti-fascista, 1939

30 Nov - Miguel Vale de Almeida, antropólogo, 1960

1 Dez - Sheila Khan, socióloga, 1972

2 Dez - José Avillez, chef, 1979

3 Dez - Maria Emília Brederode Santos, pedagoga, 1942

4 Dez - António Araújo, historiador, 1966

5 Dez - Filipa Roseta e Helena Roseta, arquitectas e políticas, 1973, 1947 

6 Dez - Richard Zimler, escritor, 1956

7 Dez - Lídia Jorge, escritora, 1946

8 Dez - Nuno Markl, humorista e locutor de rádio, 1971

9 Dez - Pedro Bidarra, publicitário e escritor, 1961 

10 Dez - Selma Uamusse, cantora, 1981

11 Dez - André Letria, ilustrador, 1973

12 Dez - Faranaz Keshavjee, investigadora Estudos Islâmicos, 1968

13 Dez - Carlos Fiolhais, físico, 1956

14 Dez - Isabel Camarinha, dirigente sindical, 1960

15 Dez - Frei Bento Domingues, clérigo, 1934

16 Dez - Gabriela Moita, psicóloga, 1963

17 Dez - Gonçalo M. Tavares, escritor, 1970

18 Dez - Graça Morais, pintora, 1948

19 Dez - Francisco Vaz da Silva, antropólogo, 1960

20 Dez - Cláudia Varejão, cineasta, 1980

21 Dez - Gregorio Duvivier, humorista e poeta, 1986

22 Dez - Susana Sardo, etnomusicóloga, 1963 

23 Dez - Sobrinho Simões, patologista, 1947

24 Dez - Sandro Feliciano, estudante e actor, 2005, e Jorge Feliciano, mediador de seguros, 1971