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Anabela Mota Ribeiro

Curso de Cultura Geral - 4 Fev 2018

05.02.18

Quando me preparava para este programa e pensava sobre as escolhas, objectos, experiências de cultura dos convidados de hoje, fui ao atelier de Vieira da Silva com Catarina Castel Branco, à Primavera de Praga e a momentos de revolução com Cláudio Torres, conheci uma poeta angolana que viveu apenas 32 anos, Alda Lara de seu nome, pela mão de outra poeta angolana, Ana Paula Tavares. Pode ser que cultura seja isto: a possibilidade de aprender, aumentar o mundo, ir a lugares onde nunca estivemos e com os quais passamos a ter diálogo, relação. Este programa chama-se Curso de Cultura Geral e pretende ser um lugar onde todos partilham qualquer coisa que foi transformador nas suas vidas, partilham assuntos e obras de arte de que gostam de falar.

Os convidados de hoje: Cláudio Torres quis ser escultor, formou-se em História de Arte, viveu na Roménia, em Marrocos, em França, fixou-se em Mértola nos anos 80 e parece que viveu lá desde sempre; é o arqueólogo que mudou o modo como vemos a nossa relação com o Mediterrâneo.

Ana Paula Tavares é angolana, professora de literatura. No seu dicionário afectivo (para citar o título de um livro seu) estão o Cântico dos Cânticos, os poemas da oralidade, os poemas que domesticam a oralidade, figuras de referência. É historiadora.

Catarina Castel Branco viveu num reino de fantasia na infância, acreditou na Fada Oriana de Sophia, teve uma mãe que incentivou as filhas a pintar nas paredes e diz que ainda hoje escreve e pinta nas paredes.

 

A lista de Ana Paula Tavares, poeta e professora universitária

  1. As vozes trazidas do fundo da oralidade. As mulheres nyaneka;
  2. Alda Lara (poeta angolana, 1930/62), poema “As belas meninas pardas”;
  3. Do Antigo Testamento: o Cântico do Cânticos;
  4. A descoberta dos russos (Guerra e Paz Crime e Castigo); Jorge Amado e a descoberta do Brasil (Os Subterrâneos da Liberdade, 1954); Cem anos de Solidão e O Veneno da Madrugada de Gabriel García Márquez; Virginia Wolf, William Faulkner;
  5. O Professor que nos ensinou a “arqueologia do saber” muito antes de ser apresentados a Foucault;
  6. Os poemas que domesticam a oralidade; Eugénio de Andrade, Anna Akhmatova, Edith Sodergran;
  7. O cinema: chorar e rir no escuro do cinema (À bout de soufflede Godard);
  8. Aimée Cesaire e Senghor;
  9. O Sol das Independências de Ahmadou Kourouma;
  10. Agua Viva e os poemas de Lorca; Mikis Theodorakis; Ngola Ritmos; Pierre Akendengué (Bach to Africa).

 

A lista de Catarina Castel-Branco, pintora

  1. Ter nascido e vivido numa quinta em Abrantes até aos oito anos, com avós maravilhosas e manas, num reino de fantasia;
  2. A Fada Oriana de Sophia: em criança acreditava que todos os objectos das casas, começando pelas bonecas, falavam;
  3. Ter tido uma mãe que nos incentivou às artes; fez um atelier, forrado a papel de cenário, e mangas de plástico, para podermos pintar nas paredes sem nos sujarmos muito. Ainda hoje continuo a escrever nas paredes: poesias, pensamentos e recados;
  4. Ter ido para a António Arroio em 1970, depois de ter odiado o Liceu Maria Amália e frequentado o Liceu Francês, onde havia turmas mistas;
  5. Ter visto em criança tanta Arte, tanto Museu, tanto Música; fui, obrigada pelo meu pai, ouvir ao Coliseu dos Recreios o Artur Rubinstein em 1974;
  6. Ter 18 anos no 25 de Abril. Pertencer à JEC - Juventude Estudantil Católica, e acreditar mesmo que íamos mudar o mundo. Frequentar a Capela do Rato com o Padre Alberto Neto. Conhecer as irmãs de Foucault e viver com elas um mês no bairro da lata da Curraleira, em 1976. Viver entre os pobres. Ter a experiência da exclusão social e da dureza da vida;
  7. Ter entrado em 1976 para Belas-Artes. Receber o Primeiro Prémio Nacional de Gravura atribuído pela Fundação Gulbenkian e pela Cooperativa Gravura das mãos do Dr. Azeredo Perdigão em 1986. Fazer uma pós-graduação em técnicas de impressão (gravura e serigrafia) na Holanda durante três anos com uma bolsa da Gulbenkian;
  8. A pintura de Pedro Chorão, da Vieira da Silva. A poesia de Antero de Quental (desenvolvi à volta da sua poética um ano de pintura);
  9. Comover-me muito com a pintura de Santa Catarina de Alexandria do Caravaggio em Madrid. Chegar a Veneza de comboio e pensar que eu própria era uma figura de um quadro de Canaletto integrada no movimento das gôndolas da cidade;
  10. Entrar no atelier da Vieira da Silva, tocar em todos os seus objectos, incluindo um pedaço de carvão, e expor as minhas “Tables sans Couple” no local mágico aonde a Vieira pintou.

 

A lista de Cláudio Torres, arqueólogo

  1. A Arqueologia decifra a história daqueles que nunca tiveram História;
  2. O mito platónico da Atlântida e os actuais movimentos migratórios;
  3. Dos dois lados do Estreito de Gibraltar. Mouros, Árabes e Berberes;
  4. O Humberto Delgado, o Amílcar Cabral e a guerra colonial;
  5. A Primavera de Praga e o fim da Cortina de Ferro;
  6. A casa mediterrânica e o papel da mulher;
  7. Mértola: a Cultura e a Ciência como desenvolvimento;
  8. O desempenho da escola no despovoamento do interior;
  9. O turismo de massas e o turismo cultural;
  10. O Património cultural na dignificação da vida rural.