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Anabela Mota Ribeiro

Dinis Machado (s/ futebol)

01.07.24

«Teve uma infância estranha, disse Austin. Em última análise, todas as infâncias o são, disse Mister Deluxe».

O que diz Molero, Dinis Machado

 

- Descobri o futebol na rua, a jogar à bola na rua. Descobri um universo espantoso: o do prazer de jogar futebol. A revelação é em miúdo pequeno. Com as bolas de trapo, e a roubar as meias à mãe; não era fácil comprar uma bola a sério, custava dinheiro, e os polícias vigiavam-nos nas esquinas. Era mais fácil fazer com trapos e meias.

 

- O Bairro Alto é muito sinuoso.

 

- Jogávamos às vezes no Largo do Camões, embora aí houvesse uma vastidão enorme para o olhar da polícia. Jogávamos nas ruas mais apertadas, onde havia poucos passantes. Quando comecei a ser mais crescido, entrei em equipas juvenis, ou do bairro ou da escola.

 

- O futebol jogado numa rua íngreme e estreita apela a um confronto físico. Circuncrito àquele espaço, àqueles corpos, àquela bola, e não tanto a tácticas de marcação.

 

- Não havia tácticas. Desenvolvia-se a habilidade natural nesses jogos de rua: um miúdo com habilidade natural conseguia levar a bola, fintar os outros.

 

[Dulce, a mulher de Dinis: A baliza era entre passeios.]

 

- A baliza era numa esquina da rua. A atracção do futebol para o miúdo era o ter a bola nos pés. O grande prazer do futebol é jogar. O lado lúdico do futebol é esse prazer de estar em contacto com a bola. Até se pode dizer que o miúdo que está a jogar futebol, enquanto não tem a bola, não é bem ele. Só é ele, encestado de paixão, na posse da bola. É ele, então, que define as regras do jogo: tem a bola.

 

- Isso é ter domínio.

 

- Pois. É sempre o domínio do homem sobre as coisas ou do homem sobre os outros homens. Nos miúdos é o ter a bola, poder driblar quem vier. Dizíamos, «Eh pá, vê lá se passas, que eu paguei o mesmo que tu pela bola de borracha». Não se gosta de estar à margem. No futebol profissional, tenho a impressão que este prazer básico desaparece. A exigência é tão grande, que o jogador não tem a alegria solta do miúdo.

 

- A responsabilidade impõe-se ao prazer. Responsabilidade equivale a crescer, a ser adulto. Contrasta com a noção de correr, livre, com a bola nos pés.

 

- Alguns dos melhores jogadores do mundo eram quase inocentes a jogar a bola. Quase não precisavam de usar os recursos estratégicos da equipa, porque sozinhos eram um jogo dentro do jogo. Maradona, Pelé, Eusébio, os Cinco Violinos do Sporting. Jogadores de uma qualidade rara, sobressaíam entre os outros. O futebol às vezes têm momentos chatíssimos!, 20 minutos em que não interessa na-da, na-da, 20 minutos e não há uma jogada decente, «Os gajos não chutam à baliza nem nada...». E de repente...

 

- A vida faz-se numa sucessão de repentes.

 

- São os picos da vaga. A coisa é lisa, mas de repente a lisura desaparece. O jogo torna-se fascinante por causa da alteração momentânea que um jogador promove: arranca e vai, como o touro vai para o toureiro.

 

«São inesgotáveis os recursos do acaso...»

 

- Mas afinal, o que é o futebol?

 

- Hum. Não deixarmos o outro marcar; e se não deixarmos o outro marcar, talvez ganhemos se marcarmos. É um jogo de probabilidades. Como dizia um ilustre filósofo ou político da nossa praça, e o Bobby Robson também, «O futebol não é uma questão de vida ou de morte: é mais do que isso!».

 

- A frase é do Bobby Robson?

 

- Ou ouviu-a a alguém; a frase parece de alguém com mais finesse... Mas está certo, está certo. Tem um lado imprevisível que não permite saber o que vai acontecer no minuto seguinte. O futebol nunca está feito. Está feito o programa dos Monty Python, está feito o «Dez Mandamentos», está feita a peça do Pinter; o programa do que se vai fazer está já completo. No futebol não. Está-se a ganhar por dois a zero, faltam cinco minutos, tem-se o jogo na mão, e perde-se por três a dois.

 

- É a força do acaso?

 

- O lado imprevisível é imenso. Esse lado falível, chamo-lhe mesmo mortal...

 

- Mortal porque falível?, porque está à mercê do destino?

 

- Mas não é só isso. Normalmente os melhores ganham...

 

«Zuca é aquele que queremos ser ou que julgamos que queremos ser».

«Toda essa curiosa nomenclatura, disse Mister DeLuxe, (...) tem que ver, suponho, com os mitos locais?»

 

- Eu e muita rapaziada do Bairro Alto fomos para o Sporting. Agora não é assim, mas antigamente o ciclismo era talvez mais popular, por causa dos relatos radiofónicos, que o próprio futebol. O Benfica tinha um ciclista que ganhava a Volta a Portugal, um ciclista cheio de força chamado José Maria Nicolau. Tinha eu para aí três anos, quatro anos, e ouvia falar: «José Maria Nicolau ganhou, com a camisola do Benfica, a Volta a Portugal em bicicleta». No ano seguinte, um gajo de Torres Vedras, que veio morar para o Bairro Alto, entrou no Lisboa Clube Rio de Janeiro, (o clube do Bairro Alto). Vestiu a camisola, foi à Volta e ganhou a Volta contra o José Maria Nicolau. O Sporting foi logo buscá-lo. A miudagem do Bairro Alto passou a ter atracção pelo Sporting por causa do Alfredo Trindade. É uma das razões.

 

«Molero diz aqui, explicou Austin, que sorriu ao passar os dedos pelo elo da cadeia, que tudo se conjuga, bate certo»

 

[Dulce - O pai dele e o irmão eram do Benfica, e o pai fez-lhe um assédio...]

 

- O meu pai queria que eu fosse do Benfica. Mas a minha malta de rua tinha já costela sportinguista. É uma questão de revolução sobre o que está ditado. E há o lado político. O Benfica teve sempre a tentação de domínio dos colonos, da massa popular; e nesse fermento crescia também a Oposição! E quem era a Oposição? O Sportinguista. Há aqui uma questão de ordem política, tem de se ligar tudo a tudo, ó Anabela. É que o Estado Novo tinha uma gajo amigo do Salazar, o Góis Mota, que combatia a ideia dos vermelhos, por causa da política. Nos jornais nunca aparecia o termo Vermelhos, aparecia sempre Encarnados.

 

- Insuflou o Sporting de força patriótica.

 

- O Sporting nunca foi tão popular como o Benfica. O Góis Mota fez um discurso na Assembleia do Sporting a dizer que, repara nisto, discurso político, «O Sporting é a primeira metade da bandeira de Portugal... E o Benfica respondeu: «O Benfica é a segunda metade, mas é a maior!»

Ahahahahhahhahahha

Então o Sporting, empurrado pelo Góis Mota e pelo Estado Novo... Porque era, ainda por cima, «de Portugal, Sporting Clube de Portugal»! Os gajos puxavam pelo Sporting, que era de Portugal, uno e indivisível, não era só de Lisboa, como o «Sport Lisboa e Benfica». O Sporting fez uma equipa extraordinária, os Cinco Violinos, a primeira grande equipa do futebol português. Eu tinha para aí 15 ou 17 anos.

 

«As flores nascem do estrume, diz Molero»

 

- Que explicação dá ao facto de os grandes jogadores serem da classe baixa?

 

- São os que jogam na rua e nas praias. Um miúdo pobre não tem as regras que tem um miúdo disciplinado da burguesia. Um miúdo pobre é um miúdo de sítios livres: baldios, praias, sítios desertos, que são as zonas de desenvolvimento do futebol.

 

- A necessidade aguça o engenho?

 

- Também. E liberdade natural. Vai para uma escola, um instituto, e tem regras; só tem meia hora para o futebol se quer praticar o futebol. Na classe média, começa a crescer e tem logo regras de convivência e de comportamento social. O futebol só explode em todo o esplendor com toda a liberdade: jogar a toda a hora, em qualquer terreno, em qualquer circunstância, e começa a haver aquele entendimento muito particular entre o miúdo e a bola.

 

- Quando falava do engenho, pensava mesmo no domínio sobre a bola.

 

- Pois. A bola deve ser nossa.

 

- E há o sentimento da vitória: somos bons se ganharmos.

 

- Mais do que em qualquer outro lado, o futebol não admite a derrota. Não se pode admitir jogar para perder. Isso já vem no leite materno: um gajo quer logo ganhar. Quer ser melhor, quer conseguir o objecto que o outro não tem, aquelas coisas assim. O miúdo vai amassando dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, esse espírito. O prazer do golo é outra característica do futebol, que não tem igual em nenhum outro espectáculo. Estás a ver um filme e pode ter picos, não é? Mas o pico do golo... Este pico de alegria para quem marca e de tristeza para quem sofre, não tem paralelo com nenhum outro. Há uma massa de gente que está à espera daquele golo, e há uma massa de gente que não. Dá-se um choque de paixões. O que é curioso no futebol é que dá para gregos e troianos. Dá para os finórios que lêem Borges e dá para a malta da rua. Ah, o jogo tem muito movimento, movimento. Tirando as partes gagas em que os gajos estão a estudar e passam a bola mal e tal, tem coisas lindas, passes lindos, pá.

 

- Um bailado.

 

- Mas a Margot Fonteyn, regra geral, não falha o movimento. O Eusébio pode ter azar e chutar por cima da trave. Não gosto muito de ballet... O futebol tem esse apuro físico, também; mas, além disso, é preciso meter a bola na baliza.

 

«Se você procurar bem na sua infância, Austin, há-de encontrar nela um gato sarnento que lhe roçou o lombo nas pernas cinquenta ou sessenta vezes, e isto, segundo Molero, marcou a sua vida. Se não encontrar um gato sarnento encontra outra coisa qualquer».

 

- Queria ser jogador de futebol?

 

- Queria, queria. Não vejo a minha infância sem o futebol. Foi o grande prazer da minha infância, o futebol. Como é que se pode passar uma infância, que a vida é uma chatice, se não houver uma bola, pá? O Fellini e o Sartre. O Sartre ainda fez boxe... Mas o Sartre e o Bergman não falavam de futebol, isso é que me surpreendia. Em Portugal já se jogava bastante futebol. Talvez pela relação com o mar, os miúdos jogarem nas praias, e entreterem-se os pescadores, até. Pode vir daí. Eu, a crescer, meti-me em grupos, fazíamos equipas, ou da escola ou do bairro; alugávamos as camisolas e os calções, alugávamos um campo, e jogávamos jogos em campos oficiais.

 

- Calçados?

 

- Jogávamos com todo o equipamento. Em miúdos, era descalços ou com sapatilhas. Eu rebentei sapatos, a minha mãe dava-me sapatos velhos, «Vais para a rua, calça aqueles, para não estragares os sapatos melhores». Até se joga melhor com sapatos velhos que com sapatos novos, muito melhor... E jogávamos futebol na areia, o futebol mais belo. Íamos para a Caparica.

 

- Iam como?

 

- De barco e de camionete. Íamos de barco do Cais do Sodré, e do outro lado de camionete para a Caparica. Sempre metidos numas enormes bichas, pá!, milhares de pessoas que iam para a praia e nós íamos para jogar à bola. Jogávamos o dia todo!, o dia todo! Escolhíamos, de preferência, a areia um pouco molhada, dura; quando a maré baixa fica aquela capa húmida, e segura-se melhor a bola. Na areia solta é muito cansativo, as pernas e o coração, puxa muito.

 

«Coração, bússola doida...»

 

[Dulce mostra a única foto onde Dinis aparece integrado numa equipa]

 

- Qual é que eu sou?, é preciso dizer que tinha cabelo, era um miúdo bem giro, hã... Dulce dás-me um bocadinho de café, se fazes favor?

 

- Quando queria ser jogador, era porquê? Pensava no dinheiro?

 

- Nunca na minha vida pensei no dinheiro. A certa altura preocupamo-nos com o dinheiro da vida, as contas aparecem. Mas no futebol, nem ao de leve. Até porque desconfiava que não seria tão bom ser jogador de um clube como jogar à bola na praia ou na rua, os treinadores e tal, a ditadura do balneário. É a disciplina, lá está, tira o prazer da anarquia do futebol. E havia as equipas sarrafeiras, as equipas que davam muito no osso.

 

«Ó camone, porque é que não vais jogar à porrada para as tuas streets?»

 

- No futebol mais popular, havia sempre pancadaria nas bancadas.

 

- Jogo de bairro: «Eh pá, esses gajos são uns sarrafeiros, são os gajos de baixar o pau..». Eu era o gajo que metia os golos, era avançado centro. Havia esse ódio aos gajos que jogavam bem...

 

- Esse ódio, é inveja, é despeito?

 

- Tem sempre que ver com inveja: o outro tem qualquer coisa que nós não temos e gostaríamos de ter. Se é uma coisa que não gostaríamos de ter, não tem importância, mas se gostaríamos e não temos...

 

«Regista tudo e vai-te embora, a tua mão há-de escrever depois, maquinalmente, o texto premonitório que deixarás para a posteridade, o texto será um monólogo do guarda da última fronteira»

 

- Quando é que começou a trabalhar como jornalista desportivo?

 

- Foi para aí com 17 anos.

 

- Foi a sua profissão de base.

 

- Foi, foi, 20 anos. O emprego. Fiz um artigo teórico sobre o futebol. O Fernando Ferreira diz ao meu pai «O seu rapaz escreve bem, mas isto é o Record, um jornal popular; o artigo vai publicar-se, mas ele que não mande mais artigos destes». O Record era um jornal de malta que quase não sabia ler.

 

- Como é que se chamava o artigo?

 

- Já tinha um bocado de literatura. «Ó Dinis, você quer fazer a segunda divisão para nós? Você é novo, depois vai à primeira...». Durante dois ou três anos fiz segunda divisão: o Chelas, o Sacavenense, o Arroios, esses sítios.

 

- E as prosas?

 

- A segunda divisão não tinha prosa; tinha as equipas, os golos, e de vez em quando uma frase de um jogador. A primeira é que tinha mais desenvolvimento. Depois fui para o Diário Ilustrado. A malta da Bola ia ao restaurante do meu pai [Farta Brutos], estive quase a entrar na Bola; não entrei porque o Diário Ilustrado me acenou. Também estive no Diário de Lisboa. Era tudo muito pequeno. É quase uma história sem história, andar nos jornais desportivos, a fazer Voltas a Portugal em bicicleta, a fazer jogos de futebol.

 

«Isso da palavra, se estou a perceber, disse Mister DeLuxe...»

 

- A malta inventa cada coisa... Ia ao restaurante do meu pai um engenheiro, um gajo muito porreiro, fanático do F.C.Porto. Uma vez contou:

- «Aqui há dias, estava a chover, mas fui ver o jogo a Guimarães. E, a certa altura, como é meu timbre, «Porto, vamos embora, Porto», animei o clube sozinho. E há um gajo que diz assim:

- Ó meu amigo, e se você se calasse!

- Calar-me? Não tem nada a ver com isso!

- Ó amigo, já lhe disse para você se calar. Porque se você não se cala, sabe o que é que eu lhe faço?

O engenheiro tinha um chapéu na mão.

- Sabe o que faço? Tiro-lhe o chapéu da mão, enfio-lhe no cu, e depois abro-o!»

Hiiiiii. O requinte é que é do caraças! «E depois abro-o».

 

- No restaurante do seu pai, as conversas eram sobre futebol?

 

- E sobre política. Política da surda. Gajos numa mesa a fazer o reviralho, gajos na outra da extrema direita. Futebol é que era mais aberto. O meu pai era árbitro, os gajos da Bola iam lá e os jogadores também. Mas o futebol em conversa... As conversas são um bocado chochas, dizem-se vulgaridades. O génio da bola? Nem sabe explicar o génio que tem.

 

- Todavia, poucos temas serão tão exaltantes como o futebol. Talvez a religião.

 

- O futebol é uma religião. Toma o lugar da religião. O futebol adquire umas proporções transfiguradores porque a religião já não responde. «Deus já não existe». Ou então, como diz a malta popular, «Isso de Deus é uma aldrabice». Eles não leram Nitzsche, mas perceberam por si próprios, perceberam as igrejas e o Vaticano e tal. O futebol é uma forma de auto-superação. Pertencer a um clube: lado religioso. Não se discute a camisola do clube: aquilo é sagrado. O nosso clube tem sempre razão: o lado fanático e cego dos fundamentalismos. O futebol é isso.

 

«O que poderá levar um homem a destravar uma cadeira de rodas?, perguntou Mister DeLuxe. A monotonia, a solidão, os sonhos espremidos até ao osso, o falhado desejo louco de correr até o coração saltar pela boca»

 

- O meu irmão morreu em situação dramática, auto-abandonado: deixou de tomar os remédios, deixou de ir ao hospital, não abria a porta a ninguém. Ao fim de 15 dias, o merceeiro telefonou-me e fui lá. Chegou ao Hospital e morreu. E diz que o meu irmão perguntou ao Mário Correia, que estava ao pé dele: «Qual foi o resultado?». Tinha sido o Benfica-Porto. Perguntou o resultado e logo a seguir morreu. ‘Tás a ver isto? Dá bem ideia da ocupação mental.

 

- É auto-superação: projecta o melhor e o pior de si naquele objecto.

 

- O futebol vai ser cada vez mais forte até se esvaziar como um balão. É um bocado como o sovietismo. Não tem nada lá dentro. Há uma coisa que é verdadeira: é o prazer do miúdo com aquilo que descobre. Não é repetível esse prazer livre do pássaro da infância. Acho que era o Chaplin que dizia... Um gajo perde a inocência porque quer saber mais, e depois passa o resto do tempo a tentar recuperá-la. Quando a bola vem no ar, vem no ar, e a gente consegue acertar-lhe com o peito do pé... É uma coisa extraordinária... Como é possível, uma bola vir no ar, um gajo mete-lhe o pé, pá!, e vai a bola para li, um gajo adivinha o sítio... Se calhar não tive na vida repetição de coisa que se assemelhasse a isso. É muito fibroso, muito fibroso... O futebol permite a gajos de 30 anos uma alegria de menino quando marcam o golo.

 

- É a recuperação de um tempo perdido?

 

- É isso.

 

«Ó país de cristal, que longe eu estou, dava um ano de ordenado por um momento da minha inocência perdida». (Molero, a páginas zero)

 

 

Publicado originalmente na revista Egoísta em 2004

Dinis Machado morreu em 2008