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Anabela Mota Ribeiro

É preciso estar atento e forte

15.03.20
Léxico destes dias: empatia, disciplina, obediência, confiança. E coragem, força, a calma possível. Precisamos de nos proteger e de proteger os outros — isto está só a começar. Precisamos de cumprir as medidas que nos são prescritas, compreender a gravidade deste tempo. Precisamos de confiar na informação oficial, na ciência, entregarmo-nos a ela. Precisamos de dominar a ansiedade, o medo, manter rotinas, criar "uma certa normalidade", como me dizia uma amiga no "limbo esquisito" de uma viuvez súbita.
Um dia é uma semana. Há uma semana, já com medo, eu conseguia pensar naqueles versos de Caetano: "atenção, tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso". Mas agora só consigo fixar-me na outra parte da canção: "é preciso estar atento e forte". É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE.
A seguir virá a recessão. A seguir estaremos num cenário pós uma coisa que ainda não sabemos o que é. Não ficaremos os mesmos. A Terra treme, a nossa Vida muda de lugar.
Somos todos responsáveis uns pelos outros. E o isolamento não nos pode tornar estanques, insensíveis, quebrar o vínculo: comunicar virtualmente, cuidar de nós mesmos e de quem está ao lado é o bem mais precioso, a safa possível. A solidariedade parece uma palavra impossível ou perigosa, porque nos põe em contacto. Mas o seu significado é outro, e o perigo vem do abandono, da indiferença, do virar a cara. Inventemos maneiras de ser solidários, partilhar recursos, pensar no concreto (terão dinheiro para ir ao supermercado?, para os mínimos da sobrevivência?). Todos vamos precisar de ajuda e de prestar ajuda.
Confio cada vez mais na ciência e admiro cada vez mais os médicos e profissionais de saúde. Como viverão cada um destes dias de incêndio? Que heróis.
Comprei comida, recolhi a casa, estou bem. Espero ser capaz, não quebrar — mas sei lá, sabemos lá?
Força, coragem. Empatia.