Maria de Lourdes Modesto (a pretexto de um livro de queijos)
A conversa correu frente ao jardim. Fez-me acreditar que estava a ler um livro antigo. Levou-me até um tempo em que uma mulher separada no Alentejo profundo era estigmatizada. Levou-me até às verdades inconfessadas da natureza feminina – como quando diz que no fundo sempre soube que ia ser oprimida por um homem. Não teve uma relação fácil com a mãe, tem uma personalidade indómita. Tudo contado num português correctíssimo, com uma cadência de um livro de Camilo.
Os livros que lançou foram outros. Uma parte da história do Portugal recente está contida na sua Cozinha Tradicional Portuguesa. Um volume que reconstitui quem somos a partir do que comemos. Maria de Lourdes Modesto já era uma cara conhecida do grande público quando o lançou. Cozinhava na televisão. Mas talvez não se soubesse nessa altura, nem se saiba agora, quem ela verdadeiramente é.
Pelos anos fora, lançou outros livros. O mais recente está a ser lançado e é sobre queijos. De cabra, ovelha, vaca, mistura, frescos, curados, sumptuosos, cosmopolitas, discretos, rurais.
Conversámos e tomámos café. Na véspera ela tinha feito “areias”, um pequeno bolo que deve desfazer-se na boca; como se fosse areia. Eu já conhecia as areias da Maria de Lourdes: a primeira vez que a visitei, ela presenteou-me com areias, justamente! Estendeu-mas como quem estende um presente. Feito com cuidado, com emoção. Era um bom prenúncio…
Ainda tem um grande prazer em cozinhar?
Espero viver mais uns anos e cozinhar apenas por prazer – o que não aconteceu até agora. Como toda a minha vida profissional anda à volta da comida, mesmo indo com gosto para a cozinha, não consigo separar a profissional da pessoa que quer fazer uma coisa bem feita. Estou sempre atenta à temperatura do forno, a ver como é que a gordura se comporta...
Vamos ao princípio: as pessoas têm a ideia que a Maria de Lourdes ensinou o país a cozinhar. Mas este talento não foi uma vocação evidente para si…
Não fui um prodígio de saber estrelar um ovo com quatro ou cinco anos! Relativamente à cozinha, fui conquistada. Toda a minha vida ouvi dizer que tinha de trabalhar, tinha de estudar… A minha mãe encheu-nos a cabeça, tanto a mim como à minha irmã! Nunca nos disse: “Vocês têm de ser boas donas de casa, saber passar uma camisa a ferro, pregar os botões dos punhos dos maridos”. Os meus pais eram divorciados e fomos criadas pela minha mãe. Que devia ter muito má opinião dos homens. Tenho a impressão que nos transmitiu isso…
Era uma mulher de uma enorme coragem, para assumir um divórcio no Alentejo profundo de há 60 anos.
Separação, separação, não se falava em divórcio. Ficar com duas filhas e poucos meios… Havia uma certeza que a minha mãe tinha: não depender de um homem. Ter condições para, quando o casamento não resulta, quando há razões muito fortes (e havia), sobreviver e educar os filhos.
A sua mãe ainda é viva?
Infelizmente não. Devo dizer que o nosso relacionamento não era o melhor. Às vezes procuro momentos de afectividade por parte da minha mãe e tenho alguma dificuldade em encontrar. Por causa desta pressão. Para ser correcta, para comer bem à mesa. Lembro-me sempre das obrigações, raramente me lembro de momentos de ternura. E receio ter sido uma mãe assim.
Podia ter sido o contrário, num obstinado movimento de recusa…
Mas não, fui como a minha mãe. Fui de tal modo obrigada a, para obter as coisas, ter de as adquirir, ter de fazer por elas, que não fui capaz de me abstrair disso e achar normal que a juventude de hoje tenha tudo de mão beijada. Eu, com dez anos, fazia luvas com duas agulhas, o que era uma habilidade, e depois vendia-as. Hoje lamento uma coisa que fiz à minha filha: vendi um Mini que tinha, quando ela já conduzia. Achei que devia ganhar para o seu carro. E hoje tenho muita pena de não ter sido capaz de dizer: “Toma este carro”.
A sua mãe sentiu um especial orgulho em si e na sua carreira?
Não tenho a certeza… É capaz. Vou contar-lhe uma história: o outro dia o Dr. António Barreto quis ter uma conversa comigo por causa de um trabalho sobre a televisão e ficou numa enorme estranheza por eu não ter nada guardado do que se disse a meu respeito. Penso que isso também vem de trás: ter a obrigação de fazer, ser normal fazer, ser sobretudo normal fazer bem. Fui criada desta maneira.
Mas estava a dizer-me há pouco que não consegue desfazer-se dos objectos. Não consegue viver sem aquilo que também conta a sua história, mas desprende-se facilmente daquilo que celebra o seu sucesso.
Não tenho muita maneira de medir o meu sucesso. Tenho tido uma certa permanência mediática; salvo raras excepções, as pessoas estão interessadas em pôr-me lá, mas a dizer muito pouco de mim, daquilo que na realidade eu sou. Sirvo para encher um quarto de página, duas páginas… À maior parte das coisas, não atribuo especial valor. Como cá em casa não há o culto da mulher vedeta – o meu marido olha para mim como todos os maridos olham para as mulheres –, penso sempre que é passageiro. Apesar de já estar com 77 anos… Dá-me a impressão que passa, passa…
Tudo isto era a propósito do eventual orgulho da sua mãe no seu percurso. Mesmo na terra! Naquele tempo, não era toda a gente que aparecia na televisão…
A minha mãe era muito contida quanto aos seus sentimentos. E quando falávamos, eu dizia-lhe sempre que estar na televisão era uma coisa precária. Éramos contratados programa a programa. Só no fim da minha passagem pela televisão é que me lembro de assinar contratos para 12 ou 13 programas. Há outra coisa: tirei um pequeno curso de dois anos de educadora familiar. E era professora. A minha mãe achava isso bonito. Quando passei a trabalhar numa multi-nacional, a minha mãe achou que eu tinha… descido. Uma professora era uma profissão de prestígio. O facto de eu aparecer na televisão era para ela objecto de tensão. Tanto quanto para mim. Nunca apareci na televisão descontraidamente.
Porquê? As pessoas têm a imagem contrária. E o seu famoso começo, sublinhado pelo Mário Castrim, em que prova da colher e comenta: “Hum, está uma delícia”, revela uma pessoa à vontade.
A imagem não era a de uma mulher insegura, mas é capaz de não corresponder à realidade…
Esse é um problema de auto-estima… Vem de trás, de não se sentir suficientemente amada?
Tenho sempre dúvidas. Em relação à minha filha, aos meus netos. O meu marido tem sido extraordinário, mas até a ele lhe digo: “Não sei se gostas de mim ou se gostas da tua mulher”.
Explique-me melhor essa dualidade…
Fico muito contente quando as pessoas são capazes de manifestar sentimentos bons em relação a mim e eu sinto que isso é verdade. Tenho sempre a preocupação de ver se isso é verdade ou adulação. Conto-lhe uma história: fui a uma loja comprar uma carteira. Era uma carteira cara, perdi a cabeça. E quando estava a regularizar o pagamento, a empregada disse: “É tão bonita…” Eu achei que ela estava a falar da carteira. “A senhora é muito bonita”. Eu, bonita? Nunca ninguém me chamou bonita. «Não se esforce mais, que já lhe comprei a carteira». E ela respondeu: «É a mesma coisa com a minha avó: nunca acredita!». Foi nessa altura que percebi que já não era mais uma rapariga. Isto foi há dois anos. Até aí, sentia sempre que era uma rapariga; passei a considerar-me a senhora da terceira idade que sou.
Foi difícil para si envelhecer?
Nunca lhe direi como outras mulheres que gosto muito das rugas que tenho e dos papos! Não, eu tirava-os de boa vontade se isso não me exigisse uma operação. Mas não é nada mau estar com 77 anos…
A relação com a sua imagem nunca foi pacífica. A sua beleza nunca foi canónica, quer enquanto professora do Liceu Francês, quer nos tempos da televisão. Fragilizou-a, porque não acreditava em si?
Nunca gostei da minha cara. Acontece que quando vejo agora fotografias dos meus primeiros tempos de televisão, penso: “Mas que parva que fui, afinal até era gira!”. Em Portugal nunca tive muito sucesso junto dos rapazes, mas quando chegava a França (onde passava pelo menos dois meses por ano, por causa do Liceu Francês), diziam-me sempre: «Você é a rapariga do ano que vem». Era muito magra e diferente da rapariga desenxovalhada, que se usava na altura.
Não se sentir poderosa fisicamente fê-la concentrar-se mais no que fazia bem?
Também me concentrava a tentar ser mais bonita… Mesmo hoje, continuo a maquilhar-me, arranjar-me, tenho cuidado com a minha aparência.
Façamos o filme da sua vida: viveu no Alentejo até aos 15 anos, e com essa idade veio sozinha para Lisboa estudar.
Vim para um lar da Mocidade Portuguesa. Era uma coisa de qualidade e baixo preço, e estive aí os dois anos em que tirei o curso de Professora de Educação Familiar.
Aprendia exactamente o quê? Lavores? Como educar os filhos?
Não, tinha muito a ver com a educação. Gostei muito de revista e de ir ao Parque Mayer, mas no meu curso íamos ao São Carlos. Isto dá-lhe uma ideia de como as coisas se passavam? Ter maneiras à mesa, ter as gavetas arrumadas. Culinária seria uma das disciplinas. Trabalhos manuais; fazíamos berços para bebés, coisas para o Dia da Mãe, roupas muito bonitas. Havia também aulas de literatura portuguesa. Não fazer má língua.
Não fazer má língua?!
Parecia mal. Tudo isso contava para a avaliação global da personalidade. Agora, até gosto muito de fazer um bocadinho de má língua!! [riso]. Era bom: havia pessoas que não tinham acesso a certos formalismos, necessários na vida, e que os adquiriam através dessas aulas. Aquela preparação era para transmitir. Éramos obrigadas, aliás, a exercer três anos.
Há pouco repetia uma coisa que diz ao seu marido: “Não sei se gostas de mim, se gostas da tua mulher”. Nesses anos aprendeu a ser uma mulher ideal!
Não quer dizer que aplicasse. Se o meu marido casou comigo pensando que eu era uma fada do lar, estava bem enganado. Eu tinha defeitos suficientemente resistentes à aprendizagem!!
Tem uma alma indómita! Onde se revela essa natureza? No seu gosto pela boémia?
Era namoradeira. Gostava muito de dançar. Um bocadinho irreverente. Havia um confronto em relação à minha mãe. A minha irmã aceitava piamente, e eu discutia, queria saber o porquê. Fui sempre um pouco rebelde, e continuo a ser! Durante o curso, não – sabia que ia fora. Quer dizer…, rebelava-me sem perder o controlo. Essa é uma das características da minha maneira de ser: nestes 77 anos de vida lembro-me de ter perdido o controlo umas três vezes. Mas perdi porque quis. Não se pode dizer que tenha perdido completamente. Quis mostrar que era capaz de perder o controlo. Lembro-me de uma vez me ter zangado muito cá em casa, ter pegado numa pilha de pratos e ter partido os pratos! Para se ouvir! Para as pessoas verem que estava mesmo zangada. E deu resultado. A seguir, apanhei os pratos que estavam soltos. Mas depois nunca mais parti os pratos.
O que isso quer dizer é que perder-se, abandonar-se à zanga, à fúria, é um pouco perder o pé… E não se permite.
Em todos os aspectos, até no afectivo, nunca perdi o controlo. Não sei o que é essa coisa do “amar perdidamente”. De ser capaz de me atirar da ponte por amor.
Lamenta não ter sido arrebatada por isso? Ou não ter consentida que isso acontecesse…
Desde que me conheço que vivo apaixonada. Mas o facto de me apaixonar e acabar, foi determinante para a minha sequência amorosa. A minha irmã só teve um namorado, eu nem sei quantos tive! Mas nunca fui mais longe do que aquilo que achava que era o limite. Sou extraordinariamente orgulhosa. Ir ao descalabro com alguém, teria sido muito mau para mim. Evitei sempre situações de descalabro moral.
A sua mãe amou perdidamente o seu pai?
Penso que sim. A minha mãe separou-se do meu pai com 26 anos, não voltou a casar e nunca voltou a gostar de mais ninguém. E quando o meu pai morreu (eu tinha 18 anos), ela disse-me: “Tive sempre esperança”… Embora parecesse muito fria.
Parece que não quis, como a sua mãe, amar perdidamente e depois ficar no perigo, na tragédia de ser abandonada…
O meu pai era pessoa de quem não se falava. Conheci-o até aos meus quatro anos.
Teve vontade de falar com ele?
Tive, e uma vez tentei. Como achava que tinha razões de queixa da minha mãe, fiz um telefonema ao meu pai. Com muito maus resultados. E não voltei a tentar.
Quando é que se resolveu dentro de si essa zanga em relação aos homens, alimentada pela sua mãe e pela imagem do seu pai?
Não só. Nós somos de Beja e mudámo-nos para Évora. A minha mãe era uma mulher separada com duas filhas – um estigma enorme. Eu dizia que os meus pais eram casados e por igreja! Em Évora, nos arcos e nas esplanadas, sentavam-se latifundiários a ver passar as mulheres, a fazer comentários, a terem uma atitude opressiva. Digamos que os homens me metiam medo.
Medo? Como assim?
Quando tive uma depressão muito grande, quando saí da televisão, o psiquiatra dizia-me que eu tinha medo dos homens. E agora quando vejo na televisão estes casos dos homens que degolam as mulheres, digo que quem tinha razão era eu: há poucos bons! Mas sempre pensei ter como companheiro um homem. Embora o meu universo fosse feminino, nunca tive tendências lésbicas nem nada disso.
Não seria um homem qualquer…
Não. Mas eu sabia que ia ser subjugada. E penso que, por melhores que eles sejam, são sempre opressores. Até na voz deles sinto a opressão!
Mas depois a mulher não é dominadora por uma outra via?
Sim…, tento fazer o meu jogo…, tenho os meus truques.
O que é que procurava num homem? O que é gostou no seu marido?
Conheci o meu marido na televisão numa altura em que andavam bastantes à minha volta. O meu marido não é nem bonito nem rico e não acabou o curso de medicina – não se previa um grande futuro. Mas eu dizia que queria casar com um homem bem educado. Havia um restaurante onde almoçávamos e havia um sujeito que, houvesse o que houvesse, comia muito bem à mesa. E isso impressionou-me. Outra coisa que me levou a aproximar-me: verifiquei que ele tinha um enormíssimo sentido de humor. Não falava quase nada, mas quando dizia, dizia a frase derradeira. Achava muita graça, e continuo a achar.
Foi, então, a senhora que se aproximou dele.
Ah, sim, que ele não estava nada interessado na rapariga dos cozinhados.
Era apenas a “rapariga dos cozinhados”?
Na televisão talvez fosse. Quando ia a França, e se o meu parceiro de dança me perguntava o que é que eu fazia, respondia, muito ridiculamente: “je suis experte culinaire”! [risos] Ohh lala. Eu não sabia bem o que dizer como profissão. Tanto digo que escrevo livros de cozinha… Talvez tenha um certo complexo. O trabalho da cozinha, não sendo só manual, é muito desvalorizado. Mas ninguém morreu por saber cozinhar, as pessoas morrem é por não terem que comer.
Mas agora a cozinha, os restaurantes, as mercearias finas passaram a estar na moda.
Isso é porque pessoas cultas se dedicaram à cozinha. No passado, ia-se para cozinheiro, quando se vinha da província, para se ter um sítio para dormir e comer. Começavam por carregar carvão.
Na sua casa, o universo feminino e o masculino estão bem delimitados? Aquilo que é o seu espaço e atribuições, e aquelas que são do seu marido.
Sim, sim. Vi na televisão a Isabel Stilwell dizer que quando o botão da camisa do marido não estava lá, ela sentia uma certa culpa. Isto foi o que me ficou do programa. E responde à sua pergunta… Quando o meu marido pergunta: «O que é que um homem vai comer?», e eu não sei, porque é a minha empregada que trata disso, sinto uma certa culpa. Nunca fui capaz de responder: «Sei lá, vai lá tu ver».
Apesar de todas as mudanças comportamentais, que são gigantescas, persistir uma espécie de culpa primordial nas mulheres que não tratam dos seus homens…
Penso que isso acontece às mulheres que são verdadeiramente femininas.
Já cozinhou para a sua filha como quem oferece um presente a alguém?
Sim. A minha filha tem a sua família, e vêm sempre jantar comigo ao sábado; pergunto na sexta o que é que gostariam de comer. Às vezes faço uma surpresa. Fazer um prato por amor? De uma maneira geral, há sempre emoção, até num simples hamburger. Tenho o cuidado de fazer bem feito. É para ele. Vou fazer ao gosto dele.
E já aconteceu estar zangada, numa disputa doméstica, e o cozinhado não sair bem? O cozinhado a exprimir essa raiva…
Não tenho lembrança de uma situação dessas. Seria engraçado… Tenho memória, sim, de deixar queimar. De me passar e deixar queimar. Ainda não houve nenhum que se tenha revoltado!
Fez algum cozinhado especial para a sua mãe de que ela tivesse gostado?
Não. Talvez por estarmos longe. Lembro-me mais daquilo que ela fez para mim. Quando eu estava no Lar, aqui em São João do Estoril, nos meus anos, mandou-me um bolo de que eu gostava muito: bolo de mel e azeite do Alentejo. E mandou bolinhos pequenos. Quando cheguei das aulas as minhas colegas tinham-me comido tudo. Sei que ela fez aquilo com muito amor e não fui capaz de lhe dizer que isto tinha acontecido… Mas lembro-me, como se estivesse a ver neste momento, da maneira como ela punha as mãos a cozinhar. E da maneira como ela pesava com as mãos – praticamente não precisava de balança. Eu não tenho essa capacidade. Havia quem dissesse que eu tinha uns gestos bonitos na televisão. A minha mãe tinha uns gestos seguramente diferentes dos meus. Eram sempre uma espécie de beliscão – era como ela mexia nos alimentos.
Fale-me da sua relação com o pão, que considera um alimento sacralizado. Disse-me que dá um beijinho no pão antes de o deitar fora… Um gesto muito antigo, que já quase não se faz.
Mantenho essa relação com o pão. Não sei se foi por causa das dietas, passei a comer menos pão. Mas como-o todos, todos os dias. Faz-me pena o estado a que o pão chegou… Há uma grande variedade, mas não qualidade.
Continua a dizer que se tivesse que escolher a última refeição, seria pão alentejano?
Pão Alentejano com queijo. Adoro queijo. É um alimento tão versátil…
Publicado originalmente na Revista Selecções do Reader’s Digest em 2007