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Anabela Mota Ribeiro

Um Filme Falado - Oliveira e a História do Cinema

06.03.25

A vida de Manoel de Oliveira atravessou um século e atravessou a história do cinema.

No final dos anos 20, viu repetidas vezes Aurora (que muitos consideram a mais bela história de amor vivida no grande ecrã), decompôs cena a cena, interessado na eloquência visual do filme de Murnau e pelo modus operandi do realizador. Dois anos depois, faria Douro, Faina Fluvial no qual podemos reconhecer o fascínio pela potência da imagem (era o tempo do mudo), ainda que num género documental que o distancia do registo ficcional de Murnau, e tendo como fulcro o trabalho, e não uma relação amorosa.

Se a história do cinema é indissociável da prática de Oliveira – isto é, se ela reflete, influencia e enforma um fazer plural –, nem por isso a linguagem dos seus filmes é síncrona com a produção fílmica mundial e com os grandes movimentos que a foram orientando. Oliveira foi sempre um autor singular, com um discurso próprio, não raro dessintonizado do que parecia ser um discurso e uma tendência coletiva. Veja-se o caso espantoso de Os Canibais, o seu musical, realizado em 1988, quando há muito o género tinha caído em desuso e parecia anacrónico.

Este ano, no ciclo Um Filme Falado, o foco é posto em grandes filmes que identificam a história do cinema: Mudo, Expressionismo, Melodrama, Neorrealismo, Comédia, Grandes Estúdios, Clássico, Musical e Documentário. Como sempre, dois convidados, de diferentes áreas, comentam o filme e permitem-nos um olhar diverso sobre o filme exibido e um questionamento sobre os limites de cada género.

Prosseguimos a exibição da obra de grandes cineastas, em cuja genealogia Oliveira se inscreve, permitindo, em muitos casos, a descoberta e a possibilidade de ver grandes clássicos em grande ecrã. O último filme a ser mostrado, além de Douro, Faina Fluvial, é Porto da Minha Infância, de 2001. Separados por 70 anos, propiciam uma reflexão sobre a maneira como o próprio Oliveira encarou o género documentário.

AURORA.jpg

UM FILME FALADO: OLIVEIRA E A HISTÓRIA DO CINEMA

Mudo 

8 Março

Murnau, Aurora

José Gardeazabal, escritor

Nuno M. Cardoso, encenador

 

Expressionismo

5 Abril

Sternberg, O Anjo Azul

Teresa Villaverde, cineasta

Rui Sanches, escultor

 

Melodrama

3 Maio

Douglas Sirk, All that Heaven Allows

Pedro Duarte, Prof. Filosofia PUC-Rio

Vítor Constâncio, economista

 

Neo Realismo

14 Junho

De Sica, Umberto D

André Cepeda, fotógrafo

Cristina Fernandes, investigadora de cinema

 

Comédia

5 Julho

Marx Bros, Um dia nas corridas

Maria Inês Marques, dramaturgista

Richard Zimler, escritor

 

Grandes Estúdios

6 Setembro

Mankiewicz, The Ghost and Mrs. Muir 

Joana Bértholo, escritora

Marinela Freitas, prof. Literatura

 

Clássico

4 Outubro

Jacques Becker, Casque d’or

Filipa Leal, poeta

Leonor Silveira, actriz

 

Musical

8 Novembro

Gene Kelly e Stanley Donen, Singing in the Rain

Daniel Moreira, compositor e musicólogo

João Luís Barreto Guimarães, poeta

 

Documentário

6 Dezembro

Manoel de Oliveira, Douro Faina Fluvial +Porto da minha Infância

Rita Benis, investigadora de cinema

Susana de Sousa Dias, cineasta