Um Filme Falado - Oliveira e a História do Cinema
A vida de Manoel de Oliveira atravessou um século e atravessou a história do cinema.
No final dos anos 20, viu repetidas vezes Aurora (que muitos consideram a mais bela história de amor vivida no grande ecrã), decompôs cena a cena, interessado na eloquência visual do filme de Murnau e pelo modus operandi do realizador. Dois anos depois, faria Douro, Faina Fluvial no qual podemos reconhecer o fascínio pela potência da imagem (era o tempo do mudo), ainda que num género documental que o distancia do registo ficcional de Murnau, e tendo como fulcro o trabalho, e não uma relação amorosa.
Se a história do cinema é indissociável da prática de Oliveira – isto é, se ela reflete, influencia e enforma um fazer plural –, nem por isso a linguagem dos seus filmes é síncrona com a produção fílmica mundial e com os grandes movimentos que a foram orientando. Oliveira foi sempre um autor singular, com um discurso próprio, não raro dessintonizado do que parecia ser um discurso e uma tendência coletiva. Veja-se o caso espantoso de Os Canibais, o seu musical, realizado em 1988, quando há muito o género tinha caído em desuso e parecia anacrónico.
Este ano, no ciclo Um Filme Falado, o foco é posto em grandes filmes que identificam a história do cinema: Mudo, Expressionismo, Melodrama, Neorrealismo, Comédia, Grandes Estúdios, Clássico, Musical e Documentário. Como sempre, dois convidados, de diferentes áreas, comentam o filme e permitem-nos um olhar diverso sobre o filme exibido e um questionamento sobre os limites de cada género.
Prosseguimos a exibição da obra de grandes cineastas, em cuja genealogia Oliveira se inscreve, permitindo, em muitos casos, a descoberta e a possibilidade de ver grandes clássicos em grande ecrã. O último filme a ser mostrado, além de Douro, Faina Fluvial, é Porto da Minha Infância, de 2001. Separados por 70 anos, propiciam uma reflexão sobre a maneira como o próprio Oliveira encarou o género documentário.
UM FILME FALADO: OLIVEIRA E A HISTÓRIA DO CINEMA
Mudo
8 Março
Murnau, Aurora
José Gardeazabal, escritor
Nuno M. Cardoso, encenador
Expressionismo
5 Abril
Sternberg, O Anjo Azul
Teresa Villaverde, cineasta
Rui Sanches, escultor
Melodrama
3 Maio
Douglas Sirk, All that Heaven Allows
Pedro Duarte, Prof. Filosofia PUC-Rio
Vítor Constâncio, economista
Neo Realismo
14 Junho
De Sica, Umberto D
André Cepeda, fotógrafo
Cristina Fernandes, investigadora de cinema
Comédia
5 Julho
Marx Bros, Um dia nas corridas
Maria Inês Marques, dramaturgista
Richard Zimler, escritor
Grandes Estúdios
6 Setembro
Mankiewicz, The Ghost and Mrs. Muir
Joana Bértholo, escritora
Marinela Freitas, prof. Literatura
Clássico
4 Outubro
Jacques Becker, Casque d’or
Filipa Leal, poeta
Leonor Silveira, actriz
Musical
8 Novembro
Gene Kelly e Stanley Donen, Singing in the Rain
Daniel Moreira, compositor e musicólogo
João Luís Barreto Guimarães, poeta
Documentário
6 Dezembro
Manoel de Oliveira, Douro Faina Fluvial +Porto da minha Infância
Rita Benis, investigadora de cinema
Susana de Sousa Dias, cineasta